"Don Quixote" considerado o melhor livro do mundo

A obra de Cervantes - um romance satírico publicado, em duas partes, em 1605 e 1615, e que conta a história de um velho e lunático cavaleiro que vagueia na companhia do seu escudeiro Sancho Pança pela região de La Mancha, no centro de Espanha, realizando estouvados actos de cavalheirismo destinados a provar o seu amor por Dulcineia, que ele nunca conheceu - encabeça a lista com uma vantagem confortável sobre "Em Busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust, eclipsando tanto as peças de William Shakespeare como inúmeras outras obras-primas da Humanidade, de Homero a Tolstoi.

"Se há alguma peça que deva ser lida antes de morrer, essa é 'Don Quixote'", disse o escritor de origem nigeriana Ben Okri, vencedor do prémio Booker e autor do prefácio de uma nova edição norueguesa do livro de Cervantes. "Ela contém a história mais bela e elaborada, apesar da sua simplicidade", acrescentou Okri, anteontem, na sede do Instituto Nobel, em Oslo, na apresentação da lista dos 100 melhores livros do mundo.

Na lista final, "Don Quixote" recolheu mais 50 por cento dos votos que foram arrecadados por "Em Busca do Tempo Perdido", em resultado de um inquérito feito a escritores como Salman Rushdie, Milan Kundera, John Le Carré, John Irving, Nadine Gordimer, Carlos Fuentes, V.S. Naipul, Wole Soyinka e Norman Mailer, a quem foi pedido que respondessem à pergunta "Quais crê que sejam as obras melhores e mais importantes da literatura mundial?", mencionando dez títulos.

Alf van der Hagen, um editor norueguês que em parceria com o Clube de Livros do seu país foi responsável pela reunião do grupo de escritores convidados a manifestar a sua opinião, não quis avançar muitos dados sobre a lista liderada por "Don Quixote" e "Em Busca do Tempo Perdido", justificando-se com o facto de o objectivo da iniciativa não ser estabelecer um "ranking" de obras. O editor realçou o facto de a maioria dos convidados ter aceitado de bom grado escolher os seus 10 livros favoritos da história da literatura, mas admitiu que alguns deles, entre os quais Isabel Allende, declinaram o convite e criticaram mesmo o projecto. "E de alguns não chegámos a obter qualquer resposta - acrescentou van der Hagen -, como foi o caso de Bob Dylan e de Gabriel Garcia Marquez", apesar de este ser um dos autores representados com mais de um livro na lista final ("Cem Anos de Solidão" e "Amor nos Tempos de Cólera" foram os seus títulos citados).

Ainda sobre a lista final dos melhores livros do mundo, os únicos dados avançados em Oslo, e citados pela agência Reuters, foram os nomes dos escritores que tiveram direito a mais do que uma citação. À cabeça surge Dostoievski, com quatro títulos ("Crime e Castigo", "O Idiota", "Os Irmãos Karamazov" e "Os Demónios"), seguido de William Shakespeare, Franz Kafka e Tolstoi, com três, e Homero, William Faulkner, Gustave Flaubert, Thomas Mann e Virgina Woolf, para além do já citado Garcia Marquez, com dois. Nos cem livros escolhidos, mais de dois terços foram escritos por autores europeus, quase metade foram escritos no século XX e 11 têm a assinatura de mulheres.

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