A direita de Jacques Chirac lança novo partido
Desde há meses que o Presidente cessante de França, Jacques Chirac, fundador do partido gaullista RPR, empurrava o seu campo para a criação de uma grande formação maioritária de direita. Ontem, os estrategas chiraquianos avançaram em força com um partido único agrupando o RPR, o movimento centrista UDF e o partido liberal Democracia Liberal (DL), apesar da oposição do presidente da UDF, François Bayrou.Para marcar bem as relações de força actuais entre o RPR e a UDF, o campo chiraquiano encarregou o presidente do grupo parlamentar UDF, Philippe Douste-Blazy, de participar o nascimento de "um grande partido de direita e de centro direita", baptizado com um daqueles nomes de que só os franceses têm o segredo, a "União para uma Maioria Presidencial" (UMP). Douste-Blazy cumpriu a sua missão de "torcer o braço" a Bayrou com tanto mais entusiasmo quanto já tinha "traído" o seu chefe no início da campanha eleitoral, ao preferir apoiar a candidatura de Chirac às presidenciais. E neste período de entre as duas voltas da eleição presidencial, em que Jacques Chirac deve assegurar a mais vasta vitória contra o líder de extrema-direita, Jean-Marie Le Pen, torna-se difícil a Bayrou opôr uma resistência excessiva, sem correr o risco de ser acusado de fazer a cama à extrema-direita. Por ora, a UMP tem por vocação preparar candidaturas únicas do RPR, da UDF e da DL à grande batalha das legislativas de 9 e 16 de Junho próximo. Ganhar este segundo escrutínio é imperativo para a sobrevivência da direita. Ora, nada lhe garante, ainda, tal vitória. Os chiraquianos não se esqueceram da derrota terrível de 1997, provocada pela impopularidade do governo de Alain Juppé, mas cuja amplitude se deveu à estratégia de terra queimada então adoptada por Jean-Marie Le Pen. O líder da Frente Nacional (FN) manteve candidatos do seu partido nas 131 circunscrições onde tinha conseguido passar à segunda volta. Em muitas delas, a presença dos candidatos da FN provocou uma dispersão dos votos da direita, dando assim a vitória ao candidato único da esquerda. Continua, porém, em cima da mesa a questão da capacidade de sobrevivência do partido único do Presidente Chirac, cuja razão de existir parece ser de servir os interesses e as ambições de Chirac e dos seus sucessores. Mas os estrategas chiraquianos frisam que se operou, ao fio do tempo, uma síntese ideológica entre o RPR, a UDF e a DL. Todos são europeus, descentralizadores e partidários de uma limitação do papel do Estado. Este esquema é contestado por François Bayrou, fortalecido pelos sete por cento de sufrágios que reuniu na primeira volta das presidenciais. A 23 de Fevereiro, em Toulouse, os amigos de Chirac fizeram uma primeira tentativa de lançamento do partido único do Presidente, baptizado então de União em Movimento (UEM). A festa foi estragada por François Bayrou. Não sem coragem, o presidente da UDF compareceu na reunião, embora não tivesse sido convidado, e pediu a palavra: "Precisamos de uma direita nacional forte, e de um centro pró-europeu forte. Sem centro europeu, perdemos votos a favor dos socialistas de Lionel Jospin. Sem uma direita forte, enviamos eleitores para o partido de Jean-Marie Le Pen", preveniu Bayrou, apesar dos assobios e insultos da sala.Dois meses depois, o líder centrista reivindica mais do que nunca estas palavras premonitórias. O resultado de Le Pen relançou, com efeito, o debate interno à direita. Recebido por Jacques Chirac, o presidente da UDF pediu que se tirem as lições da mensagem endereçada pelos eleitores, e que se criem "esquemas políticos novos, reunindo homens de boa vontade". "É preciso repensar tudo, refundar tudo, reconstruir tudo", apelou François Bayrou. Um sentimento partilhado pelo presidente de Democracia Liberal, Alain Madelin, para quem é preciso retirar a direita da clausura no centro, para deixar de alimentar todos os extremos.Mas os amigos de Chirac, sentindo a força deles, e invocando a existência de uma oportunidade única, impuseram o controlo da direita republicana pelo campo chiraquiano. O Presidente Chirac pensa, com efeito, que há que fazer grandes reformas logo a seguir à segunda volta, se for reeleito. Alguns, no seu campo, pensam que é preciso agir muito depressa, para a direita dar sinais fortes a 6 de Maio: nomear um primeiro-ministro a substituir Lionel Jospin, e começar a governar por decretos, se necessário. O princípio de uma estrutura comum para as legislativas não é contestado. Em contrapartida, nem François Bayrou, nem Alain Madelin estão decididos a continuarem calados depois das legislativas, e a deixarem dissolver as respectivas formações num partido único. Alain Madelin propõe uma fórmula de confederação, mais flexível, que permitiria proceder à união da direita sem desfazer os partidos.