Weezer: amor ao hard rock
As canções de recorte pop dos norte-americanos Weezer continuam pejadas de versos amorosos. Mas passaram a estar envoltas numa névoa de hard rock.
É uma tarde chuvosa de Março e Brian Bell, o guitarrista dos Weezer, está sentado à nossa frente numa mesa do bar dos artistas do Coliseu dos Recreios, em Lisboa. É alto, magro e enverga um curto casaco de couro e uma "t-shirt" justa que parece ser de rapariga. Talvez seja. As mãos são compridas, dedos esguios, e durante os minutos em que conversamos nunca estão quietas. Tem uma voz suave que nunca sobe de tom e começa quase todas as frases por "julgo que...". É nervoso mas bastante afável e responde educadamente a todas as perguntas, nem que seja com um simples "não sei".Nascidos em Los Angeles, os Weezer, a banda que Rivers Cuomo formou em 1994, fazem aquilo que se pode designar por pop-californiano. Ou talvez sejam as harmonias vocais à Beach Boys que nos fazem ter essa ideia. Brian Bell explica: "Julgo que como gostamos de harmonias nas canções, que é uma coisa que adquirimos ao ouvir os Beach Boys, e cantamos todos, é natural que as usemos. Mas há muitas bandas que fazem harmonias vocais."verde e azul. A história visível dos Weezer começa em 1993, quando o grupo assinou pela Geffen. Pouco tempo depois foram até Nova Iorque para gravar o primeiro álbum e a meio das sessões o guitarrista original, Jason Cooper, abandonou o grupo para poder ficar junto da mulher, que se encontrava grávida. Jason não regressou e Brian Bell ficou com o lugar deixado livre. Produzido por Ric Ocasek (ex-Cars), o disco, editado em Maio de 1994 (as datas, como se verá, não são mero acessório biográfico), chamou-se simplesmente "Weezer" e tinha "Buddy Holly", que se viria a tornar numa das canções mais conhecidas do grupo. Sete anos depois, o terceiro álbum também foi apelidado de "Weezer". No entanto, o "nome de guerra" passou a ser "The Blue Album" para a estreia dos Weezer e "The Green Album" para esse, de 2001. E, curiosamente ou não, ambos foram editados em Maio e produzidos por Ocasek, um homem com quem Bell diz que os Weezer se sentem bem a trabalhar. A explicação de Brian é simples: "Muitas bandas dão o seu nome ao álbum de estreia. Foi o que fizemos. Mas, por causa da capa azul, as pessoas começara a chamar-lhe 'The Blue Album'. O terceiro é uma espécie de renascer dos Weezer. Estivemos muitos anos sem editar. Ao ponto de muita gente ter pensado que tínhamos acabado. Por outro lado, para muitos, o segundo 'Weezer', foi o primeiro álbum do grupo que ouviram. Acontece é que, como a capa é verde, rapidamente ficou conhecido como 'The Green Album'." Mas, afinal, o que é que Weezer significa? Aparentemente nada. Não passa de "uma alcunha que o pai de Rivers lhe deu quando ele era miúdo" e que "quando Rivers formou a banda era o nome menos estúpido que ele tinha numa lista de possíveis nomes", conta Brian.Entre a atenção conquistada por "The Blue Album", que obteve vários prémios MTV, e foi duas vezes disco de platina nos EUA, e o regresso com "The Green Album", houve um segundo, "Pinkerton", uma ida de Rivers para a Universidade de Harvard, onde estudou inglês, e uma temporada de recolhimento. "Pinkerton", o segundo disco, não só não se chama Weezer, como não tem, ao contrário dos dois "Weezer", a banda na capa, e foi produzido pelo próprio grupo. E isso, o não se chamar Weezer, não ter a banda na capa e ser autoproduzido é exactamente o que acontece a "Maladroit", o quarto álbum da banda, que verá, pela terceira vez, um disco seu ser editado em Maio. E não, Brian não tem explicações para a coincidência. Curiosa também é a questão da fonética de "Maladroit". Pronuncia-se "Meladroit", pois, segundo Brian, "os americanos são trapalhões a falar francês. Por isso, 'Maladroit' é para se dizer 'Meladroit'. Com o fim como em Detroit."hard'n'heavy. A outra coisa que "Maladroit" tem em comum com "Pinkerton" é ser um disco mais difícil do que o seu antecessor. Tanto "The Blue Album" como "The Green Album" são discos optimistas e dentro da melancolia transmitida pelas letras e pela voz de Rivers, alegres, frescos e, pode-se dizer, de Verão. "Maladroit" e "Pinkerton", pelo contrário, são discos de Outono carregado, quase Inverno. Mas há mais: "Maladroit" leva mais longe os tiques hard rock que espreitam em "The Green Album". O tema mais "hard rock oriented" de "The Green Album" é "Hash pipe". "Maladroit", pelo contrário, está pesado de baixos densos e pesados, de guitarras que se espraiam em quase solos de heavy metal, de baterias cavalgantes. E, por vezes, até a voz de Rivers parece ter-se esquecido que está a cantar canções dos Weezer. Quem viu os concertos que deram nos Coliseus de Lisboa e Porto deve ter reparado na espécie de paródia de uma banda de hard'n'heavy, daquelas do final dos anos 70, início dos anos 80, que o grupo apresentou. Dos enormes "W" iluminados (um suspenso sobre as cabeças do quarteto e outro no suporte da bateria), passando pelo jogo de luzes, até às guitarras, tudo parecia indicar que estávamos perante uma versão revista e actualizada, com o ar casual de estudantes universitários, de uns Def Leppard ou de uns Judas Priest. E os Judas Priest também não são aqui citados ao acaso. É que antes da saída de "Maladroit" os Weezer diziam que o álbum seguinte iria ser na linha dos Judas Priest. Brian sorri e diz que o hard rock sempre foi uma coisa importante para os Weezer. Que fazia parte da juventude dos quatro - Rivers Cuomo (voz, guitarra), Brian Bell (guitarra, voz), Mikey Welsh (baixo, voz) e Patrick Wilson (bateria)-, e que é a maneira de os Weezer mostrarem que se divertem a tocar. Claro que quem apenas conhece os Weezer mais luminosos de "The Green Album" ficará surpreendido. Em especial, como diz Brian, "as miudinhas da fila da frente" que, segundo o guitarrista, "são a causa de tudo" (presume-se, das vendas dos discos, do sucesso). Mas, para Bell, o "som Weezer", algo como "o timbre da voz de Rivers, as melodias que ele escreve, e a simplicidade das canções", continua presente em "Maladroit". Tal como as canções de amor. Brian julga que o amor é o sentimento certo para uma canção pop: "A música é poesia e muitos poemas são inspirados pelo amor de alguém a outra pessoa ou a algo. O amor é a coisa mais importante que há a cantar."E se passou apenas um ano entre a edição de "The Green Album" e "Maladroit", deverá passar ainda menos tempo entre a saída de "Maladroit" e do, por ora, apenas intitulado "The Fifth Album". "Já temos o próximo álbum gravado e gostaríamos que saísse ainda este ano, mas julgo que só poderá sair no início do próximo."