Rádio de Coimbra falhou o Guiness mas assegurou a festa
A maratona radiofónica iniciada ao meio-dia de segunda-feira por José Braga, com o propósito de inscrever o nome da Rádio Universidade de Coimbra (RUC) no "Guiness Book of the Records", terminou ontem de manhã, ao fim de 68 horas, 37 minutos e 18 segundos com o mesmo locutor "sempre no ar".Apesar de prematuro - não chegou para bater o sueco Kristian Bartos, que fixou o recorde da categoria "DJ Marathon" em 100 horas, 3 minutos e 22 segundos -, o desfecho da emissão de José Braga não evitou que ontem se sentisse na RUC um ambiente de satisfação, mesmo de festa. Afinal, nunca os meios de comunicação social falaram tanto desta estação de rádio dos 107.9 FM como nos últimos dias, na sequência da iniciativa que assinalou o seu 16º aniversário; e José Braga, esse, depois de permanecer durante mais de uma hora na RUC a comemorar o fim da aventura, foi para casa dormir, bem de saúde.Foram exactamente as preocupações com a saúde de José Braga que levaram os seus companheiros a convencê-lo, ao princípio da manhã de ontem, de que era melhor ficar por ali - pelas 69 horas, como arredondaram. André Costa, estudante brasileiro responsável pelo "marketing" da RUC, disse acreditar que "o herói de serviço" desta estação até conseguiria aguentar mais umas horas sem dormir. "Mas o objectivo não era estar forçando a máquina do Braga", sublinhou, lembrando que, após as primeiras 48 horas, o "organismo" do realizador e apresentador dos programas semanais A Grande Música Negra e A Ilha do Tesouso começou a revelar "picos" de fadiga que ontem de manhã fizeram sentir que seria muito difícil atingir a marca a que se tinham proposto: 100 horas, 7 minutos e 9 segundos. Às quatro da madrugada de ontem, quando André Costa deixou a RUC, José Braga ainda se mantinha bem desperto. A partir daí, no entanto, o cansaço e o sono progrediram vertiginosamente. E, quando faltavam poucos minutos para as 9h00, depois da passagem de "Me cago en el amor", do Tonino Carotone, no programa O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes, ouviu-se um acompanhante de Braga comentar que ele estava com uma "voz cavernosa". Braga concordou, brincou com o assunto, e anunciou "John Berry e qualquer coisa como James Bond ao serviço de Sua Majestade". Mas a música das bandas sonoras do 007 não entrou logo no ar, e Braga ainda embarcou nas sua habituais divagações, falando dos velhos computadores "spectrum".Entretanto, ficaram registados os tossidos de um fumador fechado num estúdio durante quase três dias, um tempo morto, um "com licença, vou ali e já venho", e a voz de alguém a perguntar a Braga se este queria "lançar o disco". Meio apático, Braga não respondeu e carregou simplesmente no "play".Então, o mesmo companheiro de estúdio - por acaso enfermeiro, que vinha registando valores normais nas medições da tensão de Braga -, os outros colaboradores da RUC ali presentes e José Braga concluíram que não há recorde que valha a saúde. Ideia com a qual o locutor já partira para o desafio: "Não é uma questão de vida ou de morte. Não vou fazer isto ao estilo 'Rambo'. Se não conseguir, não vou deixar de dormir por causa disso", afirmou ao PÚBLICO, na semana passada, ao lembrar, por exemplo, que seria obrigado a anunciar todas as músicas, que estas não poderiam exceder 6 minutos, que só tinha 15 minutos de descanso em cada 8 horas.Falhado o recorde, ficam assim para a história quase 69 horas de conversa bem humorada, notícias e muita música dos quatro cantos do mundo que não passa em mais nenhuma rádio portuguesa. Tudo assegurado pelo estoicismo de um homem da rádio, com 47 anos de idade, licenciado em Direito e Línguas e Literaturas Clássicas, que, como todos os colaboradores da RUC, não recebe dinheiro pelo trabalho que ali faz.