Josué, o "Marquês de Pombal" do PSN em Vila Real
Foi uma das perplexidades que sobraram da noite eleitoral de anteontem: o Partido da Solidariedade Nacional (PSN), que em 1991 tinha conseguido conquistar a confiança de dezenas de milhares de reformados e eleger para a Assembleia da República o professor universitário Manuel Sérgio, obtivera desta vez apenas sete votos, e todos no distrito de Vila Real. O PSN convertia-se, assim, no partido menos votado de sempre em Portugal e à incredulidade juntava-se uma estranha coincidência: os sete eleitores correspondiam exactamente ao número de candidatos do PSN por aquele distrito. Teriam votado neles próprios? E que candidatos eram esses que nem os votos dos familiares mais chegados tinham sido capazes de atrair?Em concreto, sabia-se apenas que o PSN obtivera dois votos em Valpaços, dois em Chaves, dois em Peso da Régua e um em Vila Pouca de Aguiar. Ontem, o mistério ficou desfeito: na realidade, o PSN não obteve nenhum voto. Não obteve porque não concorreu nem em Vila Real nem em nenhum outro distrito. Mas é verdade que lhe foram contabilizados sete votos e isso só foi possível porque a sigla do PSN constava dos boletins de voto distribuídos em todas as assembleias eleitorais do distrito de Vila Real. O PSN esteve, de facto, para concorrer pelo distrito de Vila Real. O partido apresentou a tempo e horas uma lista, liderada por Josué R. Gonçalves Pedro, cumpriu todas as formalidades e obteve a necessária autorização do tribunal. Mas, no arranque da campanha eleitoral, Barbosa da Costa, o presidente-proprietário do PSN e mandatário da lista encabeçada por Josué Pedro, solicitou ao tribunal a desistência do partido. E foi o que aconteceu. O cabeça de lista foi apanhado de surpresa. "Candidatei-me para defender essa riqueza do mundo que é o vinho do Porto. O presidente do partido, sem me consultar, anulou a lista, não sei se por capricho, vaidade ou estupidez". Barbosa da Costa diz que "em certas coisas não estava em muita conformidade" com Josué Pedro, embora reconheça que este tinha "um programa jeitozinho". Josué garante que estas eleições iriam revelar um "segundo Marquês de Pombal", que é como ele se vê. Um novo paladino do Douro . Barbosa da Costa escolheu Josué Gonçalves Pedro para encabeçar a lista por Vila Real por este "ser natural da Régua". "Era o único da região, os outros eram de fora. Um era do Porto, outro de Leiria, outro de Tomar...".Não, Josué não é da Régua. Josué nasceu em 30 de Março de 1934 em Outeiro Grande, na freguesia de Assentiz, concelho de Torres Novas. A segunda da lista era Teresa Maria P. V. Sousa Rocha, também da mesma localidade. Trata-se de uma professora primária, viúva, que mantém uma relação muito próxima com Josué, que é divorciado. Os outros elementos da lista são conhecidos ou familiares deste homem que diz ser empresário de "bebidas e outras coisas" e que reside "há 25 anos na Bélgica". Em Outeiro Grande confirmam que "anda com carros de matrícula estrangeira" e que passa longas temporadas ausente da aldeia. Josué Pedro não é propriamente um homem desconhecido. Nas últimas eleições para a Presidência da República também chegou a anunciar a sua candidatura. Não chegou a ir a votos, como se sabe, mas deu algumas entrevistas. Numa, ao jornal "O Templário", de Tomar, disse o seguinte: "Se ler o meu 'curriculum vitae', não considero que nenhum governante, depois de Marcelo Caetano, tenha feito o que eu já fiz". Josué é daquelas pessoas que não se têm em conta mas que a democracia tolera, ao ponto de lhe permitir juntar um grupo de amigos no Ribatejo para concorrer nas legislativas em Vila Real em defesa do vinho do Porto.Desta vez, a brincadeira não chegou ao fim, porque o proprietário do PSN, sentindo o partido "um pouco desmotivado", resolveu desistir da candidatura e aconselhar os "oito mil militantes que o partido ainda tem a votar no PSD". Barbosa da Costa lamenta, no entanto, que "o PSD não tenha vindo a público agradecer essa dádiva". Quando o PSN anunciou a desistência por Vila Real, já os boletins de votos estavam impressos. De acordo com a lei eleitoral, todos os votos obtidos pelo PSN deveriam ter sido considerados nulos. Por lapso, em quatro assembleias eleitorais os votos no PSN, os tais sete, não foram anulados. Mas é possível que tenha havido mais pessoas a votar no ex-partido de Manuel Sérgio em outras mesas, até porque nas legislativas de 1999 o PSN obteve em Vila Real 504 votos. "Foi pena. O vinho do Porto está em perigo", lamenta Josué. O presidente-proprietário do PSN é o dono das empresas Fográfica e Imprexbrindes, ambas localizadas no Porto. Barbosa da Costa, de 63 anos, sucedeu na presidência do partido a Carlos Bastos, que havia sucedido a Temudo Martins e este a Manuel Sérgio. Lidera o partido há sete anos, segundo as suas contas. Mas, em congresso, só foi eleito há cinco anos, "num hotel de Lisboa". Em Novembro de 1999 foi reeleito, "por aclamação, num hotel de Aveiro". Num dia destes, Barbosa da Costa pensa juntar os militantes do partido "num hotel de Lisboa" para fazer um novo congresso. Só não o fez ainda "porque não houve oportunidade". Barbosa da Costa reconhece que o PSN "está um pouco desmotivado" e adianta que a "desmobilização" começou quando decidiram mudar a sede de Lisboa para Porto de Mós. Mas a queda do PSN começou antes. No final do mandato parlamentar de Manuel Sérgio, que havia sido eleito em 1991, o PSN já era um partido minado e, desde então, passou a acolher todo o tipo de gente, desde naturistas a nacionalistas, passando por elementos de algumas seitas. Agora é um partido moribundo.PG