A sala não estava cheia, mas estava bem composta. A maior parte de quem ali se deslocou conhecia a banda. Outros estavam ali para ver o multi-facetado Mike Patton, conhecido de outras andanças como os Fantômas ou os extintos Faith No More. Entre uns e outros, muita gente de pé, mesmo antes do concerto começar, recusando permanecer sentada numa noite que se adivinhava de energia pura.
O quarteto norte-americano entrou em palco sem qualquer suspense, a confirmar o que já se ouvira dizer: que os Tomahawk vão directos ao assunto. O concerto arrancou e construiu-se asssim: com um ataque directo ao carácter corrosivo, arrebatador e explosivo dos temas que compõem o primeiro – e único – álbum da banda, “Tomahawk”. O grupo até deixou o concerto respirar de tempos a tempos, mas só para imediatamente a seguir o voltar a mergulhar, quase sem aviso, numa claustrofobia que transpira da própria música. Uma sensação que até se pôde ver, quando Patton cantou com um máscara no rosto.
Foi assim até ao fim, com Patton (que se apresentou como Zé Cabra!) no centro do palco a tomar conta da maquinaria electrónica ou a correr sem freios pelo palco ao melhor estilo do rock. O mentor do projecto pode até ser o guitarrista ex-Jesus Lizard Duane Denison, mas ao vivo os olhares vão todos para Patton. Em palco e fora dele. Em “Laredo” aconteceu o que ninguém estava à espera: Patton desce à plateia e, sem qualquer constrangimento, convida quem está mais perto para cantar – ou melhor, gritar – com ele ao microfone. Escusado será dizer qual o resultado: uma pequena multidão alucinada com o espectáculo e sem saber muito bem o que estava a acontecer. O explosivo passeio pelo público acabou como uma reunião de amigos, num imenso abraço a Patton por todos os “co-vocalistas” da noite.
Os Tomahawk não vieram vestidos de cowboys, como nas fotos de promoção. A banda parecia antes saída de um qualquer episódio da “Balada de Nova Iorque”. Mas a autoridade com que agarraram o público veio toda da segurança e à-vontade desconcertantes com que se apresentaram na Aula Magna (depois de terem passado, na noite anterior, pelo Hard Club de Gaia). Depois de dois temas de encore, o concerto acabou como começou: directo. A banda simplesmente abandonou o palco, perante uma assitência incrédula, que só abandonou o recinto passado algum tempo.
Quanto à primeira parte da noite, ficou a cargo dos Dälek, um trio que trouxe de New Jersey uma sonoridade exclusivamente electrónica – excepção feita à voz –, feita de ataques constantes ao vinyl e de frases quase faladas, sobre ritmos alternados entre o pesado e o ambiental.