Morreu "de arma na mão" e "sete tiros foram suficientes para o abater"
Jonas Savimbi morreu "de arma na mão", como "um militar", numa emboscada das Forças Armadas Angolanas (FAA), sexta-feira à tarde, junto ao rio Luio, sudeste da província do Moxico, ao fim de cinco dias de perseguição pelo mato. "Sete tiros foram suficientes para o abater". Foi assim que o brigadeiro Wala, na qualidade de dirigente da "força mista que matou o líder da UNITA", resumiu o fim de Savimbi aos jornalistas presentes no local em que o corpo foi ontem exibido - Lucusse, a 79 quilómetros do sítio da emboscada. O relato é do repórter da Lusa, Miguel Souto.O destino de Savimbi, calculou Wala, era a fronteira com a Zâmbia, onde o nº 1 da UNITA contava ser reabastecido pelos seus homens. Acossado pelas tropas do Governo angolano desde o Andulo, dividiu a sua coluna em três. Seguiu com uma, e deixou o comando das restantes duas aos generais Abreu "Kamorteiro" (chefe de Estado-Maior das forças da UNITA) e António Dembo (vice-presidente do movimento do Galo Negro).A coluna de Savimbi iria ao encontro do General "Big Jo", que partira antes, em busca de víveres. Ainda de acordo com a versão das tropas angolanas, quando um ataque das tropas angolanas liquida "Big Jo", o líder da UNITA inflecte para norte, por uma mata densa que levaria ao rio Luio. "Deu muitas curvas e fintas, porque conhecia muito bem o terreno, a UNITA nasceu aqui", lembrou o brigadeiro Wala, acrescentando que os seus homens andaram "dia e noite numa perseguição que durou cinco dias", até à emboscada final, sexta-feira. Nas palavras de Wala: "Quando viu os seus homens mortos, [Savimbi] pegou na arma". Além dos "vários oficiais" atingidos, num "total de 21 mortos", Catarina, uma das quatro esposas do líder do Galo Negro, foi capturada e encontrava-se ontem internada no hospital de Luena, a capital da província do Moxico (1000 quilómetros a sudeste de Luanda). Os generais Dembo, "Kamorteiro", Abílio Camalata Numa e Samy terão escapado ao ataque, e as forças governamentais dizem que estão no seu "encalço". O paradeiro do secretário-geral do movimento, Paulo Lukamba Gato, permanecia desconhecido.Segundo o embaixador português em Luanda disse ao PÚBLICO, as primeiras imagens do corpo de Jonas Malheiro Savimbi foram exibidas na televisão estatal angolana por volta das 17h00 locais (16h00 em Lisboa), sem terem ocupado mais do que "um espaço normal" nos telejornais. A reportagem do jornalista da RTP Alves Fernandes, que foi ao Lucusse, mostrava o corpo de Savimbi deitado numa prancha ao ar livre, à beira de uma árvore, rodeado por centenas de homens mulheres e crianças, misturados com militares. Ninguém compusera o corpo para a última imagem: farda verde oliva desfraldada, deixando ver parte da roupa interior, os pés sem botas, só com meias, moscas pousando no rosto, um buraco de bala na garganta, feridas na cabeça e numa mão. Na sequência seguinte, o corpo, embrulhado na bandeira do Galo Negro, era levado da prancha para um caixão.Segundo o relato inicial deste jornalista, antes das imagens serem difundidas, Savimbi teria sido atingido sexta-feira à tarde não por sete mas por "quinze balas, duas na cabeça, as restantes no tronco, nos braços e nas pernas". Chegaram a correr versões que falavam em 52 (ou 53) tiros.A agência Reuters, por seu turno, ao princípio da tarde, citava fontes dos serviços secretos zambianos que contestavam a data da morte. De acordo com esses relatos, Savimbi teria sido morto já na segunda-feira, e as forças do Governo angolano teriam retardado a notícia da sua liquidação, de forma a poderem difundi-la, com outro impacto, nas vésperas da partida do Presidente José Eduardo dos Santos para Washington, onde dia 26 se reunirá com o seu homólogo norte-americano, George W. Bush.As fontes zambianas sublinhavam que as tropas do Governo angolano tinham localizado a coluna de Savimbi no Moxico há duas semanas e que, tendo enviado reforços, se lançaram num ataque maciço no passado domigo.