O regresso do maestro Martin André a Lisboa depois do "grande escândalo"
Depois da versão de concerto da ópera "Édipo, Tragédia de Saber" no passado dia 16, o ciclo que a Culturgest está a dedicar à obra de António Pinho Vargas prossegue esta noite com um concerto pela Orquestra Nacional do Porto (ONP), sob a direcção de Martin André. Esta será a primeira vez que o maestro britânico actua em Lisboa, depois do seu contrato como primeiro titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa (OSP), em 1993, não se ter inexplicavelmente concretizado. O programa, que teve a uma primeira apresentação ontem, no Porto, no Mosteiro de São Bento da Vitória, é constituído pelas obras para orquestra mais representativas de Pinho Vargas - "Geometral", "Duas Peças para Orquestra de Cordas", "Acting-Out" e "A Impaciência de Mahler" -, constituindo uma oportunidade inédita para "descobrir relações e filiações entre as peças, perceber cortes e mudanças". Conforme o compositor disse em entrevista ao Mil Folhas (09/02/2002), "esta possibilidade é especialmente pertinente no campo da música orquestral, uma vez que neste caso não existem sequer gravações."Das peças seleccionadas, "Acting-Out" tem sido uma das mais interpretadas. A última vez foi em Julho no âmbito do Porto 2001 e do Festival de Espinho, pelos mesmo intérpretes que hoje se apresentam na Culturgest, incluindo os solistas Miguel Henriques (piano) e Elisabeth Davis (percussão) e o maestro Martin André. Para os que não se recordam, este último foi o responsável pela selecção dos músicos no momento da criação da OSP, quando Santana Lopes era secretário de Estado da Cultura. A extinção da antiga orquestra do São Carlos passou pelo despedimento de todos os músicos, tendo-se realizado posteriormente audições para a formação da nova orquestra. Depois de lhe atribuirem as funções de selecção dos músicos e tendo em vista os projectos que iam sendo discutidos com ele, o desenlace lógico seria o cargo de maestro titular, até porque a sua qualidade interpretativa e a boa relação com os instrumentistas era plenamente reconhecida. Acabaria por ser dispensado sem explicações, sendo Álvaro Cassuto o nomeado para o cargo. Martin André esteve anos sem regressar a Portugal, prosseguindo uma notável carreira por todo o mundo.Por isso mesmo, este seu regresso a Lisboa é aguardado com muita expectativa: "Adoro a cidade e as pessoas, muitos músicos são ainda meus colegas e amigos. Encontrei também excelentes condições de trabalho na ONP e rapidamente se gerou uma grande empatia com os músicos. Têm um espírito maravilhoso, o que para mim é muito importante. São muito flexíveis e comunicativos. Creio que a comunicação é o fulcro da questão, tanto entre o maestro e os instrumentistas, como entre os músicos e com o público. O público português é muito entusiasta. Também acho que é muito receptivo à música com a qual não está familiarizado."Quanto às peças de António Pinho Vargas que irá dirigir esta noite, salienta que são obras muito diferentes, logo a começar pelos efectivos e orquestrações, mas também pelas atmosferas. "Reconhecem-se, todavia, traços de estilo comuns. São obras muito exigentes do ponto de vista técnico e, por isso, requerem muita concentração. São também peças muito intensas, com uma escrita muito concentrada. Não há ali nada de supérfluo, tudo é muito preciso e transparente."Depois de ter estudado na Universidade de Cambridge, Martin André fez a sua estreia profissional com a Welsh National Opera, da qual foi maestro titular durante várias temporadas. Com uma intensa carreira no campo da ópera, trata-se de um dos poucos maestros a ter actuado com todas as mais importantes companhias britânicas. Nos últimos anos tem-se dedicado primordialmente ao repertório sinfónico. Recentes compromissos incluem, entre outras, a colaboração com a Philarmonia Orchestra, a Queensland Philarmonic, a Royal Scottish National Orchestra, a BBC Concert Orchestra, a English Chamber Orchestra, a Northen Sinfonia, bem como concertos nos Festivais de Bournemouth e Edimburgo. Em 2000, dirigiu uma versão televisiva de "Le Nozze di Figaro" para a BBC e foi contratado para dirigir "The Turn of the Screw" em Aldenburgh. Em Novembro regressa ao Porto para dirigir Brahms, Tchaikovski e Britten.