Câmara sem dinheiro para pagar projecto das Antas
"A Câmara do Porto não tem meios para financiar esta obra. E uma vez que o país decidiu fazer o Euro 2004 em Portugal, o Governo deve ponderar a posição que tem tido até à data e deve aumentar o nível de apoio ao novo estádio do Futebol Clube do Porto". Recusando a consideração de que estaria a fazer um ultimato ao Governo, o presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, não deixou, desta forma, de avisar que a resposta da administração central tem que ser rápida, ou então, "tudo pode parar".Numa conferência de imprensa agendada para explicar a posição da Câmara acerca dos projectos relacionados com o Euro 2004, Rio avançou com os dados que possuía acerca dos custos oficiais para a realização dos projectos que se prendem com o campeonato europeu, a situação financeira da câmara e a interacção destes dois factores: o défice orçamental atinge os 18 milhões de contos, a capacidade de endividamento ultrapassa em pouco os três milhões, e só para o projecto das Antas a autarquia necessitará de dispender 12 milhões de contos - retirando já destas verbas algumas obras incluídas no projecto e que Rio considerou "complementares", como o nó de acesso a Rio Tinto e a alameda de ligação ao Mercado Abastecedor - e, além disso, a câmara acabou por ceder todas as mais-valias construtivas (25%) que retirou aos proprietários para financiar os empreendimentos . Ou seja: "Chega de ginástica financeira: não há condições para pagar este projecto". Rio diz não ter soluções: "A única hipótese era ter uma máquina de fazer dinheiro". Mais tarde, acabou por admitir: "Enfim, não sei, talvez os privados se possam mobilizar".As verbas necessárias ao estádio e envolventes do Bessa não são as que estão a preocupar o autarca, que voltou a recusar estar a beneficiar o clube da sua preferência pessoal: "Não são valores da mesma grandeza que as Antas, e cabe uma fatia equitativa à autarquia e ao Governo, num total de cerca de três mlhões de contos, e por isso há capacidade financeira para as executar", informou. É o projecto do FC Porto que preocupa o autarca que se desresponsabilizou pela situação a que diz ter chegado o projecto. Lembrou que chegou à Câmara apenas a 8 de Janeiro, "quando muitos dos compromissos já haviam sido assumidos" de uma forma "irresponsável" e sem "uma visão integrada", acrescentou. "Foram assumindo compromissos sem ter uma visão global. Eu também me fui espantando muitas vezes desde que aqui cheguei", atirou, de seguida, numa referência aos projectos para o Parque da Cidade e à venda do terreno onde está instalado o estaleiro da Casa da Música.Rio adiou as considerações sobre a componente urbanística para quando o arquitecto Manuel Salgado apresentar o relatório de análise aos mais de cem contributos que apareceram no período de discussão pública do plano de pormenor das Antas. O que o preocupa, insistiu, "é a componente financeira". Daí, o repto ao Governo e o ataque a Nuno Cardoso: "Quero saber quem fala a verdade, se o ex-presidente da Câmara, quando diz que o projecto terá custo zero e que falta ainda contratualizar verbas com o Instituto de Estradas de Portugal (IEP), ou o ministro José Lello, que tem dito que não haverá nem mais um euro para o campeonato".O IEP recebeu uma missiva da Câmara do Porto na passada quinta-feira para esclarecer a situação. Rio disse que ainda não houve tempo para obter a resposta. Também o PÚBLICO fez o mesmo exercício junto do IEP e ontem mesmo recebeu a seguinte informação: "Está em fase de negociação um novo contrato-programa que deverá envolver os seguintes empreendimentos relacionados com a VCI: viaduto da Avenida Paralela à Avenida da Boavista sobre a VCI; alargamento do viaduto de ligação entre a zona industrial e a nova estação de Francos (sobre a VCI); e o nó viário do Mercado Abastecedor". Refira-se que apenas esta última empreitada está directamente relacionada com a intervenção nas Antas, orçada em cerca de 900 mil contos, e que Rui Rio admitia, na mesma conferência de imprensa, que viesse a ser contratualizada. Com falta de comparticipação financeira parece estar, então, a construção da Alameda das Antas (2,6 milhões de contos), o reperfilamento da Avenida Fernão de Magalhães (meio milhão de contos) e o interface associado à Estação de Metro das Antas (2,1 milhões de contos) que a autarquia esperaria ser a Empresa Metro do Porto a pagar mas a qual, segundo Rui Rio, tem assumido em contactos verbais que não o fará.Verbas muito longe, portanto, do montante que Rui Rio pediu ontem ao Governo. E insistiu que a resposta deve ser rápida - entre duas a três semanas -; caso contrário, afirma, o cumprimento dos prazos fica em causa. "A única hipótese era ter uma máquina de fazer dinheiro"Rui Rio, presidente da Câmara do Porto