Urbanização Nova Setúbal é para avançar
Assemelha-se ao desfecho triunfal de uma produção cinematográfica a chegada de Carlos de Sousa à Câmara de Setúbal, de tal forma tem sido saudada pela população. O autarca "motard" desceu à capital do distrito vindo de Palmela, onde foi presidente durante dois mandatos, para romper com o ciclo de 16 anos de gestão do socialista Mata Cáceres. Casado, com 50 anos, pai de cinco rapazes e uma rapariga e comunista desde 1974, conseguiu a maioria absoluta, enquanto no resto do distrito a CDU desceu na votação e perdeu os concelhos do Barreiro e de Grândola para o PS.CARLOS DE SOUSA - Sim. Vou propor que uma empresa especializada exterior faça um diagnóstico. Analisando os encargos assumidos e não pagos que passaram de 2001 para 2002, a situação é preocupante e, numa câmara com um orçamento de mais de 20 milhões de contos e com os projectos em curso e que pretendemos para os próximos quatro anos, temos de ter os números à frente para depois fazermos a nossa engenharia financeira.Essas dificuldades podem pôr projectos em causa?Os projectos que estão em curso, nomeadamente o Polis e o Proqual, nunca poderão ser postos em causa, nem que se invente soluções financeiras. Mas há projectos do nosso programa eleitoral que só poderão avançar depois de sabermos a nossa dívida a médio e longo prazo.A falta de limpeza nas ruas foi uma das críticas recorrentes a Mata Cáceres. Que acções está a preparar?Tomaremos medidas que devem passar pelo aumento dos meios humanos, o que demora sempre muito tempo, e pela aquisição de serviços específicos para a limpeza das ruas.Entende que a falta de limpeza decorre de problemas nas chefias intermédias?Sou adepto da teoria de que as responsabilidades partem sempre de cima. Antes eram do Mata Cáceres e, por isso, se a partir de agora não funcionarem bem, o primeiro responsável serei eu. Haverá questões que poderão passar por uma reorganização de serviços, outras têm a ver com a falta de pessoal e a falta de mecanização dos serviços.Qual é a sua posição sobre a construção do complexo desportivo municipal e do empreendimento imobiliário Nova Setúbal?O plano de pormenor ainda está a ser elaborado e, por isso, estamos numa fase em que é possível negociar a velocidade de crescimento do empreendimento, até porque penso que o próprio promotor não quer construir tudo quando há um excesso de oferta de habitação. Convém que a velocidade de crescimento seja relativamente lenta, para que consigamos melhorar as infra-estruturas da cidade e prepará-la para os novos habitantes.Os Verdes, que fazem parte do seu executivo, questionaram no Parlamento a declaração de utilidade pública de todo o projecto. Partilha destas reservas?Ou a câmara anterior ou o investidor foram inteligentes, porque fizeram a mistura de um complexo desportivo com um loteamento. E foi o complexo desportivo que empurrou a aprovação do corte dos sobreiros. Este é um exemplo de como este Governo tem funcionado. Quando eu era presidente da Câmara de Palmela, tínhamos um plano de pormenor que previa o abate de 100 sobreiros para construir o parque temático Lucky Luke, que iria trazer um milhão de visitantes por ano à região, com mais-valias económicas fantásticas. Ainda hoje se espera a aprovação do plano de pormenor. No entanto, o Governo aprovou rapidamente o corte de 600 sobreiros em Setúbal, com a anterior câmara socialista. Este é o melhor exemplo de "dois pesos e duas medidas" de acordo com a cor política da autarquia.É por causa da componente desportiva que não vai travar o processo?Esta cidade tem de ter forçosamente um complexo desportivo para trazer grandes manifestações desportivas internacionais. Não temos infra-estruturas capazes e este complexo é absolutamente necessário. Iremos fazer tudo por tudo para que ele avance.E onde é que o cidadão comum vai praticar desporto, já que o complexo desportivo visa grande eventos?O complexo vai ter diversas vertentes: o estádio de futebol e os campos de treino, que vão estar quase a cem por cento para o Vitória de Setúbal; tudo o resto irá estar ao serviço dos pequenos clubes do concelho e do cidadão organizado. Vai haver oportunidades para todos.Concorda com a transformação do Estádio do Bonfim num centro comercial para o Vitória de Setúbal criar receitas fixas?A demolição foi uma decisão dos sócios do Vitória, diz respeito aos vitorianos e nós respeitamos a decisão. Estou de acordo que o espaço seja a tal "cana para pescar" que o Vitória precisa, para não estar sempre dependente do "peixe" da câmara. O empreendimento tem de ter em conta o enquadramento urbanístico, o peso rodoviário e a necessidade de não beliscar o comércio tradicional.Que medidas prepara para resolver o problema do trânsito?Temos um conjunto de medidas que passam por novos parques de estacionamento e pelo aproveitamento de logradouros. Os parques vão demorar alguns meses, até porque passam por parcerias com privados. Vamos fazer uma reunião com a PSP, a GNR, os nossos técnicos e os instrutores de escolas de condução para discutir o que se pode fazer de imediato, enquanto as medidas de fundo não são levadas a cabo.Vai propor outra localização para o parque de estacionamento previsto pelo programa de reabilitação urbana Polis para o Largo José Afonso, já que o estacionamento é mais procurado na zona nascente da Avenida Luísa Todi?Primeiro quero analisar o que está previsto no Polis, depois ver os impactes nas áreas envolventes. Sem provocar atrasos na execução do Polis, tenciono discutir com os "homens bons" da cidade se os projectos previstos estão de acordo com as necessidades.Vai intervir na recuperação do Centro histórico? Ou considera que existem demasiadas resistências dos proprietários e receia um conflito com a Misericórdia de Setúbal, a principal proprietária dos imóveis?Conflito com a Misericórdia não vai haver de certeza. Conheço o provedor há alguns anos e não tenho dúvidas de que está ali uma equipa que irá trabalhar connosco. Vamos usar os instrumentos mais recentes para apoiar os inquilinos que têm as casas mais degradadas, mas a iniciativa privada pode ter um papel importante. Se criarmos um bom ambiente nas zonas históricas, elas serão procuradas como destinos habitacionais de alta qualidade. Tenho esse exemplo em Palmela. As pessoas compram as casas e renovam-nas porque querem viver numa zona antiga. A câmara está a planear substituir os proprietários nas obras?Há uma fórmula que é a solicitação do inquilino, em que nós fazemos a peritagem e, se o senhorio não fizer as obras, fazemo-las nós e cobramos-lhe a conta. Tencionamos utilizar esta possibilidade que a lei nos dá. Tem apontado o turismo como um potencial vector de diversificação económica de Setúbal. Como é que isso poderá acontecer, quando o concelho está associado à indústria pesada?Há duas peças fundamentais: o Parque Natural da Arrábida e a Reserva Natural do Estuário do Sado. Há que estudar formas de usar mais intensamente estes espaços, preservando-os, para explorar o turismo ambiental, que tem uma clientela muito específica. Paralelamente, tem que se criar uma nova imagem, porque o turista não vem cá se houver problemas de segurança, de toxicodependência, de sujidade e de trânsito.Na campanha eleitoral propôs a criação de dois grandes eventos culturais para projectar Setúbal a nível internacional. Já tem algo definido?Um é o festival internacional de canto lírico e o outro é um festival internacional de dança, em parceria com instituições da cidade. Tenciono ainda convidar as instituições na área musical para organizarem o Ano de Luísa Todi em 2003, quando se assinalarem os 250 anos sobre o seu nascimento, e estamos a pensar propor ao Ministério da Cultura para que seja também o Ano de Luísa Todi a nível nacional. Quanto à dança, um parceiro fundamental será a Companhia de Dança Contemporânea.Alguns adversários acusavam-no de não ser um homem de Setúbal. Vai mudar-se para o concelho, agora que é presidente do município?O que interessa é que a população me sinta como o seu presidente. Se sentirem que trabalho 24 horas por dia, se me virem nos cafés, nas manifestações culturais, nas colectividades, de certeza que me vão considerar como sendo presidente de Setúbal. Se morasse aqui, melhor, mas como Palmela é perto de Setúbal... Já se inscreveu no Moto Clube de Setúbal?(Risos) Ainda não, mas, a exemplo daquilo que fiz em Palmela, de certeza que vou ser sócio do Moto Clube de Setúbal e dos "Xupa-Cabras".