A ovelha Dolly sofre de artrite reumatóide
A ovelha Dolly, o primeiro mamífero clonado a partir de outro já adulto, sofre de artrite reumatóide - uma doença inflamatória crónica, em que ocorre a destruição das cartilagens nas articulações, e que é muito dolorosa. A doença da Dolly, que se junta a outros problemas, como o excesso de peso, poderá ser um sinal de envelhecimento precoce e fez renascer os receios de que a clonagem origina defeitos genéticos.O novo problema da Dolly foi ontem revelado pelo seu pai científico, Ian Wilmut, do Instituto Roslin, em Edimburgo, na Escócia. Mesmo antes do Natal, ela começou a ficar um bocadinho coxa, disse o cientista. A doença afecta-a agora na pata traseira, ao nível da anca e do joelho. A artrite reumatóide caracteriza-se pelo facto de o sistema imunitário atacar por engano as articulações, como se fossem um corpo estranho, o que provoca inchaço e dores. Deixa os doentes progressivamente incapacitados, lesionando-lhes também os ossos."Não podemos dizer como é que a doença vai evoluir, mas ela está a responder bem ao tratamento anti-inflamatório", referiu Ian Wilmut à rádio BBC, segundo a agência Reuters.A artrite reumatóide não é algo inédito nas ovelhas, mas a Dolly, que nasceu a 5 de Julho de 1996, desenvolveu-a demasiado jovem. Esta doença numa ovelha que nasceu há apenas cinco anos e meio pode indicar que resulta de defeitos genéticos, que talvez tenham sido causados pela clonagem, referiu Wilmut: "O facto de a Dolly ter artrite quando é muito jovem sugere que pode haver problemas." Mas Wilmut também sublinhou que é impossível dizer, sem estudos de longa duração, que a clonagem é a culpada da artrite reumatóide da Dolly: "Nunca saberemos se isto é o resultado da clonagem ou apenas uma infeliz coincidência."O que os cientistas sabem, pela prática das experiências científicas, é que não é fácil fazer nascer clones saudáveis. O próprio nascimento da Dolly só foi possível depois de 276 tentativas falhadas. Significa isto que os cientistas que criaram esta ovelha, onde também se inclui a empresa de biotecnologia PPL Therapeutics, esvaziaram o núcleo a 277 ovócitos de ovelha, onde está grande parte do património genético, e colocaram lá o núcleo de células mamárias de outra ovelha adulta. Depois, implantaram essas células enxertadas numa terceira ovelha. Só conseguiram que nascesse um único animal. Depois do nascimento Dolly, anunciado em 1997, já foram clonados outros animais adultos. Ratinhos, cabras, porcos e vacas, entre outros. Só que muitos dos animais que nascem apresentam variados problemas: malformações do coração, dos rins ou pulmões, que por vezes estão envoltos em tantos músculos que a respiração é um tormento, são alguns exemplos de uma galeria de horrores. Graves complicações durante a gravidez têm também sido relatados por quem já clonou vacas, por exemplo. Os bezerros são excessivamente grandes, as línguas enormes, os intestinos não funcionam, o sistema imunitário apresenta deficiências e têm diabetes. A própria Dolly não está isenta de problemas. É gorda demais. Como se isso não bastasse, um estudo realizado pela PPL Therapeutics, em 1999, quando ela tinha três anos, revelou algo mais perturbante. As suas células não eram como as de uma ovelha com três anos, como seria de esperar, mas de uma com nove anos. Isto porque a ovelha da qual ela é a copia genética quase perfeita tinha então seis anos. Portanto, além de gorducha, a Dolly já apresentava sinais precoces de envelhecimento. Se agora tem cinco anos e meio, o facto é que as suas células são como as de uma ovelha de 11 anos. É caso para perguntar: quantos anos tem mesmo a Dolly? Traduzir-se-á isso na morte precoce do clone mais mediático do mundo?"Já sabíamos que existe uma invulgar incidência de mortes nos animais clonados perto do momento do nascimento. O que precisamos de continuar a estudar é se doenças como a artrite, que tende a ser associada ao envelhecimento, ocorre normalmente ou se essa incidência sofre alterações", comenta Wilmut.O pai da Dolly defende, assim, que se proceda a uma avaliação longa e a larga escala da saúde dos clones. "Esta é uma técnica muito nova. Tem um grande potencial. Temos de a melhorar e usá-la."Indo ainda mais longe, Wilmut diz até que as empresas de biotecnologia envolvidas na clonagem deveriam partilhar todas as informações relativas à saúde dos animais. "Suspeito que nenhum dos grupos tem animais suficientes para tirar conclusões válidas", referiu, segundo a revista "New Scientist".Só que as empresas de biotecnologia estão empenhadas em dizer que já produzem clones sem quaisquer defeitos, pois estes afiguram-se como uma promissora fonte de rendimentos. A agricultura e a medicina são as áreas onde os clones terão maior aproveitamento: ou como alimento ou para produzir proteínas com valor terapêutico nos seres humanos ou, até, como dadores de órgãos compatíveis, se forem também geneticamente modificados. A notícia de que a Dolly está doente é um balde de água fria para estas empresas. Resta saber se Dolly morrerá mesmo mais cedo, até porque as suas células parecem ter mais seis anos do que ela. O que é certo é que uma ovelha normal é considerada velha por volta dos dez ou 11 anos.