Costa de Esposende está a recuar
A costa de Esposende, um cordão de praias e dunas com 18 quilómetros, está a recuar. Nos últimos seis anos, em alguns locais, desapareceram mais de 20 metros de praia e algumas delas ficaram completamente despidas de areia, transformando-se em verdadeiros campos de seixos redondos. Mas o mais grave é que os fenómenos erosivos na costa portuguesa são progressivos, segundo os investigadores, e também estão a atingir, de forma preocupante, a estabilidade das zonas contíguas às praias e dunas. Preocupado com a situação e com o objectivo de fazer um levantamento rigoroso do estado das praias, o gabinete de Área de Paisagem Protegida do Litoral de Esposende (APPLE) encomendou a elaboração de uma Carta de Risco ao Departamento de Ciências da Natureza da Universidade do Minho. Com este estudo, o Ministério do Ambiente poderá definir estratégias para impedir o emagrecimento das praias e combater o avanço do mar.O norte da linha de costa de Esposende tem sido o mais fustigado pela erosão. Em 1991, em Antas, registou-se um rebaixamento da praia, aparecimento inesperado de godos e o recuo da duna, com a constituição de arribas com mais de 12 metros de altura. A situação, até hoje, não se alterou. Em S. Bartolomeu do Mar, nos últimos doze anos, a praia encolheu 50 por cento e, actualmente, o mar ameaça destruir um grupo de casas construído sobre a duna primária. A situação é de tal forma precária que, este Inverno, estas habirtações terão que ser demolidas, caso contrário, correm o risco do mar as levar, garante o director da APPLE e diversos cientistas que estudam regularmente o fenómeno erosivo local. A praia de Belinho também tem sofrido os efeitos do avanço do mar. Todos os anos perde areia e as dunas estão cortadas a meio; Para além disso, há arribas que denotam a força erosiva dos ventos e das marés.Preocupante é, igualmente, o caso da Restinga - um cordão dunar que divide o estuário do rio Cávado e o Atlântico. Nos últimos anos emagreceu, segundo um estudo da Universidade do Minho, e a responsabilidade é do avanço do mar. Aqui coloca-se um problema grave: este cabedelo constitui a única protecção que a cidade de Esposende tem relativamente ao avanço do mar. Se romper, a cidade arrisca-se a ter que se defrontar com o Atlântico. Neste momento a APPLE está a proceder ao seu reforço.Em Fão, os problemas são muito graves. As torres de Ofir - três torres com 14 andares - estão em plena praia, bem como o hotel e um conjunto de habitações que, para não serem engolidas pelas águas, necessitaram da construção de esporões e enrocamentos. "A sul do hotel, a praia quase que não existe e as dunas estão em ruptura", garante Horácio Faria, um engenheiro do ambiente, estudioso da costa minhota. Pedrinhas é uma praia cujo areal tinha uma largura superior. Cada ano que passa está mais curto e regista a formação de arribas, que impedem os pescadores de lançar os seus barcos ao mar. Na Apúlia, o fenómeno é semelhante. A praia tem metade do areal e as arribas cresceram. A extracção de areias no rio Lima e Minho e os efeitos da retenção de sedimentos nas barragens do Touvedo e Lindoso, no Rio Lima, são os principais factores que estão na origem da erosão costeira, garante Horácio Faria. Este engenheiro do ambiente que estuda a costa minhota concluiu que, desde 1989 a 1995, entre Ponte de Lima e o estuário do rio Lima, em Viana do Castelo, foram extraidos cerca de sete milhões de metros cúbicos de areia, segundo os registos oficiais. A este número, já de si preocupante, "terá que se adicionar mais 30 por cento, o correspondente a quantidades não registadas". Para além de se ter presente o impacto da extracção de areias, há que registar, ainda, a interrupção do abastecimento de sedimentos operado nas barragens, uma retenção que "também contribuiu para a diminuição significativa das areias que o mar recebia e que alimentavam as correntes marítimas que circulam na costa no sentido norte/sul. São elas que ligadas à manutenção física das praias de Esposende".Outros factores têm sido determinantes para a ocorrência dos fenómenos de erosão: a força eólica, a ocupação da faixa costeira e a construção aleatória de esporões e enrocamentos. Os fortes ventos, que se fazem sentir de noroeste ou sudoeste e que atingem, por vezes, os 120 quilómetros por hora, "provocam fortes pressões nas zonas dunares - que deslocam - e retiram grandes quantidades de areias". A destruição da vegetação ocorrida com a realização de fogueiras e outras actividades contribui, também, para a incapacidade de retenção das areias que sustentam as praias. Os esporões e os enrocamentos são acusados de provocarem a retenção irregular de areias em locais "impróprios" e do recuo da costa. Ofir é paradigmático neste aspecto e há, por isso, fundados receios de que a praia não continue a existir por muito mais tempo. Aqui o fenómeno pode vir a ser de tal forma grave que uma vivenda construída na duna primária, a sul do hotel, "ficará soterrada se não retirarem a areia que se acumula na zona".