Caixa Mágica promete distribuição nacional de Linux

Três investigadores portugueses da Associação para o Desenvolvimento das Telecomunicações e Técnicas de Informática (ADETTI), um centro de pesquisa do Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), decidiram pôr mãos à obra com vista a desenvolver uma distribuição portuguesa do Linux, a Caixa Mágica, que permita a todos, desde as crianças aos idosos, tirarem partido desta plataforma alternativa. Este sistema operativo em regime de "open source" - pois o seu código-fonte é divulgado publicamente, ou seja, está acessível e pode ser corrigido ou alterado por qualquer programador - é considerado, por uma legião cada vez maior de adeptos, como sendo completamente seguro, robusto e fiável, aliado à vantagem de ser gratuito, não havendo lugar ao pagamento de direitos a ninguém. O problema é que a maior parte das suas distribuições - os pacotes que reúnem componentes para o Linux, organizados e comercializados por empresas - são muito difíceis de usar pelo utilizador comum, que pouco percebe de informática nem quer passar a perceber, em contraste com a facilidade de utilização do "dominador" Windows.Foi para alterar esse estado de coisas que Paulo Trezentos, Daniel Neves e José Guimarães - os três investigadores do ISCTE - se candidataram ao Prémio Milénio 2000, organizado pelo semanário "Expresso" e pela Central de Cervejas, tendo este sido atribuído ao seu projecto, o Caixa Mágica. A primeira versão da sua distribuição, chamada Copperfield, foi lançada no sítio do projecto - www.caixamagica.org - no Verão e incluía o Licas, um instalador do Linux em modo de texto, sem interface gráfica. Paulo Trezentos espera agora que a Houdini, a segunda versão beta, esteja pronta na semana que hoje começa, de modo a que seja colocada "on-line" para que os interessados façam o seu "download". O lançamento estava marcado para 5 de Novembro mas foi adiado. A Houdini já contará também com o Lucas, um configurador em modo texto dos componentes de "hardware" do sistema para o Linux, e com o Xlicas, uma aplicação que permite a instalação completa da plataforma através de interfaces gráficas. Na versão final, sairá então o Xlucas, um configurador em modo gráfico. Segundo Paulo Trezentos, a Caixa Mágica deverá estar finalizada em Janeiro de 2002 e vai estar disponível em duas edições para fins distintos: uma direccionada para estações de trabalho e outra para servidores. A primeira vai incluir o OpenOffice - versão de "open source" do pacote de ferramentas de produtividade StarOffice, da Sun -, o "browser" de navegação para a Web da Netscape "e outras aplicações a que as pessoas que utilizam o Windows já estejam habituadas", afirma Paulo Trezentos.O conteúdo dos dois CD serão colocados "on-line" no sítio do projecto na Web, para quem tiver uma ligação à Internet em banda larga e quiser efectuar os "downloads". Para além desse canal de distribuição, serão ainda gravados CD com a aplicação. No entanto, os responsáveis ainda não definiram o modelo de distribuição física, afirmando apenas que querem chegar ao maior número possível de pessoas. Ressaltam, porém, que dispõem de "estrutura para eventualmente pedir apenas o custo do CD (que é de 50 a 100 escudos) mais o custo dos portes de envio, não cobrando os aspectos logísticos". Daniel Neves refere que existe a hipótese de distribuir juntamente com uma edição do jornal "Expresso" o CD Caixa Mágica Estação de Trabalho: "Só que isso implicaria o custo de fazer 100 mil cópias do disco, mas só nós próprios não temos receitas para fazer isso. Sem qualquer forma de apoio, não vamos conseguir fazê-lo, de certeza". Mas a equipa de investigadores não pretende que o projecto se limite a ser apenas uma distribuição de Linux. Na opinião de Paulo Trezentos, o Caixa Mágica "visa também promover em todos os aspectos o 'software' de 'open source', seja através do desenvolvimento de código informático, seja através da produção, recolha e organização de documentação ou da divulgação". Outra componente desta iniciativa é o documento "Linux Empresarial", que foi disponibilizado na Web no dia 26 de Outubro último e que conta com a colaboração de vários especialistas e simples adeptos do Linux, no sentido de sensibilizar as organizações para as vantagens da utilização da plataforma nas empresas e na administração pública. A equipa assinou também um protocolo com o Ministério da Ciência e da Tecnologia (MCT), através da Fundação para a Computação Científica Nacional (FCCN), de modo a criar uma versão da Caixa Mágica destinada às escolas. Em Junho de 2002, espera já ter testado o Linux em cinco estabelecimentos de ensino, de forma a que, "se tudo correr bem, as escolas possam escolher entre instalar esse sistema operativo ou o Windows". Os investigadores reconhecem que este é um objectivo muito ambicioso, uma vez que "isso seria uma reviravolta muito grande". O projecto conta, para além do montante de 10 mil contos angariado através do Prémio Milénio, com o apoio não monetário do ISCTE, que disponibilizou as instalações do centro de pesquisa onde os investigadores trabalham. Soma-se ainda a ajuda da Fujitsu Siemens, a nível dos computadores que vão servir para testes. O MCT garantiu ainda apoio financeiro ao projecto mas "unicamente para desenvolver a adaptação da Caixa Mágica às escolas". Quando o financiamento do MCT terminar - em Junho de 2002 -, os investigadores analisarão a forma como a distribuição está a ser recebida pelo público, de modo a avaliar se "valerá a pena manter de pé o projecto". Se decidirem continuar com a iniciativa, tencionam recorrer aos subsídios estatais ou ao mecenato empresarial, não estando também posta de lado a hipótese de realizarem um acordo comercial com uma empresa. Mas deixam um recado: "Há uma coisa de que nós não vamos abrir mão em qualquer das hipóteses, que é o código-fonte, o núcleo do 'software' aberto. O CD vai continuar a ser sempre de "open source". Qualquer pessoa vai ter possibilidade de pegar no CD, quer seja ou não comprado, e fazer uma cópia para si, para além de poder dar essa cópia a quem quiser". Falta agora saber se a Caixa Mágica consegue tornar o Linux uma alternativa que, para além de gratuita, fique ao alcance dos conhecimentos comuns do utilizador final.

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