Manifestantes na Câmara de Coimbra de penico na mão
Após se terem reunido em plenário, dezenas de motoristas dos autocarros dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC) estiveram anteontem na reunião semanal do executivo para, no período de atendimento aos munícipes, recordar as razões que os levaram a apresentar um pré-aviso de greve para a última semana de Novembro. Exigem a instalação de quartos de banho no Largo da Portagem, ou noutra área próxima do centro da cidade, e salas onde se possam fardar e aguardar pela entrada ao serviço. Além disso, reclamam uma reorganização das escalas de trabalho que lhes permita gozar os três mil dias de férias a que dizem ter direito, bem como pausas a cada quatro horas de condução, como preconiza a legislação comunitária.Alguns representantes dos trabalhadores, acompanhados pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local STAL, compareceram nos paços do concelho de penico cor-de-rosa na mão. Um objecto que, "por não ser um instrumento de trabalho" e "achincalhar a dignidade" da instituição, o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel Machado, exigiu que fosse retirado da sala. Só então respondeu aos motoristas, começando por comentar que havia ouvido às dezenas de manifestantes concentradas à porta da câmara palavras de ordem, como "A luta continua, Machado para a rua", que sugeriam a "instrumentalização" dos trabalhadores. Depois, explicou que, apesar da projectada transferência da empresa para a zona da estação ferroviária de Coimbra B, está, entretanto, a ser ultimada, nas actuais instalações dos SMTUC, na Guarda Inglesa, uma sala destinada aos funcionários. Informou ainda que a expedição de serviço acaba de ser instalada no edifício da Junta de Freguesia de S. Bartolomeu e que haverá ainda outro espaço reservado aos motoristas junto ao novo elevador do recém-remodelado Mercado de D. Pedro V. Quanto às férias em atraso, o edil garantiu terem sido dadas instruções à administração dos SMTUC para contratar mais 40 agentes únicos, por forma a aliviar a sobrecarga de serviço. Já no que diz respeito à pausa após as quatro horas de condução, sublinhou que essa realidade é preconizada por uma directiva que ainda não foi transposta para a legislação portuguesa.Os dirigentes sindicais lembraram que a promessa de um quarto de banho já é velha de doze anos. Manuel Machado respondeu que a localização prevista para essa valência - o subsolo do quiosque do Bar Navarro - deixou de ser legalmente exequível, por se encontrar na área de influência do Programa Polis. Disse ainda que decorrem negociações entre a câmara e os SMTUC, por um lado, e a Refer e a CP, por outro, relativas aos locais de venda de bilhetes das duas empresas de transporte. A ideia é que o espaço do edifício-quiosque do Bar Navarro onde se vendem bilhetes pré-comprados e passes sociais seja libertado, para aí instalar o WC reivindicado. A câmara pretende que os títulos de transporte dos SMTUC passem a ser vendidos também nas bilheteiras da CP da Estação de Coimbra A e que o espaço dos SMTUC do mercado municipal passe também a vender bilhetes de comboio.Contactado ontem pelo PÚBLICO, Carlos Cristina, dirigente sindical dos motoristas, afirmou que a sala disponibilizada na Junta de Freguesia de S. Bartolomeu é demasiado exígua e que os trabalhadores saíram da câmara sem respostas concretas às reivindicações apresentadas. "O presidente só fez propaganda eleitoral", afirmou, lamentando a inexistência de uma associação de utentes dos SMTUC em Coimbra. Em seu entender, esta associação poderia pressionar a câmara a arranjar transportes alternativos quando os agentes únicos fazem greve. É que estes agentes, explicou, preocupam-se com o transtorno que causam aos utentes de cada vez que paralisam. E é por isso, acrescenta o sindicalista, que a greve marcada para a última semana de Novembro diz apenas respeito às últimas três horas da jornada de trabalho. "Assim, haverá sempre autocarros a circular, ainda que menos", previu.Durante a troca de argumentos, o presidente da câmara disse ainda que os motoristas têm provocado grandes prejuízos aos SMTUC com acidentes que revelam negligência e sublinhou que a autarquia gasta 1350 dias com os transportes públicos. "Pode acontecer que um dia a câmara não esteja disponível para suportar esse custo e prefira privatizar", ameaçou o autarca, acrescentando, contudo, não ser essa a política que perfilha."O presidente só fez propaganda eleitoral" Carlos CristinaDirigente sindical