Mais de cem mortos nos confrontos inter-religiosos em Kano
"O número de mortos não pode ser determinado com certeza pela Cruz Vermelha, mas é certo e seguro que o balanço é superior às cem pessoas", indica um comunicado da organização humanitária, citado pela AFP. Os líderes comunitários e habitantes locais ouvidos pela Reuters falam em pelo menos 200 mortos. Ontem, a polícia nigeriana falava em 18 mortos, enquanto o governo do estado de Kano dava conta apenas de 13 vítimas. Os confrontos em Kano, cidade que alberga a principal comunidade muçulmana do país, estalaram na sequência de uma manifestação contra os bombardeamentos anglo-americanos ao Afeganistão.
Segundo a Cruz Vermelha, os incidentes causaram ainda 300 feridos e levaram à deslocação de 18 mil habitantes de Kano. Cerca de onze mil pessoas refugiaram-se nos postos da polícia em Bompai e sete mil nas casernas militares de Bukaru, precisa a organização, que enviou 25 voluntários para ajudar os deslocados, "na maioria mulheres e crianças".
O Presidente nigeriano, Olusegun Obasanjo, deverá deslocar-se hoje a Kano, para avaliar a situação.
Várias lojas, casas, igrejas, mesquitas e carros foram incendiados durante o fim-de-semana de confrontos. O recolher obrigatório, imposto sábado pela polícia entre as 19h00 e as 06h00, continua em vigor, que tem ordens para atirar contra qualquer amotinado.
O comércio e as empresas, encerrados desde sexta-feira, começam hoje a voltar à normalidade na cidade. O Presidente nigeriano deverá reabrir o maior mercado da região, em Sabon Gari, bairro de Kano reservado a não muçulmanos de outras partes da Nigéria e um dos palcos dos confrontos inter-religiosos. O tráfego de automóveis continua diminuto nas ruas e os residentes permanecem em casa, temendo novos incidentes.
Nos últimos 20 anos, Kano tem sido palco de sangrentos confrontos inter-religiosos. Segundo os analistas, o fim dos 15 anos de ditadura militar, há dois anos, deu às comunidades e grupos nigerianos ressentidos a liberdade para exprimirem os seus pontos de vista. A introdução da "sharia", lei islâmica, nalguns locais predominantemente muçulmanos do Norte do país, apesar da oposição dos não muçulmanos, terá feito o resto.