Nobel da Paz para ONU e Kofi Annan
O prémio Nobel da Paz de 2001 foi ontem atribuído "em partes iguais à Organização da Nações Unidas e ao seu secretário-geral Kofi Annan, pelo seu trabalho em favor de um mundo mais organizado e mais pacífico", anunciou o comité Nobel norueguês, que anualmente atribui a distinção desde 1901.Ao escolher a ONU, o comité assume a decisão de "proclamar que a única via negociável para a paz e cooperação mundiais passa pelas Nações Unidas". E justifica: "O fim da guerra fria permitiu enfim à ONU preencher o papel que estava originalmente atribuído. Hoje, a Organização está na vanguarda dos esforços realizados para alcançar a paz e responder aos desafios económicos, sociais e ambientais", precisa o comunicado. Em relação a Kofi Annan, sublinha o seu papel em "insuflar uma vida nova na Organização", em reforçar a luta pelos direitos humanos e ainda na vontade de resposta "aos novos desafios como a sida e o terrorismo internacional".Desde 1945, data da fundação da ONU, que o Nobel da Paz foi 13 vezes atribuído a agências ou personalidades ligadas à ONU. O antigo secretário-geral Dag Hammarskjold recebeu-o a título póstumo em 1961. A Unicef, o Alto Comissariado para os Refugiados e as Forças de Paz da ONU foram contemplados em 1965, 1981 e 1988, respectivamente. Mas é a primeira vez que são eleitos a organização enquanto tal e um secretário-geral em exercício. Havia 136 candidaturas oficiais, entre elas a da Cruz Vermelha (já contemplada em três ocasiões), a seita chinesa Falungong, a Federação Internacional de Futebol (FIFA) ou antigo Presidente americano Jimmy Carter. Kofi Annan era o favorito e a conjuntura de terrorismo e guerra que se vive terá contribuído para a decisão de prestigiar a ONU e o seu líder. O prémio monetário é de cerca de um milhão de euros. A cerimónia de entrega realiza-se em Oslo, a 10 de Dezembro. Frequentemente denegrida, a ONU permanece como a única instância internacional com legitimidade para gerir os novos conflitos e desafios. Como o comité Nobel sublinha, o fim da guerra fria mudou profundamente o quadro geopolítico em que a organização actua e atribui-lhe muito mais largas responsabilidades. Nos últimos anos, a ONU pode exibir alguns sucessos, como as acções na Namíbia, no Camboja e, mais recentemente, em Timor. Mas sofreu também desastres, como a sua impotência perante o genocídio no Ruanda (impotência em que Kofi Annan, na altura responsável pelas operações de paz, teve responsabilidade pessoal), a cegueira perante os massacres na Bósnia, a desordem na retirada da Somália. À luz dos fracassos, Kofi Annan empreendeu uma completa revisão dos métodos dos processos de paz. E inovou, ao assumir os protectorados da ONU no Kosovo e em Timor. A ONU depende sempre, em última análise, do comportamento das potências, e particularmente dos Estados Unidos, seja em termos de meios como de determinação política. A guerra ao terrorismo declarada pelos EUA após os atentados do 11 de Setembro manifesta as suas potencialidades e os seus limites. A ONU desempenha um papel decisivo na legitimação da campanha antiterrorista e no reforço da cooperação entre os Estados nos domínios diplomático, político ou financeiro, mas está completamente ausente do terreno. Kofi Annan reagiu ao prémio declarando que ele significava um "grande encorajamento" para as Nações Unidas. Aproveitou para sublinhar que a ONU pode ter um papel a desempenhar no Afeganistão.As reacções internacionais são quase unânimes, de Leste a Oeste. As chancelarias aprovam. Os grandes e os pequenos. O britânico Tony Blair fala por todos: "É o homem certo no momento certo". O Ghana, país natal de Kofi Annan, felicita-se. Israelitas e palestinianos estão completamente de acordo. Duas reacções serão particularmente gratas a Kofi Annan. A do governo do Ruanda, que saúda a sua acção e cura feridas antigas. A dos dirigentes de Timor, que enaltecem o seu papel na saída da tragédia de 1999. E talvez a do embaixador indiano na ONU, Kamalesh Sharma, que diz que o prémio fará de Kofi "uma celebridade global como uma estrela de rock", em benefício das Nações Unidas.