Um Lang atípico, desde logo, pela profusão de cores saturadas do Cinemascope, "O Tesouro do Barba Ruiva" é um filme invernal, nocturno - antes que se veja nele um caso à parte na filmografia do realizador, é bom atentar nos sinais que vêm de trás: a evocação de fantasmas, um cinismo desapiedado e ganancioso, o destino sacrificial da personagem de Stewart Granger. Que, no meio de tudo isto, uma criança ainda consiga acreditar que o seu "amigo" há-de voltar, depois de partir num barco, ferido, é prodigioso. Lang viu-se obrigado pelos estúdios a incluir essa cena final - teria preferido ficar-se pelo barco a desaparecer no mar, enquadrado pela janela. Ainda bem: é justamente nessa última imagem que o nosso olhar coincide com o do pequeno John Mohune, é justamente nessa imagem que, contra toda a lógica, acreditamos que Fox (Granger) vai voltar.