Um painel se Veloso Salgado
Completou-se na passada segunda-feira um século relativamente à data da solene apresentação, na Sala do Tribunal do Comércio do Palácio da Bolsa do Porto, de um notável painel de Veloso Salgado, representando, num trecho do rio Douro, uma cena do comércio de importação e exportação no século XVI. Natural de Santa Maria de Melon, na província galega de Orense, José Maria Veloso Salgado (1864-1945) foi para Lisboa com 10 anos de idade, com o objectivo de trabalhar com um tio materno, mestre tipógrafo, mas a sua natural aptidão para o desenho levou-o a matricular-se, em 1881, no curso nocturno da Academia das Belas-Artes. Com alguns trabalhos já realizados, e uma participação na Exposição em 1884 na Sociedade Promotora das Belas-Artes, partiu em Maio de 1888 para Paris, com uma bolsa que lhe permitiu frequentar a escola de belas-artes local. Após uma temporada em Itália, para onde partiu em 1891 a fim de aprofundar a sua formação, regressou a Paris, onde deu continuidade aos trabalhos que desde a sua partida de Portugal vinha executando, caracterizando-se pela adopção de um estilo inspirado em motivos de natureza histórica, embora o pintor também se tenha destacado na tradução das paisagens e costumes do Portugal daquela época, para além de ter sido um notável retratista.Regressado a Portugal em 1895, será nomeado professor da Escola de Belas-Artes de Lisboa, e três anos mais tarde receberá da associação comercial uma encomenda para a decoração da sala de audiências do Tribunal do Palácio da Bolsa, na qual trabalhará até 1904. Desde a sua chegada a Portugal que Veloso Salgado vinha desenvolvendo uma grande actividade, datando deste período alguns dos seus quadros mais célebres, nomeadamente as telas que lhe foram encomendadas para a decoração da Câmara dos Deputados - "Sessão das Cortes Constituintes de 1821" (1902) -, e para o Museu Militar - "Apoteose dos Heróis da Liberdade" (1904).No entanto, tinha sido a sua tela "Vasco da Gama na Presença do Samorim" (1898) - vencedora do concurso promovido pela Comissão Comemorativa do Centenário da Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia e que integra hoje em dia o acervo da Sociedade de Geografia - a que, na época, lhe valeu uma maior notoriedade. Para a Associação Comercial do Porto, Veloso Salgado irá conceber um conjunto de pinturas alegóricas, entre as quais "A Lei Protegendo a Indústria, o Comércio e a Agricultura" (1898), os trípticos ""El-Rei D. Dinis Administrando Justiça" (1899), e "Sessão do Tribunal da Bolsa na Época da sua Fundação" (1901), as telas "As Artes" (1902), "Os Ofícios" (1903), "Ordenações Afonsinas" (1904), "Ordenações Manuelinas" (1904), "Vindimas no Alto Douro" (1903) e "O Comércio Marítimo no Rio Douro".De acordo com Rui Afonso Santos, no texto do notável catálogo da exposição retrospectiva consagrada à obra de Veloso Salgado, e que há dois anos esteve patente ao público no Museu do Chiado, em Lisboa, salienta-se neste painel representando uma cena do comércio de importação e exportação no século XVI o seu forte "teor histórico-descritivo", que o pintor já tinha desenvolvido no outro painel sobre a Sessão no Tribunal da Bolsa, mas que agora retrata numa cena ao ar livre."Após ter aludido à Justiça nas suas relações com o comércio e à nobreza da classe comercial, no que constituíam duas das poucas obras notáveis que o Porto podia oferecer ao exame do visitante, Veloso Salgado reportava-se agora ao comércio externo em pleno século XVI. Passando-se num cais nas proximidades da velha alfândega, a cena apresenta em primeiro plano três homens carregando uma pipa de vinho do Porto para uma embarcação, secundados por negociantes que fecham as suas transacções sobre as próprias pipas, entre cargas e descargas, tudo emoldurado pela antiga muralha da cidade, para além da qual se avistam as colinas verdejantes das duas margens do rio, num conjunto que testemunhava a grande noção de colorido de Salgado, com toda a exuberância dos seus tons, aliada a uma impecável correcção de desenho".Natural de Santa Maria de Melon, na província galega de Orense, José Maria Veloso Salgado (1864-1945) foi para Lisboa com 10 anos de idade, com o objectivo de trabalhar com um tio materno, mestre tipógrafo, mas a sua natural aptidão para o desenho levou-o a matricular-se, em 1881, no curso nocturno da Academia das Belas-Artes.