Anémonas, estrelas e lesmas apanhadas no aquário

Ser biólogo por um dia foi o desafio lançado pelos investigadores do Laboratório Marítimo da Guia a quem quisesse aparecer, no fim-de-semana, no Forte da Nossa Senhora da Guia, em Cascais. Apareceram dezenas de pessoas, dos sete aos 62 anos. "Isto é uma anémona-do-mar, aquilo um ouriço e ali ao fundo, agarrada a uma rocha, está uma lesma", apontava Celso Teixeira para o grande aquário colocado para o efeito no exterior do laboratório. A imitá-lo, algumas crianças mergulhavam as mãos, vezes sem conta, na água: "Olha pai, uma estrela-do-mar", mostrava Tiago Galileu, todo sorridente."Aqui, as crianças podem ver, tocar, enfim, satisfazer a curiosidade", disse Armando Almeida, responsável por esta iniciativa do programa de divulgação científica Biologia no Verão. "A nossa ideia foi fazer uma pequena parte experimental para que as pessoas pudessem ter a noção daquilo que fazemos no dia-a-dia."Aos poucos, o aquário encheu-se de gente à volta para ouvir mais uma explicação: "Temos estes organismos vivos nestas caixinhas transparentes, porque se os tirássemos daqui escondiam-se nas rochas do aquário e não os conseguíamos ver. É o que acontece numa zona de maré", explicava Tânia Pimentel, uma das monitoras."Estas fitinhas, que estão a ver na minha mão, de tom rosa, parecem esparguete e são os ovos daquela lesma-do-mar", mostrava Armando Almeida. "Estas lesmas, embora não pareçam, têm uma concha escondida no corpo. Só procurando, como estou a fazer, é que a pessoa a encontra." Um dos miúdos que se debruçava sobre o enorme aquário disse para todos, depois de ter mergulhado os olhos na água: "Esta lesma grande parece uma esponja. Gostei de tocar nela porque era muito macia."A poucos passos do aquário encontravam-se duas lupas e objectos vários em cima de uma mesa. "Vão pegar nestas pipetas de Pasteur - tubos que servem para transferir pequenas quantidades de líquidos - e pôr estes micro-organismos chamados artémias. São também conhecidos por camarões das salinas e acabaram de nascer no nosso laboratório", explicava Ricardo Calado. "A seguir vão colocar na primeira divisão da lamela uma gota de álcool. Na segunda, uma gota de água com sal. Mas não é água salgada normal: tínhamos água do mar e pusemos ainda mais sal lá para dentro. Na terceira, vão pôr água doce. Como toda a gente sabe, se pusermos um peixe de água salgada em água doce ele morre. Por fim, vão colocar uma gota de tintura de iodo. Agora vão poder comprovar se a artémia é tão resistente como isso, ou seja, se consegue sobreviver a todos estes ambientes estranhos e hostis", orientava Ricardo Calado."O que é que consegues ver Daniela?", perguntou Henrique Martins, um dos pais. "Vejo bichinhos a dançar", responde a criança, que tinha acabado de subir para uma cadeira para ver melhor aquele bailado. As artémias não possuem barbatanas como os peixes, mas em compensação têm muitas pernas com as quais se deslocam na água. "Olha pai, agora não estão a mexer as patinhas, estão a dormir", dizia, admirada. Daniela não sabia, mas a artémia que tinha sobrevivido nas primeiras três divisões sucumbiu na última, na de iodo, por este ser muito tóxico."Isto parece areia, mas são ovos de artémia", explica Ricardo Calado, aos curiosos a espreitar pela lupa. Noutro lado da mesa, vêem-se pela lupa as diferentes fases do desenvolvimento de camarões ornamentais que se estudam no laboratório. O que está naquele frasquinho é a "Lysmata seticaudata" (na imagem). "Como podem ver, é vermelho e é conhecido pelo nome de camarão limpador. Os seus parentes vivem na Ilha da Madeira e são amarelos com uma risca vermelha", contava o biólogo. "Tem umas antenas brancas muito compridas. Para que servem?", perguntou um dos visitantes. "Como estão sempre a abanar, as antenas atraem facilmente os predadores que os comem. No entanto, também atraem os peixes que eles querem limpar, como é o caso das moreias. Ora, um peixe pensará duas vezes antes de ir comer o camarão com uma moreia por perto", esclarece o biólogo. "Estes foram criados no nosso laboratório. Produzimos tantos camarões no ensaio que fizemos que tivemos de deitar dois mil ao mar, por não termos sítio para os guardar." A Biologia no Verão - a par da Geologia no Verão e da Astronomia no Verão - é uma iniciativa do Ministério da Ciência e da Tecnologia, em curso até ao final de Setembro (é possível obter mais informações pelo número gratuito 808-200205).

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