Doença do nemátodo do pinheiro em Setúbal está contida
O nemátodo do pinheiro está confinado à área de quarentena na península de Setúbal e, contrariamente ao que se receara, não alastrou para outras regiões - segundo informações veiculadas ontem por Miguel Serrão, coordenador nacional do Programa de Luta contra o Nemátodo do Pinheiro. Este balanço foi dado a conhecer no decurso do Congresso Internacional do Nemátodo do Pinheiro, que decorre, de segunda-feira até hoje, na Universidade de Évora.Esse ponto de vista foi partilhado pelos participantes do encontro, conforme revelou ontem ao PÚBLICO Manuel Mota, membro da comissão científica do evento. O nematologista frisou, contudo, a necessidade de manter a prospecção duas vezes por ano, para garantir que não há presença do nemátodo do pinheiro noutras zonas do país. Para aquele especialista, as notícias dando conta do alastramento da doença para o Norte não têm fundamento, e tiveram origem em erros de diagnóstico.Ao referir os participantes no congresso de Évora, onde se juntaram 50 investigadores de 14 países em quatro continentes, Manuel Mota orgulha-se: "São muito poucos os especialistas neste tópico que não estão cá. É uma comunidade relativamente pequena, mas muito activa cientificamente."Para os organizadores do congresso, chegara a altura para uma reunião de cientistas que investigam nesta área crítica da protecção florestal, depois de dois anos de investigação sobre a caracterização morfobiométrica e molecular do nemátodo do pinheiro, identificado pela primeira vez na Europa por Manuel Mota, em 1999, precisamente na península de Setúbal.O nemátodo do pinheiro (ou "Bursaphelenchus xylophilus") é geralmente transportado por insectos do género "Monochamus", que desovam nas árvores. Ao fim de uma semana, as larvas eclodem e escavam um túnel no pinheiro, atingindo o estado adulto em cinco dias. Nos 28 dias que se seguem, cada nemátodo põe 80 ovos, que obstruem os canais da resina, secando a árvore.Na sessão de abertura do congresso, foram apreciadas as prospecções feitas pelos vários países atingidos pela doença, e avaliada a situação presente, com as graves implicações económicas e ecológicas. No caso português, o problema envolve cerca de 200 mil postos de trabalho, meio milhão de hectares e a maior mancha de pinheiro bravo de toda a Europa, na zona da Lousã.Ontem, os participantes abordaram a morfologia do "Bursaphelenchus xylophilus" e os novos métodos moleculares para identificar com precisão a doença. As questões da quarentena constituíram um dos tópicos de discussão. Em 1999, a União Europeia decretou uma quarentena à madeira proveniente da província de Setúbal, e esteve muito próximo de optar por um embargo nacional. "Foi por um triz", recorda Manuel Mota. "Isso seria catastrófico para o país, claramente."Em debate esteve a questão de saber se a quarentena, em vigor, ainda se justifica. Maioritariamente, os cientistas europeus consideram o embargo à madeira de Setúbal fundamental como medida de precaução. Muitos países, como o Japão, sofreram autênticos desastres e a União Europeia teme que uma situação semelhante se possa desenvolver no espaço comunitário a partir de Portugal. "Claro que os países exportadores de madeira para a Europa não defendem que isso seja necessário, porque são prejudicados pelas medidas de quarentena", acrescenta o investigador.Hoje, numa sessão dedicada à fisiologia do nemátodo, resistência e histopatologia, investigadores chineses e japoneses explicarão a forma como o parasita se movimenta dentro da árvore e como, bloqueando o sistema vascular do pinheiro, lhe causa a morte. Outras soluções para o problema são procuradas no estudo da biologia do nemátodo e da sua relação com o insecto-vector. "Se descobrirmos os segredos que os ligam, seria possível cortar aí o ciclo e o mal poderia ser contido", explica Manuel Mota.Importantíssimos são também os métodos de controlo, que vão desde o corte e queima, como se fez na península de Setúbal, até "sprays" aéreos de insecticida para destruir o insecto que o transporta. Manuel Mota considera ainda indispensável um rigoroso sistema de controlo nos portos, já que, na sua opinião, terá sido provavelmente por Setúbal ou Lisboa que o nemátodo do pinheiro entrou em Portugal, proveniente da América do Norte ou da Ásia Oriental. "A minha teoria preferida é virada mais para o lado asiático, porque acho que há uma coincidência com o grande volume de movimento de contentores e caixas de madeira de pinho vindos de Macau, aquando do regresso dos portugueses". As "lojas dos trezentos" também são suspeitas, devido às importações da China. "São milhares e milhares de caixas sem qualquer controlo", diz."Na América do Norte, que se acredita ser a sua origem, o nemátodo está em equilíbrio, há milhões de anos, com as espécies de pinheiro lá existentes", explica o investigador. Mas quando é transportado para outras zonas, como o Japão, a Coreia, a China ou Taiwan, encontra espécies de pinheiro completamente diferentes e altamente susceptíveis, e assim desencadeia a catástrofe.O congresso surge na ponta final de dois projectos de investigação financiados pela Fundação Ciência e Tecnologia. "O primeiro foi uma prospecção e o segundo, agora, é um completar dessas informações sobre a situação presente", descreve Manuel Mota. As informações sobre os projectos estão reunidas num CD-ROM, apresentado agora, para divulgação junto de investigadores, jornalistas, administradores, entre outros. A forma final do CD-ROM será divulgada no próximo ano, num congresso em Tenerife. Mas este será apenas o primeiro volume do CD-ROM, pois estão previstos outros à medida que se for recolhendo informação no âmbito dos trabalhos de investigação, que se prolongarão ainda durante três ou quatro anos.