SIC importa polémico "show" líder de televisão em 30 países
Os temas são bem elucidativos: "Fui trocada por um transexual", "Querido, sou uma prostituta", "Deito-me com a minha irmã", "Quero ser dominado", "Estou aqui para te roubar o namorado", "O meu marido dorme com a minha sobrinha".Chama-se Jerry Springer Show, vive de situações embaraçosas e enervantes a quem participa, semeou polémica por todo o lado e estreia na segunda-feira, na SIC, com o nome de O Grande Desastre Americano. São 192 horas de histórias de "esgoto" a servir todos os serões, à razão de uma hora diária, com Carlos Cruz a fazer a apresentação do "talk show", transmitido no original. É mais popular entre os homens do que os "shows" de "strip-tease" em televisão e conquista mais audiência feminina do que os programas especialmente destinados às telespectadoras. O programa de que Jerry Springer é o anfitrião destronou líderes de audiências como Oprah, nos Estados Unidos, e encabeça a lista dos mais vistos em 30 dos 50 países em que é exibido.A fórmula da popularidade é transparente. Aos temas picantes, a produção junta ingredientes infalíveis: permite todo o tipo de linguagem, do público como dos participantes, cobrindo os palavrões com um "piiii" esclarecedor; autoriza o público em estúdio a incitar à pancadaria e só faz intervir os seguranças depois das primeiras bofetadas. Frequentemente, há uma surpresa da produção que dá uma reviravolta à história. Um rapaz que vai revelar à namorada que anda a dormir com a irmã dela descobre, no decorrer do programa, que a namorada afinal também tem um amante, ou uma amante. Ou que gosta de sexo com animais. Ou que a irmã da namorada é na verdade um homem. Quanto mais escandaloso melhor - não por acaso, Springer disse numa entrevista que apresentava o mais imbecil dos programas de televisão.Os casos expostos no programa são tão incríveis que muitas foram as acusações de fraude e encenação feitas ao Jerry Springer Show. Mas ainda que algumas confissões e cenas de porrada possam ter sido ensaiadas, nem tudo pode ser mentira. Prova disso é o facto de este "talk show" popular ter levado a um homicídio. Uma mulher da Califórnia, o estado onde é gravado o programa, foi convencida a participar pensando que o marido, que a abandonara, queria regressar ao lar. Todavia, se tivesse sabido o tema do dia, "Amantes Secretas Confrontadas", teria compreendido que fora enganada - o "espectáculo" destinava-se a deixar que o marido e a sua amante a insultassem. Chamaram-lhe gorda, feia, velha; queriam que ela desaparecesse das suas vidas para sempre. Humilhada, abandonou o estúdio, sob aplausos e comentários eufóricos. Quando o programa foi para o ar, meses mais tarde, o marido teve um acesso de ira e matou-a à pancada.Este não é, contudo, o único escândalo associado ao programa apresentado pelo antigo presidente da Câmara de Cincinnati. Jerry Springer, que assegura que 95 por cento do conteúdo do programa é real, teve igualmente de responder perante o conselho municipal da cidade de Chicago - que procurava evitar ou reduzir a exibição de violência na televisão e considerava o programa de Springer um atentado de grande porte nesta matéria.Uma condução desastrada da sessão municipal e uma contenção nos murros e pontapés mostrados no programa naquele período resultaram em coisa nenhuma. A única consequência foi a diminuição das audiências televisivas enquanto as "vias de facto" estiveram escondidas. Jerry Springer soma e segue, portanto, e criou já um pequeno império ligado ao "show". Uma outra versão do programa, Springer Cam, permite uma série de outras abordagens, com as câmaras a irem para a rua filmar as histórias, confissões e agressões no seu habitat natural. Na Internet, não faltam clubes de fãs, cassetes do programa à venda e até um jogo de sociedade sobre o Jerry Springer Show.