Portugal recebeu 228 toneladas de ouro nazi

Portugal importou, pelo menos, 228 toneladas de ouro nazi, confirmam vários documentos encontrados numa estação ferroviária de Canfranc, parcialmente desactivada, em Espanha. Milhares de documentos foram descobertos na estação e nas suas imediações quando se procedia à limpeza do local após ter sido utilizado como cenário de um filme.Os documentos - relativos à II Guerra Mundial e descobertos pelo francês Jonhatan Dias, residente em Oloron-Sainte-Marie, França - referem a origem do ouro e o percurso e destino das mercadorias, que incluía a ligação ferroviária até Canfranc, seguindo depois em camiões para Portugal. A responsabilidade pela guarda e análise da documentação agora encontrada está entregue à RENFE (Caminhos-de-Ferro Espanhóis) e ao Ministério da Fazenda.O autor da descoberta afirma que conseguiu reconstruir 44 carregamentos de ouro para Portugal. Segundo o historiador português António Louçã, o facto de estes carregamentos (num total de 74 toneladas de ouro) serem efectuados em barras de 5 quilogramas pode levar a encarar a hipótese de serem carregamentos paralelos.Até agora, não existem quaisquer dados de que se tratasse de movimentos ilegais. Portugal e a Alemanha não se encontravam em guerra e mantinham relações diplomáticas normais. O ouro comprado através do Banco Nacional da Suíça e do Deutsche Bank (cerca de 154 toneladas) era carregado em barras de 12 quilogramas.Os documentos agora encontrados referem ainda carregamentos de 44 toneladas de armamento, 10 de relógios (50 mil unidades) e quatro de prata. A exportação de relógios ou outros equipamentos com possível aproveitamento militar era interditada à Suíça, devido ao seu estatuto de neutralidade, para os países implicados no conflito da II Grande Guerra.Investigadores avançam duas hipóteses de aproveitamento destas exportações da relojoaria suíça: encaminhamento não-oficial para os Estados Unidos da América ou aproveitamento do mecanismo de relógio para a sua utilização no dispositivo de detonação de bombas. A estas mercadorias juntam-se, entre outras, loiça de qualidade (porcelanas), cristais e peles.A Espanha recebeu uma quantidade muito menor de mercadorias e apenas 12 toneladas de ouro. Entre essas mercadorias, destacam-se quatro toneladas de ópio.Entre 16 de Julho de 1942 e 27 de Dezembro de 1943 (datas de partida do primeiro e último comboios), foram transportadas para a Península Ibérica 86.600 toneladas de mercadorias. Deste total, cerca de 74.483 toneladas tiveram Portugal como destino.Daniel Sanchez, hoje com 87 anos, é o único sobrevivente dos que trabalharam na estação nessa época. Ele e a mulher (com 84 anos) recordam-se do trânsito de mercadorias durante a II Guerra Mundial e explicam como se processava. A travessia da fronteira era feita por via férrea e depois camiões garantiam o transporte do ouro para Portugal e Espanha - relataram à reportagem da Lusa. Em troca, as testemunhas viam passar volfrâmio, vinho, azeite, café, conservas e azeitonas, entre outros produtos.Em 1998, um relatório de historiadores do governo norte-americano concluía que "a maior parte do ouro saqueado pelos nazis foi utilizado, através da Suíça, para pagar a outros países neutrais, como Portugal, os fornecimentos necessários à sobrevivência do exército alemão no final da II Guerra Mundial".A edição de sábado do jornal "Heraldo de Aragão" publica uma entrevista com o professor Pablo Martim Acena, director do Relatório Espanhol pedido pelo governo sobre a compra de ouro durante a II Guerra Mundial, na qual aquele responsável afirma que as entradas de ouro prolongaram-se até 1945, sabendo-se que, globalmente, ocorreram 135 envios.Segundo Acena, estes envios estão documentados num micro-filme do Reichbank que foi facilitado no quadro de colaboração que o governo norte-americano encetou com a Espanha no processo de elaboração deste relatório. O responsável acrescentou que estes envios passaram também pela fronteira franco-suíça e perfizeram um total de 300 toneladas.Segundo Pablo Martim Acena, "para além desses envios houve outros de contrabando para pagar o volfrâmio". As trocas através Península Ibérica chegaram a representar cerca de 60 por cento do comércio alemão.

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