Chamadas de valor acrescentado são o novo "conto do vigário"
Apesar da detenção de cinco presumíveis autores de roubos e burlas anunciada quarta-feira pela PJ de Faro, os idosos isolados no Alentejo e no Algarve não estão a salvo de novas tentativas de extorsão. Depois do fraudulento "câmbio de escudos por euros", as chamadas de valor acrescentado são agora o meio mais comum de que agora se servem os burlões, segundo um alerta lançado pela delegação de Évora da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (Deco), que tem atendido um número crescente de vítimas deste novo "conto do vigário". Induzir os incautos a fazer chamadas de valor acrescentado é a finalidade dos misteriosos telefonemas a idosos feitos por homens que se apresentam como elementos da Segurança Social ou de centros de saúde. A GNR confirmou que, desde Junho, um número indeterminado de idosos da região tem vindo a receber chamadas de pseudofuncionários da Segurança Social, que os questionam sobre o estado de saúde e a eventual necessidade de cuidados médicos. Em caso afirmativo, "marcam" de imediato uma consulta no domicílio, deixando um número de telefone para onde chamar "se houver algum imprevisto". No dia marcado, porém, os idosos esperam com impaciência a prometida visita de "um médico e uma funcionária da Segurança Social", mas ninguém aparece.O responsável pelas Relações Públicas do comando da GNR, major Matos Sousa, confirmou há dias que a corporação tem sido informada de várias situações dessas no Alentejo e Algarve. Matos Sousa preveniu que os casos conhecidos apontam para a "possibilidade de se estar perante uma nova técnica de abordagem aos idosos" com fins de burla, como já é frequente naquelas regiões. A GNR acreditava que os burlões procuram, com os telefonemas, ganhar a confiança dos idosos, para depois, em posterior contacto, se introduzirem em suas casas e, eventualmente, ali recorrerem à violência física para lhes extorquir valores. Só que, nesta modalidade de burla, eles nunca mais aparecem, nem voltam a telefonar. Na realidade, o que eles esperam é que os idosos, fartos do atraso do médico, liguem para o número que lhes deixaram, por sinal um serviço de valor acrescentado.Foi a delegação de Évora da Deco que pôs a nu o estratagema dos burlões, revelando que o golpe da "oferta de serviços médicos" se conta entre as "mais diversas formas" usadas para induzir um crescente número de utentes a usar aqueles serviços, sem conhecimento prévio da "real natureza e, sobretudo, preços" das chamadas telefónicas de valor acrescentado.Segundo a Deco-Évora, os "iscos" usados para levar as vítimas a fazer essas chamadas têm sido os mais variados. A resposta telefónica a anúncios publicados nos jornais e a resposta a "cartas aos consumidores" anunciando-lhes prémios pecuniários são, frequentemente, ocasião de burla. Por considerar estas acções "lesivas dos direitos e interesses dos consumidores", a Deco emitiu um comunicado informando que, para identificar a natureza do serviço telefónico, basta reparar no indicativo do telefone que se marca: para os serviços de audiotexto em geral o indicativo é 601; 608 para os de vendas; 646 para concursos e passatempos; 607 para televotos; e 648 para linhas eróticas. Além disso, a Deco explica que, quanto maior for o terceiro algarismo do número, mais alta é a respectiva tarifa.Entretanto, a GNR instou os cidadãos a contactar as autoridades policiais quando receberem chamadas suspeitas, "por forma a tentar frustrar o intento dos burlões".A "oferta de serviços médicos" é a mais recente de uma série de artimanhas utilizadas por burlões contra idosos alentejanos, a mais comum das quais é a pretensa troca de escudos por euros. As maiores vítimas são pessoas que vivem em grande isolamento e sem informação, em montes afastados dos povoados, igualmente muito vulneráveis a assaltos com violência.Na quarta-feira, a Polícia Judiciária de Faro anunciou a detenção de cinco suspeitos de roubo e burla contra idosos alentejanos e algarvios. Os cinco homens, com idades compreendidas entre os 25 e os 50 anos, actuavam em grupo, e a sua detenção resultou da colaboração da PJ com unidades da GNR de Évora e do Montijo.