Jet set à portuguesa
Existe ou não jet set em Portugal? As respostas dividem-se mas, exista ou não exista, o mercado das revistas "del corazón" está bem, a crescer e recomenda-se. As opiniões de alguns dos que estão por dentro da "construção" do jet set, uma conversa com a sua figura principal e o olhar de uma socióloga que vê o fenómeno por outro prisma.
Se espreitarmos os jornais dos anos 60 para ler as descrições dos bailes e festas que então se realizavam em Portugal, então podemos garantir que já não se fazem por aqui bailes como antigamente. Portugal, em Setembro de 1968, foi a capital do jet set internacional. Por causa da festa dos Schlumberger e da famosa festa dos Patiño.Vieram Audrey Hepburn, Gina Lollobrigida, a Begum Aga Khan, os Agnellis, os Furstenberg.Em 1991 voltou a viver-se a emoção de uma grande festa com o baile veneziano dos Saviotti no Convento do Beato e o ano passado realizou-se a festa dos Pereira Coutinho. Festa organizada por Pimenta da Gama, a quem os do meio chamam "29", que também tinha organizado a festa dos Patiño. Mas a grande diferença é que os Pereira Coutinho não abriram as suas portas aos fotógrafos: nem a portugueses nem a estrangeiros. A festa foi noticiada, mas ninguém sonhou com ela porque não se viram fotografias.Carlos Pissarra, na altura da festa dos Pereira Coutinho, escreveu um editorial na revista de que é director, a "Lux", em que recordava a sua tia Maria Armanda Falcão, mais conhecida por Vera Lagoa e em que afirmava que "se Vera Lagoa fosse viva, (...), a sua crónica do baile do bilionário Pereira Coutinho seria a melhor de todas e ficaria como um documento de uma época." De facto, quando pedimos aos nossos entrevistados para voltarem atrás no tempo e fazerem uma pequena história das revistas de sociedade em Portugal todos referem Vera Lagoa e a sua coluna "Bisbilhotices", que era publicada no "Diário Popular" antes do 25 de Abril de 74. Ela é considerada por todos como a pioneira, detentora de um estilo inimitável."Vera Lagoa era a chamada cronista social da época. Ela fazia mais uma crónica de costumes. Num momento em que tudo era proibido ela ousava dizer, entre as maiores banalidades, entre o vestido cor-de-rosa e o vestido curto ou o vestido feio ou o bonito, ela ousava criticar factos que afectavam a sociedade e chamava a atenção para problemas sociais que existiam", explica Carlos Pissarra. "Aparentemente parecia que era uma coisa só de dizer se as pessoas eram bonitas ou feias e se estavam bem ou se estavam mal, mas era muito mais do que isso. Havia esse gozo de não poder dizer as coisas e de arranjar rodeios e maneiras de as dizer. Hoje em dia já se pode dizer tudo, já tudo é esperado. As próprias pessoas já dizem tudo e já não é tão fascinante.""Jet set? Cá não existe", diz peremptoriamente o jornalista e cronista social Carlos Castro. "Só se pode falar em jet set quando as pessoas são muito poderosas monetariamente ou têm um determinado estatuto. Alguém que hoje vai a um baile em Paris, depois vai a um baile na Flórida e a outro em Viena de Áustria. Pessoas que vivem esse mundo das festas de alta sociedade, o tal jet set refinado e milionário, não existe cá em Portugal. Cá temos pessoas muito bonitas, gente gira, simpática, com dinheiro, com poder, mas não têm o estatuto do jet set internacional."Podem não existir as pessoas, mas existem as revistas. Temos as mais antigas - "Nova Gente", a "Olá/Semanário", a revista "O Quê", a "Eles e Elas" - e as mais recentes: "Caras", "Vip" e "Lux". Movimentam por semana cerca de 450 mil exemplares. Os números da Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação referentes ao ano 2000 apontam a "Nova Gente" (fundada em 1976) como líder de mercado, com uma média de tiragem de 165 mil cópias. Seguem-se a "Caras" (125 mil), a "Lux" (78 mil) e a "Vip" (66 mil).Carlos Pissarra e Conceicão Pissarra são um casal poderoso e que conhece bem o meio. Ela foi editora de beleza da "Cosmopolitan" desde o número um, assumiu a direcção entre a saída de Paula Ribeiro e a entrada de Margarida Pinto Correia, e em Setembro de 96 saiu para a "Activa", onde esteve até ser convidada a ir para a 'Caras', no início de 99 . Esteve na direcção da 'Caras' até Fevereiro de 2000 e em Março foi convidada para fazer a "Lux". O seu marido, Carlos Pissarra, que estava na direcção da "Vip", também tinha sido convidado. "Fizemos a Lux os dois e a revista foi para as bancas a 8 de Maio do ano passado. No final de 2000 surgiram os novos projectos, a 'Lux Woman' e a 'Lux Deco'." Agora é directora da "Lux Woman", uma revista mensal, que saiu para as bancas a 15 de Março.O percurso de Carlos Pissarra foi diferente. Quando acabou o curso de Letras na Faculdade de Lisboa foi trabalhar no jornal "O Diabo". " Havia laços familiares que me ligavam à fundadora do jornal, Vera Lagoa, que é minha tia. Aí aprendi os primeiros passos deste sector. Estive lá três anos e depois por razões pessoais fiz uma empresa de relações públicas que durou oito anos. Desisti das relações públicas porque achei que o bichinho da comunicação social falava mais alto. Entretanto colaborei com vários jornais e revistas e fui convidado para fazer o projecto 'Vip'."Quando ela estava à frente da "Caras" e ele da "Vip" não conversavam um com o outro sobre trabalho. Exemplo disso é na mesma semana terem feito a mesma capa, com a mesma fotografia. Aconteceu quando Carolina do Mónaco casou pela última vez. "Foi capa da 'Caras' e da 'Vip' sem cada um de nós saber que seria. Mas era óbvio que fosse, porque a mesma fotografia foi capa em todas as revistas do mundo. As pessoas acharam que nós tínhamos combinado. É ridículo, não sabíamos. O Palácio só divulgou uma fotografia do casamento por isso é óbvio que fosse publicada. Era única", conta ela. "Na altura não havia comunhão de ideias. Aliás até havia um muro entre nós.", diz ele, que lembra uma diferença nessas capas. "Eu inverti a fotografia para por a Carolina do lado direito e apaguei o lenço de bolso e tu não inverteste por causa da aliança", diz, virando-se para a mulher.É mais ou menos consensual que depois da revolução de 74 surgiram novas caras nas revistas. "Houve outro tipo de pessoas que começou a abrir as casas e o tipo de pessoas que anteriormente as abria começou a fechá-las", explica Conceição Pissarra. Acrescenta o marido: "Houve o tempo de revolução em que as pessoas estavam muito contidas e depois, nos anos 80, houve a euforia normal. E a euforia passa por a pessoa se querer divertir, passa pela mulher querer ter um vestido mais elaborado e uma jóia mais refinada, passa por querer receber em casa com mais glamour."Mas o director da "Lux" não considera que este fenómeno tenha surgido só nos anos 80. "Nas revistas de antigamente já se viam as casas dos actores, fotografias das casas milionárias, publicavam-se fotografias desses bailes, tudo. Só que se calhar nos anos 80 passam a ser outras pessoas que se calhar têm que provar um lugar na sociedade, muitas pessoas emergentes, também. O que faz com que as outras se retraiam."Conceição Pissarra observa que os protagonistas de hoje são diferentes dos de antigamente e ele faz notar que hoje as águas já estão muito misturadas. "Muito mais do que hoje as pessoas que não frequentam o meio pensam. Porque realmente os emergentes estão em casa das pessoas da velha sociedade e vice-versa. Estão misturados. Porque os homens têm negócios, são parceiros, as mulheres têm negócios, são parceiras. Viajam juntas, acaba sempre por haver afinidades forçadas ou não pelos negócios ou seja pelo que for, mas acaba por haver imensas afinidades. Muito mais do que as pessoas pretendem dizer ou pensam.""Por outro lado algumas famílias estão misturadas por laços de sangue. Os filhos frequentam os mesmos colégios. Crescem juntos e ficam juntos. Muitas vezes casam e têm filhos", faz ver Carlos Pissarra. "É uma tonteria dizer que continua a haver a sociedade e a meia sociedade, já não é nada assim, vivemos outra época."Abel Dias, 51 anos, é um dos fotógrafos que mais trabalha nesta área. Tem trinta anos de carreira, pois começou muito novo a trabalhar no estúdio do pai, que também era fotógrafo. Depois da tropa começou a fazer fotografia de teatro, principalmente nas revistas do Parque Mayer, onde conheceu muita gente. Foi então convidado por Maria Alzira Bento - chefe de redacção da "Nova Gente" - para ir trabalhar para a revista. "Fiz uma dupla com a minha irmã Fernanda Dias. Estive lá 15 anos", conta. Embora seja "freelancer", trabalha mais para a revista "Caras". O fotógrafo recorda que a seguir à Revolução "ninguém queria aparecer em revistas cor-de-rosa ou mostrar as casas. Ao princípio foi difícil, as pessoas tinham medo de ser fotografadas. Depois fui fazendo uma colectânea de conhecidos e amigos que me foram ajudando no percurso."O cronista social Carlos Castro chegou a Lisboa, vindo de África, em 1975, no que define como um período muito difícil da sua vida. "Estive a fazer transformismo nuns bares: no Scarlatti e depois no Rocambole, com uma produção minha. Tive um público fantástico, desde a Natália Correia, ao Carlos Mendes, ao Carlos Cruz, às figuras da televisão da época e foi aí que comecei a conhecer essa gente", explica. "Fiz um espectáculo que foi uma charge à Lurdes Pintassilgo e foi aí que a Maria Alzira Bento, da 'Nova Gente', viu o texto e, como já me conhecia por causa de eu escrever em jornais em Luanda, me convidou para colaborar na revista."Carlos Castro já tinha passado pelo "Novo Observador", pela "Tribuna" e por vários jornais e fez parte dos quadros da "Nova Gente " de 1975 até oitenta e poucos. Agora está na "TV Mais" e a trabalhar na criação de um "site" com o seu nome. Foi autor das três primeiras galas dos prémios "Nova Gente" e começou a fazer crónica social. "Foi aí que me começaram a ligar às Danielas. A seguir à Vera Lagoa, como cronista social, fui dos primeiros a escrever sobre pessoas. A Maria Elvira Bento também escreveu bastante, mas estava diante da secretária, não vinha para a rua. Eu não! Eu vinha para a rua, vinha bisbilhotar tudo.", conta o autor de várias livros, entre os quais "O Chique e o Choque" (Ed. Hugin), onde reuniu textos que escreveu ao longo dos anos. Muitos dos que aparecem hoje nas revistas já tinham surgido nessa época. "Depois do 25 de Abril apareceram muitos patos bravos, como se dizia na altura. Gente que tinha dinheiro e que queria ser lançada - e ingenuamente ou não eram lançados. Ou porque elas iam giras e bem vestidas, pelo seu posicionamento nas festas, pela simpatia. Foram feitas várias figuras: o caso da Margarida Prieto, da Rosalina Machado que vem dessa altura, de 1977. A Ana Salazar também é dessa época, a Tita Balsemão, a Lili Caneças.""Costuma dizer-se que eu e o Abel criámos a Lili Caneças. Considero-a uma mulher inteligentíssima, com uma visão extraordinária. É uma pessoa culta, muito viajada, muito vivida. Alguém que teve tudo na vida, que resolveu abdicar daquelas mordomias todas da vida dela para estar só e para fazer uma vida diferente da que tinha com um homem riquíssimo. Gosto muito dela, não acho que seja postiça, é muito natural", afirma Carlos Castro. Abel Dias lembra que falou dela pela primeira vez na "Nova Gente" há 17 anos. "Era mulher de um famoso magnata económico e aparecia nas festas juntamente com outras pessoas. Era acessível, simpática e alguém me apresentou. Comecei a fotografá-la porque é preciso fazer um certo grupo de trabalho. Chegar às festas, ter mulheres que gostem e se deixem fotografar e que não levantem problemas. No fundo, criar personagens de revista.", explica Abel Dias. "Nessa altura já havia necessidade de tornar as pessoas conhecidas, embora menos do que hoje. O público quer saber é das pessoas que conhece ou que vai conhecendo. E para se ir conhecendo tem que se manter uma continuação da imagem. Isto é, a senhora foi a uma festa com um vestido comprido e é fotografada. A seguir vai a um chá e é fotografada. Dá uma festa, é o aniversário dela, entretanto casa um filho. Vai-se seguindo os passos da vida dela e automaticamente ela vai-se tornando uma personalidade daquela revista", acrescenta.Na altura em que Abel Dias começou a trabalhar as mais fotografadas eram a Luísa Bravo e a Maria Manuel Cirne. "Curiosamente um dia o meu director disse-me: 'Você fotografa sempre as mesmas pessoas'. Eu respondi: 'Está bem, vou escolher outras.' No dia seguinte, fui a outra festa e escolhi outras pessoas. Quando lá cheguei a reacção dele foi: 'Mas quem é esta gente?' São outras, respondi. 'Mas estas não interessam para nada!', disse-me ele. Então em que é que ficamos?".E não são só os editores: "Se bem que os leitores das revistas digam que aparecem sempre os mesmos, quando colocamos outros acham que aqueles não interessam nada", diz Abel. E dá uma explicação "como não os conhecem, não podem fazer crítica. O que é que lhes interessa bater no filho da porteira? O que eles querem é bater na Margarida Prieto: se está mais gorda, se está mais magra. Na Maria João Saviotti, se fez um corte de cabelo que não lhe vai bem. O que querem é reverem-se na Vicky Fernandes, fazerem o corte de cabelo dela, fazerem a cópia do vestido." O fotógrafo e produtor diz que chega a receber telefonemas a perguntar em que cabeleireiro é que se faz aquela cor de cabelo, ou onde é que se compram os sapatos ou a mala. Convidado a referir as mulheres que eram as rainhas do jet set de outros tempos, Carlos Castro confessa que as suas eleitas foram sempre Mercedes Balsemão, Kiki Espírito Santo ("sempre muito janota, muito elegante"), Maria Barroso ("continua a ser ao longo do tempo uma mulher extraordinária") e na sua época a Vera Lagoa ("era uma mulher muito, muito elegante"). Relembra também Ana Maria Caetano ("filha do professor Marcelo Caetano, foi sempre uma mulher fantástica, veio do Brasil, vestiu-se sempre muito bem") e Malú Futscher Pereira ("foi sempre uma mulher impecável, que se manteve elegantíssima"). E quando lhe perguntámos se havia diferenças entre as festas do Porto e as de Lisboa, responde que "o Porto foi sempre muito comodista, muito fechado. Mas no Porto havia uma Ju Távora que era fantástica e a Ana Maria Guimarães. Eram duas mulheres fabulosas."Mas não consegue dizer quais foram as festas mais marcantes a que assistiu. "Vi algumas festas muito, muito bonitas. Mas isto é tão vazio e tão supérfluo que não me lembro de nenhuma." Por outro lado, lembra que "esses casamentos, esses baptizados, essa festas de aniversários movimentam muito dinheiro. São os caterings, as produções das festas, isso é tudo negócio.".Carlos Castro é da opinião de que actualmente as revistas não criam figuras de sociedade." O social de hoje são as pessoas bonitas do teatro, do cinema, da televisão e da moda. E são sempre os mesmos. É impressionante, às vezes parecem os amigos Disney!", diz. "E a culpa não é do fotógrafo, é da pessoa que vai seleccionar as fotografias. Acho que haveria pessoas de outras áreas para se descobrir. Há mulheres giríssimas e homens com muito boa figura. Mas há um conluio muito grande, um grupo de escolha, de apadrinhamento, de amigos."Quando perguntamos ao fotógrafo Abel Dias o que é que isto de aparecer nas revistas e ser conhecido traz às pessoas, ele diz que traz notoriedade e ajuda na carreira. "Essas pessoas passam a ser queridas. Ser conhecida dá um certo privilégio em várias coisas. Para arranjar bilhetes para o teatro quando não há, para arranjar um lugar melhor no restaurante. Para arranjar se calhar um emprego." Carlos Pissarra afirma que depende do que elas querem da vida. "Primeiro podem alimentar o ego, o que para muitas pessoas é muito importante e não é pecado nenhum. Há carreiras que sobem. Acredito que uma manequim como a Marisa Cruz, depois de ser capa de duas revistas - uma semanal e uma mensal - tem uma cotação completamente diferente. E se for perguntar à agência, de certeza que está."Quanto ao facto de nas revistas surgirem mais fotografias de mulheres do que homens, Carlos Castro explica que isso acontece porque "as mulheres tem uma outra apetência para vestir, a moda é outro negócio ligado a este. As mulheres tem mais poder de apresentação do que o homem."As mulheres são sempre mais visadas, porque são mulheres as que compram estas revistas, acrescenta Abel Dias. "Muitas vezes as fotografias servem para aquilo que antigamente servia a 'Burda', aquela revista que trazia os moldes para se fazerem as roupa. Servem para fazer cópias. Para ver o que as pessoas usam e para comprarem igual.", continua Abel Dias.Por outro lado salienta que passou a ser moda os costureiros emprestarem vestidos. "É fácil para elas. Elas não compram e aparecem com os vestidos das lojas e dos costureiros. Isso é outra coisa. Como é que se podem eleger mulheres muito bem vestidas quando elas andam com os vestidos todos emprestados? Antigamente não me lembro de haver vestidos emprestados. Tenho sido mal amado por dizer isto. Mas como é que se pode julgar uma mulher pela sua maneira de vestir se ela tem um vestido que não é dela, se foi alguém que a produziu, se não é ela? O sentido de elegância de estética está muito deturpado hoje em dia."Talvez seja elucidativo que em cinco anos de 'Caras' não tenham chegado a meia dúzia as capas com homens. "Um homem não preenche o imaginário da mulher que é a compradora potencial destas revistas. Uma capa de homem significa quebra de vendas. A mulher quer ver o fato, quer ver os sapatos. A mulher projecta-se nas mulheres. Gosta de homens bonitos e aliás a ausência de homens seria um erro gravíssimo. Mas é um interesse muito diminuído em relação ao interesse que existe em ver uma mulher. É mais colorida, é mais diversificada.", afirma Conceição Pissarra. "Fizemos uma vez uma capa na 'Lux' com o Ricardo Carriço", acrescenta Carlos. "A 'Caras' já faz mais, já fez o Nicolau, já fez o Alberto do Mónaco, mas é sempre um risco muito grande. Eles é que são os príncipes, é que têm a mais valia, o título e o mundo e alimentam o imaginário das pessoas, mas depois são elas -a Grace Kelly, a Diana, a Sophie - que as pessoas neste mundo querem ver."Quando inquirimos quais são os critérios para se aparecer na "Lux", Conceição Pissarra diz que estes não são os mesmos em todas as revistas. Quando era directora da "Caras" seguia outros critérios. "Na Caras há largas páginas de pessoas que ninguém conhece. Não estou a tentar dizer que as pessoas não têm valor. Têm valor, por exemplo, porque têm uma casa fantástica, mas não são pessoas públicas. Saem na 'Caras' uma vez e nunca mais ninguém volta a vê-las em lugar nenhum. As pessoas comentavam comigo: 'quem é aquela que aparece na 'Caras' esta semana, que ninguém conhece de lado nenhum?'. Fui ouvindo isto ao longo de meses. Por isso nós definimos como filosofia de vida 'a novela dos famosos' e portanto para nós é fácil decidir quem sai na 'Lux'." Quem sai na "Lux" tem que ser famoso já. "Pode ser 20 por cento famoso ou 300 por cento famoso. Mas tem que ser uma figura. Nós não fazemos nem lançamos as pessoas. Mas capitalizamos, tornamo-la maior. Mas lançar do zero, não."A realidade é que as revistas de sociedade estão hoje a viver uma nova e diferente época. O fenómeno da televisão abafa tudo o resto. Tem havido várias capas com concorrentes do Big Brother. E todos os directores sabem que se colocarem na capa ou uma Bárbara Guimarães ou uma Catarina Furtado elas são "top of mind" em termos de notoriedade."Uma Bárbara e uma Catarina abafam em notoriedade qualquer pessoa, por muito que ela vá às festas, que seja bonita, que seja elegante, que tenha uma actividade. A exposição na televisão inverteu as coisas. E hoje em dia, os famosos, e mesmo para as pessoas da rua, as figuras do 'jet set' são muito as pessoas da televisão. Está tudo muito confundido", diz Carlos Pissarra.Por outro lado há poucos eventos e as várias revistas, semana a semana, assemelham-se umas às outras. "O material que sai numa, sai em todas. Os acontecimentos são tão parcos que eles têm que anunciar todos os acontecimentos sociais. E de uma maneira ou de outra, as festas são quase sempre as mesmas. Há uma repetição incrível de pessoas nas revistas", reflecte Carlos Castro. "Aparece uma cara bonita na televisão e tem que ser a bomba H. Os valores estão todos deturpados. Não sou careta, mas estão todos mudados. Antigamente havia um critério muito grande. Mas a verdade é que também não havia este 'boom' da televisão, só havia a RTP. Antigamente era tão difícil ser capa."Carlos Pissarra assegura que "não existe essa coisa das pessoas telefonarem para aparecer ou de pagarem para aparecer. Isso não existe. É tudo mentira." O que acontece é que se a pessoa vai entrar num filme, vai lançar um livro, pede ao agente ou ela própria telefona a avisar. Em Espanha, pelo contrário, as revistas pagam às pessoas para estas se deixarem fotografar. "Pagam às grandes vedetas e às que não são vedetas de televisão, às pessoas da sociedade. Pagam exclusivos e alimentam-lhes a vida ao longo dos anos para elas aparecerem. Elas dão exclusivo do casamento, do filho, de isto e daquilo, da ida à praia. É tudo pago."Por cá isso ainda não aconteceu. "É um círculo vicioso, a partir do momento em que se fizer a primeira vez nunca mais se pode fazer de outra maneira." Em Agosto do ano passado a revista "Lux" fez uma revista dedicada às "rainhas do jet set nacional" e escolheu quatro mulheres que "deram brado nas últimas duas décadas em Portugal": Kiki Espírito Santo ("fez a transferência do jet set do antigo regime para o actual"), Dadinha Monteiro Grilo e Cinha Jardim e ("símbolo da euforia de viver nos anos 80") e Lili Caneças ("resultado mais popular do imaginário de um povo que não tem acesso ao mundo das festas"). E escolheram sucessoras: Rita Caneças e Mónica Guimarães. Quisemos saber se hoje ainda consideram estas as sucessoras das rainhas do jet set. "Elas são fruto dessa euforia dos anos 80: a Cinha, a Lili, a Dadinha e a Kiki. Alvitramos possíveis soluções. A Dadinha tem a filha Mónica que foi relações públicas do Hotel Dom Pedro e actualmente é directora da Hermès, que está nas festas, está na moda e frequenta a vida social lisboeta. A Cinha Jardim tem filhas ainda pequenas, mas já sai com elas. Não quer dizer que elas sejam as futuras, mas nós estamos sempre à procura de outras pessoas", diz Carlos Pissarra.Abel Dias acha que em alguns casos esta exposição nas revistas passa de mães para filhas. As novas entram ou por alguma coisa que se fez " ou porque se cai no goto dos repórteres." Mas há regras a cumprir. Primeiro aparece-se fotografado ao lado de alguém que já é conhecido. Depois vai-se ganhando notoriedade e já se começa a ser fotografado sozinho.", diz. Quanto às futuras rainhas, serão, na opinião do fotógrafo: Ritinha Caneças, pintora e directora de marketing do hotel do pai. E também o casal Ricardo Figueiredo e Mónica Guimarães, filha da Dadinha Monteiro Grillo.Já na opinião de Carlos Castro, "as filhas da Cinha Jardim, da Lili Caneças e da Dadinha Monteiro Grillo ainda não são marcantes." Acha que isto vai morrer por aqui? "Não, mas hoje em dia é a loucura das figuras públicas, as pessoas que estão mais ligadas à televisão. As figuras sociais que saíram agora são os do 'Big Brother' e dos 'Acorrentados'. Não vejo pessoas a saírem de festas." É verdade que este mundo mudou. Talvez não se façam bailes como antigamente. Mas os leitores continuam a querer saber como vai a vidinha das suas figuras públicas preferidas. E a sonhar com um mundo de glamour através das fotografias das festas.