Português desafia a teoria da relatividade
O físico português João Magueijo, que trabalha no Imperial College, em Londres, anda a escrever um livro em que propõe a modificação da teoria da relatividade. O livro chamar-se-á, na versão inglesa, "Faster Than the Speed of Light" (algo como "mais rápido que a velocidade da luz"), e pode dizer-se que neste título transparece a tese defendida pelo físico. João Magueijo atreve-se, pois, a pôr em causa uma das convicções mais sólidas da ciência no século XX - a de que a velocidade da luz é constante. É sobre esta ideia que assenta, desde 1905, a teoria da relatividade de Albert Einstein.O livro ainda não está concluído. "Só estará acabado daqui por um ano. Talvez seja prematuro falar sobre o resultado final, mas será uma mistura de divulgação científica e autobiografia", conta ao PÚBLICO João Magueijo, que nasceu em Évora há 33 anos mas mudou-se para Lisboa em criança. Licenciou-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em 1989, e esteve sete anos na Universidade de Cambridge, onde fez o mestrado e o doutoramento.Os direitos de publicação foram comprados pela editora inglesa Perseus Books. E a Gradiva, conta ao PÚBLICO o director desta editora, Guilherme Valente, também já comprou os direitos de publicação em Portugal à Perseus Books. No entanto, só lá para finais de 2002 é que o livro chegará às mãos dos leitores, em várias línguas. O original será em inglês, mas João Magueijo, diz Guilherme Valente, entregará à Gradiva uma tradução em português feita por ele próprio. Sairá em Portugal ao mesmo tempo que em Inglaterra e noutros países."A Gradiva não podia deixar de publicar este livro, depois de andar a lutar pela ciência durante anos. Os físicos acham que é muito especulativo, mas é de um físico português e há sempre muito público para a astronomia e a astrofísica", conta Guilherme Valente. "Pagámos uma soma muito elevada pelos direitos de publicação em Portugal: 20 mil dólares (cerca de 4500 contos)." Mas o que faz tanta gente correr atrás de um livro que ainda não está publicado? O que tem a tese de João Magueijo de tão extraordinário? É um facto que o físico português anda nas bocas do mundo há algum tempo. Primeiro, de forma mais fechada, na comunidade científica, em artigos científicos, depois em artigos de divulgação da ciência e documentários. O primeiro artigo científico apareceu em Janeiro de 1999, na revista "Physical Review", assinado, além de João Magueijo, por Andreas Albrecht, da Universidade da Califórnia em Davis, EUA. Seguiram-se mais quatro artigos, assinados em parceria com John Barrow, da Universidade de Cambridge. A ousadia valeu ao cosmólogo português, em Abril de 2000, grande destaque no jornal britânico "The Times". O título do artigo era: "Einstein prestes a ser destronado?" E o Channel 4 preparou um documentário, em que se fala da variação da velocidade da luz, e a cadeia de televisão norte-americana ABC também o entrevistou. A tanto burburinho em torno do livro de João Magueijo, mesmo antes da publicação, não deve ser alheia toda a publicidade nos meios de comunicação social britânicos e norte-americanos. Nem o facto de a teoria do cosmólogo desafiar um dos pilares da física moderna. Questiona nada menos que a teoria da relatividade, que assenta na constância da luz: os fotões viajam, e sempre viajaram, à mesma velocidade (perto dos 300 mil quilómetros por segundo, no vácuo). Se a ideia de Magueijo - tudo menos pacífica - for um dia aceite pela comunidade científica, os livros de ciência serão reescritos e a teoria da relatividade modificada. O mais curioso é que foi o próprio Albert Einstein que o fez despertar para a ciência, com o livro "A Evolução da Física", que Magueijo leu aos 12 anos.