A incrível cadeia de Joe Arpaio
Joe Arpaio, xerife de Maricopa County (estado do Arizona, Oeste dos Estados Unidos), diz muitas vezes que "uma cadeia não é um 'country club'". Na cadeia que ele gere, esse lema é cumprido à risca. Há quem - como a Amnistia Internacional ou a organização americana de direitos civis ACLU - proteste contra os seus métodos. Mas Arpaio é muito popular na sua terra (e fora dela).A cadeia de Maricopa County é a quarta maior unidade prisional dos EUA. Joe Arpaio passou a geri-la em 1993, ano em que este antigo agente da DEA (agência de combate ao narcotráfico dos EUA) foi eleito xerife pela primeira vez. Logo que chegou ao cargo, impôs uma série de novas regras. Aos prisioneiros de Arpaio é probido fumar, beber café, ver TV sem restrições ou ler revistas pornográficas; é obrigatório usar roupa de prisioneiro listada, tipo "irmãos Metralha", e roupa interior cor-de-rosa. A comida dos detidos é mais barata do que a dos cães dos guardas. E parte da cadeia consiste numa "aldeia de tendas" no meio do escaldante deserto do Arizona. Arpaio tem uma explicação para cada uma destas bizarrias: "São todas medidas de senso comum", diz. Roupa interior cor-de-rosa? "Os detidos roubavam a roupa branca." Proibição do café? "Lá fora, quem quer café, tem de o pagar." Do tabaco? "Neste país, não se pode fumar em lado nenhum. Por que é que na cadeia havia de ser diferente?" Da televisão? "Não faz sentido estar a mostrar filmes violentos a assassinos." Uma cadeia feita de tendas? "O que serve para os soldados americanos é perfeito para um preso."Para além de interdições, os detidos de Arpaio têm obrigações. Têm de trabalhar em obras públicas, nas estradas de Maricopa County, nos seus uniformes listados, agrilhoados por correntes. Homens e mulheres: Arpaio gaba-se de ter criado a primeira "chain gang" feminina do Mundo. Para quem se sinta chocado pela ideia de mulheres a trabalhar com correntes atadas aos pés sob o sol inclemente do Arizona, Arpaio responde: "Sou um carcereiro que não discrimina. Trato os homens e as mulheres por igual. Este argumento desarma logo as feministas."Arpaio tem um particular orgulho no facto de algumas das suas medidas pouparem dinheiro aos contribuintes. Por exemplo, a alimentação dos seus detidos é a mais barata no sistema prisional norte-americano, menos de 100 escudos por dia cada um (nível atingido com a decisão recente de reduzir o número de refeições diárias de três para duas). Mas o xerife diz que, "mesmo que tivesse todo o dinheiro do Mundo", não daria condições mais agradáveis aos seus prisioneiros. Várias organizações de direitos civis insurgem-se frequentemente contra as regras da prisão de Maricopa County. Os serviços prisionais de Arpaio já foram várias vezes obrigados a pagar indemnizações milionárias a detidos que se queixaram de maus tratos. Há também quem diga que, em vez de poupar dinheiro, os métodos de Arpaio acabam por ser ainda mais caros do que a gestão normal de uma cadeia.Mas Arpaio não quer saber das críticas, porque diz que só tem de responder a quem votou nele. Além disso, a excentricidade da sua prisão valeu-lhe a atenção dos "media" americanos e internacionais, e ele gosta de falar com jornalistas.No ano passado, Arpaio inventou uma nova originalidade na sua cadeia: a primeira "webcam" no Mundo a transmitir imagens directamente de dentro de uma prisão. Quem for ao "site" www.crime.com/info/jailcam_mcso, terá acesso a imagens ao vivo de alguns corredores dos serviços prisionais de Maricopa County. O "site" foi um sucesso: entre três a dez milhões de visitas diárias, nos primeiros tempos. Arpaio diz que os detidos não protestaram por a sua imagem estar na Internet sem que lhes tenha sido pedida autorização. "Então, se estão sempre a vir cá equipas televisivas para os filmar, qual é a diferença?"