O maior piloto do mundo
O melhor de sempre na Fórmula 1? O campeão dos campeões? É impossível comparar homens (e as suas máquinas) ao longo de 70 anos mas, mesmo sabendo isso, um grupo de "sábios" do desporto automóvel aceitou o desafio e votou. Resultado: Tazio Nuvolari. Mais do que um piloto, uma lenda.
Já pensou eleger o melhor piloto de Fórmula 1 de todos os tempos? Provavelmente será tentado a avançar com uma resposta algo contemporânea - Alain Prost, Ayrton Senna ou Michael Schumacher. Quando muito recuará até aos tempos de Jim Clark ou Juan Manuel Fangio. No entanto, a resposta "verdadeira" encontra-se muito mais recuada no tempo, mais concretamente na "pré-história" da Fórmula 1, durante a década de 30. Era a época em que os carros de competição eram apenas feitos de mecânica pura e pneus com largura semelhante aos das motos actuais, enquanto "crash-tests" ou células de sobrevivência eram termos longínquos. Mas apesar da segurança deficiente, os monolugares de entre guerras eram rápidos. Tão rápidos que aquilo que seria hoje um simples acidente foi demasiadas vezes sinónimo de morte. Os pilotos de então eram considerados heróis, já que arriscavam constantemente a vida ao guiar automóveis, salvaguardados apenas pela própria perícia. O maior de então e de sempre terá sido o italiano Tazio Nuvolari. É pelo menos o que indica a opinião de um painel de cinco especialistas de diferentes nacionalidades convidados a escolher os seis melhores de sempre. Este júri foi ouvido pela edição 2001 do "Catalogue de la Revue Automobile", uma publicação bilingue, em francês e alemão, distribuída aos jornalistas presentes na recente edição do Salão de Genebra.Para Gianni Cancellieri, a escolha de melhor piloto recaiu sobre Nuvolari. Antigo chefe de redacção das revistas "Autosprint", "Ruote Classiche" e "Auto", editor da secção automóvel do diário "Gazzetta dello Sport" e autor de diversos livros especializados, Cancellieri justifica a escolha com factores como a polivalência - Nuvolari correu em 14 marcas e em vários tipos de piso e continentes - ou o facto de o seu compatriota ter enfrentado adversários de grande valia, muitas vezes com material de inferior qualidade. Depois de Nuvolari, Cancellieri elegeu, por esta ordem, Juan Manuel Fangio, Rudolf Caracciola, Stirling Moss, Jim Clark e Ayrton Senna.Gérard Crombach foi correspondente do "Autosport" britânico a partir de 1948, e em 1962 fundou em Paris a revista "Sport Auto". Ao longo da sua carreira assistiu a 565 Grandes Prémios, de que resultaram outras tantas reportagens. Um pecúlio mais do que suficiente para escolher como "número um" o argentino Juan Manuel Fangio, pentacampeão do mundo ao serviço de quatro marcas diferentes. Crombach esclarece, no entanto, não existir uma resposta objectiva para esta questão, tal as condições variam de temporada para temporada. Por isso deu dez pontos a todos. Apesar de nunca ter visto correr Nuvolari ao vivo, Crombach coloca o italiano na segunda posição, à frente de Stirling Moss, Jim Clark, Jackie Stewart e Ayrton Senna.Também autor de livros especializados, Günther Molter foi redactor desportivo da revista "Auto Motor und Sport" e director da edição alemã da "Auto Jahr". Em 1973, tornou-se responsável de imprensa da Daimler-Benz AG (Mercedes). Apesar de Nuvolari não ser a sua primeira escolha, Molter recorda uma das mais célebres vitórias do transalpino: "Eu vi-o em 1935, ao volante do Alfa Romeo P3 da Scuderia Ferrari a bater-se contra os flechas de prata (Mercedes), muito superiores, em Nurburgring."O seu sexteto é também apresentado "com todas as reservas, já que é impossível comparar pilotos de diferentes épocas". Ainda assim, o seu eleito é Rudolph Caracciola, por ter vencido dez vezes no antigo traçado de Nurburgring, delineado a partir de uma estrada normal, e que Molter considera como "o mais difícil do mundo". A seguir a Caracciola, coloca Juan Manuel Fangio, Tazio Nuvolari, Hermann Lang, Christian Lautenschlager e Bernd Rosemeyer.Curiosamente, a última opção de Molter é a primeira escolha de Chris Nixon. "Bernd Rosemeyer tinha um talento incrível", recorda. Rosemeyer, que tal como Nuvolari, iniciara a sua carreira nas motos, viria, no entanto, a perder a vida ao tentar estabelecer, em 1938, um recorde mundial na auto-estrada Frankfurt-Darmstadt. Era a época de homens de têmpera e que, como diz Nixon, pilotavam carros "incrivelmente potentes e quase impossíveis de guiar".A seguir a Rosemeyer, este colaborador de longa data de diversas publicações inglesas como "Classic&Sportscar", "Classic Cars", "Autosport", "Sportscar International", entre outras, para além de autor de diversos livros sobre automóveis, escolhe Stirling Moss, Tazio Nuvolari, Juan Manuel Fangio, Jim Clark e Ayrton Senna."Arte" e "virtuosismo" são duas das palavras eleitas por Adriano Cimarosti para justificar a escolha do seu piloto predilecto. "Já que é preciso escolher um, esse terá de ser Nuvolari", sentencia o jornalista desportivo da "Automobil Revue" desde 1961. Também autor de livros como "Le siècle du sport automobile", "Carrera Panamericana Mexico" ou "Grand Prix Suisse", Cimarosti baseou a sua escolha em conversas tidas com alguns que privaram com o "Mântuano voador" - epíteto atribuído a Nuvolari por ter nascido na província italiana de Mântua.A seguir a Nuvolari, Cimarosti elege também Fangio, recordando as palavras um dia proferidas por Stirling Moss: "Nos treinos eu podia fazer o melhor tempo possível, que Fangio em seguida sentava-se no seu monolugar e ganhava-me um ou dois décimos de segundo. Era simplesmente o melhor." No coração deste especialista em desporto automóvel seguem-se Rudolph Caracciola, Jim Clark, Ayrton Senna e Stirling Moss.Feitas as contas, e seguindo o sistema de pontuação actualmente em vigor na Fórmula 1, a vitória sorri a Tazio Nuvolari com 38 pontos, seguido de muito perto por Juan Manuel Fangio com 31. Rudolph Caracciola fecha o pódio, mas a uma distância considerável, totalizando 18 pontos. É bom sublinhar a subjectividade de uma escolha como esta, aliás invocada pelos cinco membros deste júri, mas do virtuosismo de Nuvolari não parecem restar dúvidas.