Universo expande-se cada vez mais depressa
O telescópio espacial Hubble descobriu uma supernova - uma estrela que explodiu e, por isso, tornou-se extremamente brilhante - a mais de 10 mil milhões de anos-luz da Terra. Quer isto dizer que a luz daquela estrela moribunda veio de um Universo jovem e que levou todos aqueles anos a atravessar o espaço até chegar ao nosso planeta e às câmaras do Hubble. O que esta supernova tem de importante é que confirma que o Universo está em expansão acelerada, e cada vez mais depressa. Ao que parece, a culpa é de uma misteriosa força repulsiva que contraria o efeito da gravidade.Quem primeiro falou desta força repulsiva, que afasta as galáxias umas das outras, foi Albert Einstein, na teoria da Relatividade Geral, publicada em 1915. Chamou-lhe constante cosmológica: sem esta força repulsiva ou anti-gravidade, o Universo acabaria por colapsar sobre si próprio, sucumbindo à força de gravidade que atrai a matéria. Tal como muitos outros cientistas do seu tempo, Einstein pensava que o Universo era estático e imutável. Por isso, acrescentou às suas equações a constante cosmológica, uma espécie de força repulsiva que cancela a força da gravidade impedindo, assim, a mudança. Mas pouco depois do astrónomo Edwin Hubble ter feito a descoberta, em 1929, de que o Universo está em expansão - ao observar que a luz das galáxias sofre um desvio para o vermelho no espectro electromagnético, o que significa que se afastam de nós e, logo, que o Universo continua em crescimento -, Einstein considerou a constante cosmológica como a "maior asneira" da sua vida. Afinal, parece que a maior asneira de Einstein estava correcta, diz agora a equipa de Adam Riess, do Space Telescope Science Institute. A imagem tirada pelo telescópio Hubble, em 1997, da supernova 1997ff, a mais distante alguma vez captada, mostra a expansão rápida do Universo e que, na interpretação de Riess, se deve à misteriosa força prevista por Einstein. Quando a estrela explodiu e se tornou uma supernova, o Universo - cujas últimas estimativas apontam para que se tenha formado há 13 mil milhões de anos, no famoso Big Bang - tinha um quarto da actual idade. Depois do Big Bang, a força repulsiva era menos poderosa que a da gravidade nesse Universo mais pequeno. O resultado, segundo Riess, é que nos primeiros quatro mil a oito mil milhões de anos o Universo se expandiu de forma lenta. Mas depois, e após ter crescido até um ponto em que a força repulsiva se sobrepôs à gravidade, a expansão acelerou-se."A supernova aparece relativamente brilhante, uma consequência do Universo ter abrandado no passado (quando a supernova explodiu) e só recentemente acelerou", explica um comunicado de imprensa da agência espacial norte-americana NASA. "[A supernova] mostra-nos que o Universo se comporta como um condutor que abranda quando se aproxima do sinal vermelho e depois acelera quando fica verde", comenta, por sua vez, Riess. De resto, não é a primeira vez que surgem dados sobre a expansão acelerada do Universo. Em 1998, duas equipas de astrónomos afirmaram isso mesmo, depois do estudo de supernovas longínquas. A força responsável por essa aceleração - a força repulsiva ou energia negra, como também lhe chamam - venceu a gravidade nos últimos milhares de milhões de anos, disseram.O astrofísico português João Alves, que trabalha no Observatório Europeu do Sul (ESO), perto de Munique, na Alemanha, comenta assim este anúncio: "Embora já tivesse havido indícios de que a expansão do Universo está a acelerar (muito recentes também), esta parece ser a prova mais sólida. Isto é muito importante para a cosmologia: o Universo não está simplesmente a expandir-se, mas fá-lo cada vez mais depressa. Isto vai contra todas as teorias que predizem que a expansão estaria a abrandar. A confirmar-se com mais observações, este é sem dúvida um resultado histórico."O mesmo tipo de comentário é feito por Michael Turner, astrofísico da Universidade de Chicago, no "site" Spaceflight Now: "A descoberta de que o Universo está a expandir-se e não a abrandar será considerada como uma das mais importantes dos últimos 25 anos." Ao jornal "The New York Times", Turner acrescentou: "Se Einstein cá estivesse, ganharia outro Prémio Nobel pela sua previsão da gravidade repulsiva."Na comunidade científica, chegou-se a um consenso de que essa força repulsiva seria a responsável pela expansão do Universo. Mas não se conhece ainda a sua natureza, refere João Alves. "Nem sabemos se é matéria ou energia, embora já haja uma espécie de consenso sobre esta energia negra, que revela a nossa ignorância."Dado que o Universo não pára de se expandir, e cada vez mais rapidamente, será que o fará para sempre? Neste momento, responde João Alves, ninguém tem uma ideia clara. Se se expandir eternamente, tudo ficará cada vez mais longe, ao ponto de, se olhássemos para o céu, não veríamos as estrelas nem as galáxias.