Cinco mil anos de história da farmácia em exposição
A partir de hoje, o Museu de Farmácia, situado nas instalações da Associação Nacional de Farmácias, em Lisboa, reabre ao público para mostrar a mais completa exposição de história da farmácia - cinco mil anos de manipulação e aplicação de unguentos, químicos e compostos ao serviço da saúde, deste o tempo da civilização egípcia à grega e romana, passando pelas civilizações orientais, maia e asteca. A entrada, nos primeiros tempos, é livre. Depois, passará a custar mil escudos, com direito a levar uma lembrança para casa. A velha farmácia Liberal da Rua Rosa Araújo, em Lisboa, perto da Avenida da Liberdade, com o seu mobiliário e decoração novecentista, passou para a Rua Marechal Carmona, nº 1, sede da Associação Nacional de Farmácias (ANF). É a reconstituição do ambiente desta farmácia, propriedade do químico e farmacêutico Alcindo Teixeira e um espaço conhecido de muitos lisboetas, que dá as boas vindas aos visitantes do Museu da Farmácia. João Neto, historiador e director do museu, faz a visita guiada da exposição. Para além da reconstituição da Farmácia Liberal, os primeiros momentos da exposição são dedicados à farmácia portuguesa. É aí que se pode ver a única farmácia oitocentista do país, vinda de Paços de Sousa, perto de Penafiel, e que funcionou até 1994, ou a reconstituição da farmácia do Mosteiro de São Vicente de Fora, com a zona de fogo, onde se preparavam os medicamentos, a dispensa, a zona de arrumação e o hortus medicinal, onde se plantavam as ervas com efeitos farmacológicos. O trabalho de reconstituição, em miniatura, é fruto de um ano de investigação: "É a nossa homenagem a Frei Caetano de Santo António, responsável por esta farmácia, e que foi o primeiro elemento da igreja a dizer que os químicos eram bons, numa altura em que os fármacos estavam muito ligados à bruxaria", explica João Neto.A recriação destes cenários de farmácia, com o mobiliário, instrumentos e as porcelanas da época, levaram quase vinte anos a reunir: "Pedimos, desde 1981, aos farmacêuticos portugueses que entregassem o espólio das farmácias mais antigas, para que fosse preservado no museu. É que nos anos oitenta assistiu-se a uma grande remodelação das farmácias nacionais e tínhamos medo que a história se perdesse", diz João Neto, acrescentando que então Portugal era o único país da Europa sem um museu nesta área.Mas não são as reconstituições do ambiente das farmácias portuguesas, ao longo da história, que justificaram o facto do Museu da Farmácia estar fechado mais de meio ano, uma vez que estes ambientes já existiam no museu, aberto desde 1996. A razão da remodelação, que justifica a reinauguração de hoje, deve-se ao facto, inédito na Europa, do Museu da Farmácia exibir, a partir de agora, a maior exposição de artigos de história da farmácia: uma retrospectiva de cinco mil anos, com peças de todos os continentes do mundo e de todas as grandes civilizações."O homem desde sempre que tentou combater a doença", explica João Neto, apontando para um pote egípcio usado para manipular fármacos: "Esta é a peça de museu mais antiga em território português - data de 3500 anos antes de Cristo", explica o especialista. Mais à frente o director do museu apresenta "o farmacêutico mais antigo da casa". Trata-se de uma estatueta que representa um preparador de unguentos egípcio.João Neto explica que andou a correr mundo, juntamente com a sua mulher e colega de trabalho, Paula Basso, para reunir a colecção, mas a preocupação era sempre uma: "Quisemos não só trazer para Portugal peças que ilustrassem da melhor maneira a história da farmácia, mas também que essas peças fossem inexistentes em Portugal, para que o património nacional saísse enriquecido com este investimento", explica.Entre quase 13 mil peças, João Neto não hesita em escolher aquela que considera a mais significativa da colecção. Aponta para um pequeno vidro, de cor escura, e diz: "Esta é para mim a peça mais importante do museu. É uma cultura de penicilina, assinada pelo próprio Fleming, que chegou até nós através de um dos seus descendentes." Este investigador descobriu a penicilina em 1929.O Museu da Farmácia está aberto ao público a partir de hoje, entre as 10 e as 18h00, durante a semana. Ao fim-de-semana, o horário será posteriormente definido de acordo com a adesão à exposição. Mais tarde, a direcção do museu pensa cobrar mil escudos pela entrada, mas o visitante leva uma prenda para casa: uma lembrança, escolhida de entre os artigos da loja do museu, no valor do bilhete de entrada.