"Quem tem ética passa fome"
Pensa que o Big Brother é como um espelho, onde as pessoas podem reflectir sobre si próprias e o seu mundo. Trabalha ininterruptamente porque pensa ter um dom. Acredita mais no sobrenatural, na reencarnação e nos búzios do que na Ética. Sabe que é considerada a rainha do telelixo e é desprezada pela elite dos media. Quis vencer na televisão para compensar a mãe pelo desgosto de ter uma menina feia. Gosta de homens mais novos mas tem medo do amor. Teresa Guilherme.
[-Acredita no Além? - Acredito, não. Eu vivo assim. - Mas faz uma separação entre essas coisas e a vida do dia-a-dia? - Nunca. Se fizesse isso estaria morta.- E toma as suas decisões importantes com base em vozes do Além. - Sempre. Embora raramente as vozes cheguem até nós à velocidade que precisávamos".- Onde é o Além?- O Além são outros níveis. De vibração, de energia. Estão à nossa volta. Estão aqui mesmo, só que nós estamos noutro plano.]R. A culpa. A pessoa que lhes vai apontar o dedo e dizer: tu fizeste isto. P. É o verdadeiro Big Brother. Como é que sente nesse papel?R. É divertido ver até onde se pode ir sem ferir susceptibilidades. Nem sempre se consegue, porque muitas vezes eles saem do confessionário e vão chorar e pedem psicólogos, é um facto. P. Por vezes dá a impressão de que quase os obrigam a ter romances uns com os outros. Isso é deliberado, em concertação com a Endemol e a TVI?R. Nada. P. Não podem fingir ignorar que as audiências oscilam consoante o que acontece na casa. Não tentam influenciar os acontecimentos?R. Se tentam, não tenho conhecimento.P. A única vez que pareceu que a Teresa Guilherme não estava confortável no seu papel foi após o episódio do pontapé do Marco. Foi muito agressiva, ao contrário do seu estilo habitual. Aquilo não estava no programa? O que se passou?R. Eu gostava do Marco. Mas ele fez aquela coisa impensável que é um homem bater numa mulher. Usou a força física de homem para combater a força verbal dela. Isso representou para mim...P. Toda a opressão da mulher...R. Exactamente. Todos os talentos de mulheres massacradas pela força física dos homens.P. O que pensou fazer?R. Avisei a Endemol e a TVI de que a minha postura era: ou não falava com ele, que era o que eu queria...P. Preferia que ele não estivesse lá.R. Preferia. Porque a minha atitude em televisão, enquanto apresentadora, é a da tia simpática. Às vezes digo coisas horríveis mas sempre com um sorriso. Nunca me posicionei como a vingadora das mulheres. As pessoas sabem que sou feminista, mas nunca me tinham visto no meu melhor. E viram naquele dia. P. Qual foi a atitude da Endemol?R. Eu pedi autorização. E apresentei as perguntas que ia fazer. Se me tivessem dito que não, eu não entrevistava. Mas foi ao contrário. Deram-me o maior apoio. Claro que depois foram lá, e estiveram até ao fim, com medo. P. O raspanete teve o resultado que pretendia?R. No dia seguinte, o homem de que ninguém gostava tornou-se um herói nacional. As pessoas desataram a votar em massa na Sónia, que saíu naquele dia.P. Não achou isso estranho?R. Estranho? Achei horrível. Uma coisa vergonhosa. P. Mas dado o correctivo, o Marco ficou perdoado.R. Eu sou como uma mãe para eles. Dou um puxão de orelhas quando se portam mal...P. Uma violência como aquela dificilmente pode ser vista como uma asneira de criança. Ele podia ir preso.R. Sim, ela podia processá-lo, claro. Mas qual era o meu papel? A Sónia encantada com ele... A atitude mais extraordinária de tudo foi a dela, que achou que mereceu a agressão. P. Naquela altura, não pôs em questão o programa, tudo aquilo?R. O que eu senti foi: a festa acabou.P. Mas aquilo só ajudou à festa.R. Para mim, não. Mas isto mostrou que quem manda no programa é o público.P. E acha isso positivo.R. Acho. Nós somos meros espectadores.P. Não tem nenhuma preocupação ética em relação ao programa?R. Nenhuma. Acho isso um disparate.P. São pessoas postas numa situação especial e nós observamo-las, como cobaias.R. Cobaias de quê? O interessante é que não estamos a ver como elas reagem, mas como reagiríamos se estivéssemos no lugar deles.P. Sim, aquilo acaba por reflectir a sociedade. A violência doméstica também existe cá fora.[- Os planos do Além interferem com o nosso?- Interferem, a toda a hora e a todo o instante. E nós também interferimos com a outra dimensão. Para já, é bastante reconfortante imaginar que há reencarnação e que voltamos para limpar os erros do passado.- Acredita na reencarnação?- Acredito, não. Tenho a certeza.- A certeza como? Tem provas?- Fortíssimas, do dia-a-dia. Se fizermos um exercício durante uns anos que é estudar as coincidências...]R. As raparigas e os rapazes negarem que estão envolvidos o que é senão o medo do preconceito? Pensam: quando não estiver ninguém a olhar, vamo-nos embrulhar.P. Isso é normal. As pessoas não vão para a cama umas com as outras com câmaras a filmar. Em princípio.R. Sim, mas é o sentimento de culpa.P. Por que acha que este tipo de experiências nunca se fez na Ciência?R. Talvez porque ninguém se dispôs a isso...P. Se pagassem... O Big Brother não tem dificuldade em arranjar candidatos. O problema é que a Ciência tem ética.R. Não tenho a certeza. Cada um tem de decidir da sua vida. Os concorrentes vão para ali para se conhecerem melhor, para crescer. P. O Big Brother é uma experiência proveitosa para eles?R. Sim. Mas não acho bom a imensa popularidade que ganham cá fora. Isso deve ser de loucos.P. Mas isso é a principal coisa que lhes acontece. Ficam populares sem terem feito nada. Faz parte do programa, não é? Já se sabia...R. Não, ninguém sabia.P. Havia o exemplo do que aconteceu nos outros países.R. Assim tanto? A verdade é que quando eles saem não estão preparados para aquilo. Uma coisa curiosíssima no Big Brother, que eu também não sonhava: na casa, eles nunca falam das suas vidas cá fora. Não falam dos namorados, nem dos pais...P. Fingem que a vida é aquilo.R. O desafio é esse. Querem mostrar como são, eles próprios, naquele momento...P. Porque o público é isso que quer?R. Eu acho hoje em dia que os formatos inteligentes em televisão vão atrás das necessidades de divertimento e de emoção...P. O que têm as pessoas a ganhar em ver o Big Brother?R. Estão a observar-se a si próprias na sua realidade. O voyeurismo pode ter-se transformado em curiosidade sobre a Humanidade. Mas isso já acontece há muito tempo. Tudo começou com os Apanhados, há uns 20 anos ou mais.P. O Big Brother é o expoente máximo desse mesmo conceito.R. Até hoje.P. O que virá a seguir?R. Não sei. Pode voltar tudo para trás, mas eu duvido.R. Não há qualquer limite ético.R. Tenho muita dificuldade em perceber... A ética não pode contrariar o que toda a gente quer. Isso acaba também por ser a ética. Há bocado falávamos de pontapés. As pessoas foram a correr condenar a rapariga. Isso é um preconceito, mas também faz parte da ética.P. É essa ética que condenava a rapariga agredida que devemos seguir?R. Não, isso é o preconceito.P. Mas o preconceito é que levou a melhor.R. O preconceito leva sempre a melhor. Mas as pessoas andaram 15 dias a discutir uma coisa que nunca discutem. Nada é por acaso. O Victor, que disseram que era gay, saiu da casa na semana em que se discutiu na Assembleia a união de facto para os gays. Cada pessoa tem a sua função. Se calhar a do Victor foi fazer debater esse tema...[- Tudo isso faz parte de alguma religião, de algum sistema de crenças existente, ou é uma visão do mundo própria, uma miscelânea de teorias de várias religiões?- É a minha maneira de ver. É o que eu acho que toda a gente devia fazer: ter a sua própria religião.- É católica?- Não. Mas acredito em Deus, e que a fé move montanhas. Quando se pede a Deus, ou se faz uma oração... A oração é a maneira de as pessoas falarem consigo próprias.- Só nos falta chegar à conclusão de que o Big Brother é uma religião.- Sim, é uma maneira de observar o mundo. Sabe por que é que eu fui apresentar o Big Brother?]P. Não se viu grande debate desse tema.R. Não é debate, mas fala-se.P. Se não há debate, é como uma cena qualquer que tivéssemos visto na rua.R. Na rua, nos cafés, em casa. O verdadeiro debate do Big Brother passa-se com pessoas normais que nunca debatem coisa nenhuma. Quando andam a falar sobre o Pedro e a Sofia, o que estão a discutir é o preconceito da infidelidade.P. Falar das coisas não significa pô-las em questão.R. Então não significa?P. As pessoas falam do Big Brother como antes falavam da vida dos vizinhos.R. O Big Brother faz as pessoas viverem melhor consigo próprias. É preciso terem os olhos abertos para as coisas que acontecem.P. E para coisas que ainda não sabiam que queriam. Ser surpreendidas.R. Mas se as pessoas não querem ver, o que se pode fazer? Eu sempre achei que em televisão se devia dar o que as pessoas querem mais um bocadinho.P. É isso que faz?R. Toda a vida fiz isso. Veja o exemplo de um programa que foi polémico na altura: o Ai os Homens. O que era o bocadinho mais? O conceito de que os homens podem fazer gracinhas para as mulheres. Fazer strip tease, serem sedutores. E as mulheres podem dizer não. Atirá-los à água.P. Era essa a mensagem?R. Era. E é curioso como o Ai os Homens, que há cinco anos foi um escândalo, hoje seria um programa para crianças. O que acontece é que a nossa sociedade evolui a uma velocidade...P. Isso é óbvio, mas significa que à televisão só lhe resta ir atrás da sociedade?R. Exactamente. Por que é que o Big Brother é uma coisa chocante? Não é porque estão umas pessoas fechadas numa casa. É porque milhões de espectadores querem ver pessoas fechadas numa casa. E porquê? Porque estão fartos de serem alimentados com a ficção dos acontecimentos. O que é a ficção? É a vida vista por uma certa pessoa e depois escrita...P. É a vida com uma interpretação. A realidade não se esgota naquilo que parece...R. São muitas interpretações. P. Não há pois limites para o que se pode mostrar da vida em directo. E a morte em directo? Se as pessoas quisessem ver alguém a morrer num programa?R. Vamos acabar por ver isso, acho eu.P. Não tem nenhuma objecção ética.R. Não, ética não tenho. A ética é uma coisa muito complicada para mim. É a palavra errada para usar. O que é que é ético? Todo o que é subjectivo, para mim, não tem valor. A minha verdade é tão boa como outra qualquer.P. Teremos então a morte em directo, mal os estudos digam que as pessoas querem ver.R. Não tenho a certeza de que queiram. As pessoas têm muito medo da morte. Devia ser uma coisa presente, acho que sim. Se tivéssemos uma consciência da morte presente viveríamos melhor. E isso era uma coisa gira de poder passar na televisão, sem ser uma exploração total da dor.P. Uma exploração? Pela mesma lógica do Big Brother, o facto de se mostrar a morte serviria também para as pessoas se verem ao espelho, se compreenderem e discutirem.R. Sem dúvida. A maneira como isso seria posto na televisão é que podia ser pela positiva ou pela negativa.P. Mas não devíamos orientar nada, não é? No Big Brother as pessoas gostam tanto de ver o amor como as discussões e os pontapés.R. Claro que sim.P. As pessoas gostariam talvez de ver o horror da morte, e não discursos moralistas sobre como deveríamos encarar a morte.R. Não acho que as pessoas queiram ver a morte.P. As pessoas páram para ver os acidentes.R. Sim, mas isso é para ver o sangue.P. Gostam de ver um ferido esvair-se em sangue, mas se morrer vão-se embora?R. Talvez.P. Ou talvez queiram ver tudo.R. As pessoas querem ver os outros morrer, não ver-se reflectidas nos outros que morrem.P. Qual é a diferença entre ver alguém a morrer num acidente ou em directo na televisão?R. A nossa própria morte é um grande tabu para nós próprios. Ainda não estamos prontos para desmistificá-la.P. Só isso nos livra de ter uma espécie de Big Brother com um moribundo. Quando as sondagens disserem que se pode avançar, não vê nenhum óbice.R. Se a pessoa que está a morrer concordasse, não.[- Porque é que foi apresentar o Big Brother?- Há dois anos que não apresentava nada. Apresentar é a coisa que me dá mais sofrimento. Detesto. Uma manhã, estava no cabeleireiro e pensei: está na altura de apresentar um programa. - E isso aconteceu.- Dois dias depois. O José Eduardo mandou perguntar a uma pessoa que trabalhava comigo se eu estava interessada...- Aí houve uma intervenção do Além.- Como em tudo.]P. É por espírito de missão que trabalha tanto? Ou para ganhar dinheiro?R. Houve uma altura que era para ganhar dinheiro. Agora... Eu acho que tenho o dom de comunicar, de passar uma mensagem. De divertimento, de emoção. Obrigar as pessoas a vibrar. P. Portanto, espírito de missão.R. Eu sacrifiquei-me ao público. Porque a maior parte das pessoas que trabalham em televisão têm um boneco televisivo. Eu não tenho. Sou a mesma aqui ou na televisão. Sou um personagem. E ao contrário da maior parte dos produtores, eu estou presente nos programas.P. Controla todos os pormenores?R. Faço tudo. Os programas estão sempre fechados na minha mão.P. Como é que consegue? Neste momento quantas coisas tem a funcionar ao mesmo tempo?R. Estou a fazer o Lux, o Emoções Fortes, o Agora É Que São Eles... À noite, estou na orelha do Júlio Isidro, para lhe dar as pontuações e lhe dizer barbaridades para ele se descontrair... [ri-se]P. Que barbaridades?R. O Júlio é uma pessoa muito formal... também estou na orelha do Henrique Mendes, que é uma pessoa mais descontraída. Um dia, o programa estava a correr mal, um concorrente era um chato e eu disse-lhe uns dez palavrões seguidos pelo auricular. 'Esse filho da puta desse...' Dessa vez ele riu-se tanto que teve de parar o programa. Digo-lhe: 'Henrique, está a olhar para essa coelhinha...' Com o Júlio é a mesma coisa. 'Oh Júlio essa foi boa!'P. Que faz mais?R. O que a gente gosta mais de fazer aqui no escritório são galas de música.P. Porque continua a fazer isso?R. São coisas giras. E as festas de Natal, o divertido que é fazer! P. Explique lá como se consegue trabalhar tanto?R. É trabalhando sempre. Ao sábado, ao domingo. Ontem estive na TVI até às 9 da noite. Depois fui para casa ver os formatos novos que o Moniz me trouxe de Las Vegas.P. Hoje é uma cara da TVI.R. Não. Eu quando aceitei apresentar o Big Brother disse ao Moniz: eu não sou uma cara da TVI. Por isso não conte comigo para ir às festas.P. Nunca veste a camisola da estação?R. Não. Não acho que não se possa servir dois senhores, como diz a Bíblia. Acho que pode. As pessoas contratam-me porque eu sou perfeccionista e quero fazer as coisas o melhor possível, mato-me até as coisas estarem bem feitas.P. Na prática deve ser difícil fazer coisas para várias estações que são concorrentes.R. Não. Antes de ir apresentar o Big Brother, pedi uma audiência ao presidente da RTP, e ele não pôs qualquer problema.P. Mas com a SIC a história foi diferente.R. Aí foi o Rangel que me baniu, mas foi muito antes do Big Brother.P. Baniu porquê?R. Porque eu quis trabalhar noutras estações. E ele tem essa perspectiva que é: se vou fazer um programa para outra estação, se vai para o ar, vai ser concorrente, e não se podem servir vários senhores. Ora eu acho que isto é um negócio...P. Mas pondo a sua imagem a render para outra estação estava a estragar o negócio dele. O Rangel fez-lhe um ultimato?R. Disse: 'Cada programa que fizer noutro canal é um a menos que faz aqui'. Ao que eu respondi: 'Por este andar, qualquer dia não trabalho cá. Tenho tanta coisa a fazer para os outros canais...' Foi o que aconteceu. Quem é que ficou a perder? É melhor perguntar-lhe a ele se valeu a pena a sua guerra santa. Se não teria sido melhor ficar sossegadinho...P. Quando começou a fazer o Big Brother, a TVI começou a subir. Sente isso como uma causa sua?R. Foi sorte. Mas acho o máximo estar no meio desta briga.[- É curiosíssimo o que aconteceu com o Zé Maria. Antes do início, fez-se um ensaio para as câmaras, na casa, com figurantes. Um deles era um tipo com umas barbichas, muito engraçado. Na Endemol ficaram tão encantados com aquele rapaz que decidiram ver se havia alguém parecido com ele. Encontraram o Zé Maria, que era suplente. Era o 12º, não deveria entrar no programa. Mas era extraordinariamente parecido com aquele figurante. À última hora foram buscá-lo. Foi um fenómeno, acabou por ganhar.- O figurante foi um enviado do Além.- Fazia parte do plano.- O plano vai levar-nos onde?- À perfeição.- Encarnamos em seres cada vez mais perfeitos?- É triste mas não. O meu pânico é que volte, finalmente, como loura burra.]P. Já reparou que a estação para onde vai começa sempre a subir?R. A RTP tinha 60 por cento de share quando eu saí de lá, para a SIC, que tinha 10 por cento. Fui despedir-me do Moniz, que mandava na RTP: 'Desculpe lá, mas o que me oferecem na SIC para fazer é muito mais aliciante. Estão a começar, é giro'. A SIC foi subindo, depois estabilizou, começou a ser o elefante, enquanto as pulgas começavam a tentar subir. É muito mais giro ir ajudar as pulgas...P. Antes de ser produtora de televisão, quis ser cantora...R. Queria mas achava que não tinha talento.P. Actriz?R. Sim, fiz um curso. Mas o professor disse-me um dia que eu andava na rua como se estivesse num palco. Era uma personagem interessante. Mas quando tinha de fazer o papel de outra pessoa era apagada.P. Desistiu.R. Acabei o cursinho, mas o que me divertia mais era a parte da encenação, da construção dos decors... P. Decidiu que não ia ser artistaR. Percebi que ia ser uma brilhante espectadora. E descobri depois, trabalhando na rádio, que havia uma coisa muito mais maravilhosa do que ser artista, que é ser produtora, isto é, poder ser todos os artistas ao mesmo tempo. É dar aos outros a oportunidade de mostrar o seu dom. P. Vê a produção como um actividade criativa?R. É a minha arte. O meu dom é pôr outros a fazer as coisas. Apresentar é uma espécie de hobby doloroso. Bem pago, porém. Lá vou cedendo de vez em quando.P. Não sente uma necessidade de aparecer à frente das câmaras?R. Não. Só de pensar que vou apresentar um programa já me dão náuseas. Se pudesse deixava já. P. Então porque não deixa?R. Não posso. Se virmos bem, a minha vida como produtora mudou muito desde o Big Brother. É uma componente do trabalho. P. Depois da rádio, o que foi fazer?R. Concursos. Conheci o Abel Dias, que organizava passagens de modelos, e me convidou para fazer uma sociedade de divulgação. Mas o Raúl Durão, com quem eu vivia, não me deixou. Lá acabámos por fazer mais tarde a empresa e produzir passagens de modelos e lançamentos de produtos. Ainda fiz as festas de Lisboa, e só depois tentei a televisão. Comecei a fazer o Eterno Feminino. Mas nunca pensei que fosse ficar conhecida. O programa era no canal 2 às 5h30 da tarde.P. A ideia foi bem recebida?R. Era para ser um magazine semanal, feminino. Se pensarmos que na altura não havia nenhuma revista feminina... O projecto foi chumbado no primeiro canal porque, explicaram-me, não havia público para uma coisa só dedicada às mulheres.[- Como funciona o mecanismo da reencarnação?- Quando nascemos, escolhemos a família onde vamos reencarnar, com problemas próprios para resolver. Uma vez no Brasil entrevistei uma especialista em vidas passadas. Perguntei-lhe pelo Manuel Luis Goucha. Ela disse que eu e ele tínhamos sido irmãos noutra vida em que tínhamos tido uma competição feroz, que nos fez zangar um com o outro. E então, a razão por que voltámos a encontrar-nos, nesta encarnação, foi para resolvermos esse problema. Ora eu conheço o Manuel Luis há muitos anos, e sempre tivemos uma atracção, como se nos conhecêssemos há milhões de anos. Temos uma extraordinária empatia quando estamos a trabalhar em directo, nunca tivemos a mínima inveja ou competição entre nós. Acho que vencemos o nossos karma.]P. Então o que fez? R. Fiquei desiludidísima. Mas quando ia a sair da RTP encontrei o José Nuno Martins, que mandava no canal 2. Conhecia-o muito bem porque ele era dono do Loucuras, onde eu organizava muitas convenções. Fiz-lhe a proposta e ele disse: 'Isto é giro, mas é se for diário e apresentado por ti'.P. E correu bem.R. Lembro-me da primeira vez que ouvi alguém dizer: 'Olha, vai ali a Teresa Guilherme'. Ainda o programa não tinha começado, só o 'promo'. Foi nas Amoreiras e eu fui vomitar para a casa de banho.P. Como pode ter ficado famosa tão rapidamente?R. As pessoas que estão na televisão normalmente são todas bonitas. Quando aparece alguém feio e mais velho as pessoas reparam.P. Tinha 35 anos e houve uma mudança radical na sua vida.R. Sim. Foi horrível. P. O programa pode ter sido um êxito mas a crítica foi desde logo arrasadora.R. Toda. Até que eu deixei de ler.P. Foi assim tão traumatizante?R. Disseram coisas horríveis sobre mim. Horríveis! Vão para o Inferno! Que vá para o Inferno quem disse aquelas coisas. Não se faz. Agora podem dizer à vontade. Mas quando uma pessoa está a começar uma coisa ingenuamente...P. O que diziam essas críticas de tão ofensivo?R. Que eu era burra, estúpida, inculta... A Inês Pedrosa escreveu uma crítica tão verrinosa que eu cheguei a pensar desistir. Com uma fotografia violentíssima comigo vestida de noiva da cintura para cima e de fato de banho para baixo. Ela também estava no princípio de carreira. Já tive uma conversa com ela sobre isso, anos depois.P. Chegou mesmo a pensar desistir?R. Só naquele dia. Depois pensei apenas matar a Inês Pedrosa. Mas o primeiro a dizer mal de mim foi o Pedro Rolo Duarte, que declarou que eu era uma dona de casa burra que estava ali a dizer disparates. P. Depois a sua imagem nos media foi melhorando?R. Oh não. Passei a ser dona de casa burra mas ainda por cima com poder.P. Ainda a odiavam mais.R. Lembro-me de que a primeira vez que se falou em audiências foi o José Nuno Martins, que sempre foi um homem à frente do seu tempo. 'Vocês dizem mal mas olhem só aqui as pessoas que a vêem. E pensam que são só donas de casa?' Porque sempre houve o estudo das audiências, só que ninguém ligava.P. E tornou-se o símbolo do poder das audiências.R. Tornei-me num símbolo da televisão fácil, do que as pessoas gostam mas não se lhes devia dar.P. E como é que sente sendo esse símbolo?R. A rainha do telelixo?P. Exactamente. Como se sente sendo a rainha do telelixo?R. Eu é decido o que é e o que não é telelixo, para mim. O Eterno feminino o que era? Um magazine que ainda hoje é copiado, e onde se mostrava que todas as pessoas tinham uma história para contar. Nunca percebi porque disseram tanto mal.P. Como disseram mal de todos os programas que fez a seguir...R. Sim, o programa mais brilhante, que mudou a televisão, genial, que ganhou todos os prémios no mundo inteiro, foi o Não se Esqueça da Escova de Dentes...P. Foi o melhor programa que fez?R. Acho que sim. Como apresentadora e como produtora. O tipo que o inventou ganhou todos os Grammies, apareceu nas capas de todas as grandes revistas internacionais. Pois diziam que o programa era lixo. Não dá para os levar a sério.P. Hoje ainda é assim?R. Finalmente, ao fim de não sei quantos anos, inventaram que sou boa apresentadora no Big Brother. Curioso, não é? Coitados. Eu toda a vida fui igual.P. É odiada pelos críticos, mas...R. Não me odeiam. Desprezam-me, que é pior.P. Não desprezam, porque fala-se de si.R. Desprezam-me. Desprezaram-me toda a vida. Uma pessoa que nos odeia é alguém que nos respeita. Desprezo é considerar inferior.[- Quando morre, uma pessoa reencarna logo?- Não, não.- Há almas a pairar antes de reencarnar?- Milhões delas, claro.- Estão aqui?- Estão aqui seguramente. Divertidíssimas com esta conversa. Também um bocado furiosas, se calhar. Imaginemos que você veio aqui para me passar uma informação que me tinha sonegado noutra vida. Tem uma coisa para me dizer, para eu ficar a pensar, e não a está a dizer ainda. Tem aí os anjos todos a buzinarem: 'Diz, diz, diz, Paulo, diz-lhe o que ela tem de ouvir!]P. Era boa aluna na escola?R. Era excelente. Estudava tudo até ao limite. Tinha uma memória fantástica como hoje tenho. Era daqueles alunos ideais, que estão sempre com atenção, fazia os trabalhos de casa todos... porque se faço uma coisa é porque acredito nela.P. Era como é hoje.R. Sim, estudar é uma coisa prática. Se estudamos e estamos com atenção, temos boas notas. Se comeres a papinha, comes o doce. No trabalho não é assim. Podemos comer a papinha toda e depois não ter o doce. Tem a ver com as pessoas engraçarem connosco, tem a ver com o ter de aceitar o método de outras pessoas.P. Estudava para ter boas notas para quê? Agradar aos pais e aos professores?R. Para oferecer à minha mãe. Porque eu sempre achei que tinha de a compensar, por ela ser muito bonita e eu ser feia. Sempre achei que devia ser tristíssimo para uma mulher tão bonita ter uma filha assim feia.P. Era muito feia quando era pequenina?R. Nunca fui bonita nem sou. Sou parecida com o meu pai, que era um homem bonito, mas em mulher não funcionou tão bem. A minha mãe dizia uma coisa muito desastrosa que era: 'Oh filha, deixa lá, não és bonita mas és muito vistosa'. P. Então queria compensar esse desfavor da Natureza...R. As pessoas diziam: 'Ai a sua filha não é nada parecida consigo. Isso criou-me um espírito combativo... Nada foi por acaso. Se fosse uma mulher bonita como a minha mãe se calhar não me tinha esforçado tanto na vida. Eu acho que até o facto de ter ido para a televisão foi uma oferta à minha mãe. Uma oferenda que coloquei aos pés do meu ídolo, que é a minha mãe.P. Ela era cantora.R. Sim, e o meu pai também, mas estava quase sempre fora, era um aventureiro. Viveu anos na Argentina, em África, no Brasil.P. Sempre esteve mais próxima da sua mãe.R. E da minha avó e da LurdesP. A Lurdes?R. Sim, foi a nossa empregada a vida toda. Ainda hoje é.P. A sua mãe vive consigo?R. Não. Eu vivo sozinha. Quando comprei a minha casa, comprei também uma para a minha mãe. A Lurdes também vive na sua própria casa. E a minha avó também. Somos todas mulheres muito independentes.P. Estudou até quando?R. Até aos 19 anos. Eu queria ir estudar História, mas a minha mãe achou que, como era cantora e a nossa vida não era estável economicamente, era melhor eu trabalhar. Como adorava ler, fui procurar emprego numa biblioteca.P. O convívio com os seus pais trouxe-lhe uma paixão pelo espectáculo?R. Sim. E também gostava daquela irregularidade do hoje temos tudo e amanhã não temos nada.P. Isso não trazia muita insegurança?R. Claro. Uma sensação que ainda hoje me acompanha. Mas é o fascínio da insegurança, que faz com que as pessoas sejam empurradas para o seu limite. Isso é bom.[- Tem um "consultor" especial a quem recorre quando tem de tomar decisões importantes?- Sim, é o Ângelo, que deita cartas e búzios, mas não vou lá a toda a hora. Só quando tenho medo.- Medo de tomar uma decisão?- Quando não consigo controlar o meu medo. Tenho tanto medo que o meu maior medo é o de não fazer alguma coisa por ter medo. E é uma bola de neve tão grande que por vezes tenho de recorrer ao Ângelo. O ano passado fui lá todos os meses.- Segue sempre o que ele diz?- Não, tento sempre rebater o que ele diz.] P. Havia momentos economicamente difíceis na vossa vida?R. Acho que não. A minha mãe trabalhou sempre muito. Esteve muitos anos no Casino Estoril, no Verão fazia o circuito dos casinos, como fadista. P. Ia com ela, vê-la cantar?R. Nas férias da escola, ia sempre. Adorava.P. Ficava nos bastidores?R. Sim. E os bastidores dos casinos eram muito interessantes. Havia artistas de todo o mundo, e um convívio muito bom. Iam todos jantar antes do espectáculo, e eu ouvia as histórias daquelas pessoas, que viajavam e trabalham nos casinos de todo o mundo. Aquelas vidas... Eu adorava.P. Isso fazia-a sonhar com o quê, naquela altura?R. 'Não quero ser normal', era o que eu pensava. Não quero levantar-me todos os dias à mesma hora, fazer sempre o mesmo caminho para o mesmo emprego, chegar a casa e fazer a comida para as mesmas pessoas...P. Decidiu que não queria casar?R. Sim, desde os sete anos que digo que não quero casar nem ter filhos.P. E não casou mesmo.R. Sempre rejeitei aquele papel submisso. Acho uma perda de tempo andar a tomar conta de um homem. Se calhar é a primeira vez que venho ao mundo como mulher. Sou bastante masculina na minha maneira de estar na vida. Independente, sempre a lutar por coisas que nunca ninguém tinha feito.P. Isso é ser masculina?R. Na minha geração é. Eu não me fiquei apenas no lugar que me era destinado. Tentei fazer o que me apetecia e o que tinha competência para fazer.P. Acha que o facto de ser odiada pela elite dos media tem a ver com ser mulher?R. Claro que sim. Todos os programas que fiz eram concebidos para homens. Mas há uma coisa que eu descobri ultimamente. Depois dos 40 anos, as mulheres conquistam um poder enorme. À medida que se vão afastando da idade da procriação, aproximam-se do poder.P. Por que será isso?R. Acho que os homens ganham respeito maternal pelas mulheres. Deixa de ser uma parceira sexual possível e então... P. Para si, então, o pior já passou, nesse sentido...R. Eu tenho a maior admiração por mulheres que conseguiram ter casamentos felizes, e profissões bem sucedidas, isso é a perfeição, mas eu ainda não cheguei lá. Na próxima reencarnação virei de certeza resolver isso. Porque é uma coisa mal resolvida na minha cabeça. Porque não me entreguei.P. Nunca teve nenhum caso mesmo sério?R. Três. Com quem vivi mesmo.P. Mas a ideia de casar nunca a atraiu.R. Bem, aquela ideia do dia... O momento em que acreditamos que aquilo é para sempre.P. Mas pensa vir a viver com alguém?R. Sim, eu acho que com a idade isso vai acabar por acontecer. Acho que quando de facto quiser isso acontece.P. Até aqui não tem querido.R. Como ideal, sim. Há coisas que a gente quer, mas na realidade não quer. Tudo o que eu quero...P. Acaba por conseguir. Como não conseguiu, conclui que é porque não queria.R Sim, é uma boa estratégia. Um bocado infantil, mas funciona. P. As relações que teve e acabaram serviram para concluir que não quer ter nenhuma relação.R. Nunca foi por minha causa que acabaram. Ou talvez sim. Eu, quando as assumo, sou de levar as relações até ao disparate.P. Para além do que devia.R. Sim, para além do que é aceitável.P. Esforça-se demasiado quando já se está mesmo a ver que não funciona.R. Exactamente. Tentar fazer o Carnaval na Páscoa.P. Faz isso porque no fundo acredita no amor eterno.R. Não sei. Detesto meter-me numa coisa que acaba. P. E por imaginar logo esse final, resiste a iniciar uma relação..R. Porque sei que depois arrasto as coisas até ao limite do sofrimento.P. Quando tem uma relação, como concilia o trabalho...R. Aceito menos coisas. Se calhar culpo interiormente a pessoa por estar a fazer menos coisas. Obviamente, se entrasse agora uma pessoa na minha vida eu tinha de parar de trabalhar no Big Brother ao domingo o dia inteiro.P. Fazia isso por uma pessoa?R. [Longo silêncio] Devagarinho, se calhar, ia organizando a minha vida...P. Pondo a questão de forma mais radical. Se aparecesse agora o...R. Príncipe encantado? [pega numa estatueta que tem em cima da secretária, de um príncipe a dançar com a princesa]P. Sim, esse mesmo. Era capaz de deixar tudo, o trabalho...R. Não. Porque o trabalho sou eu.P. Se não fosse necessário em termos económicos...R Não é necessário em termos económicos. Mas o meu trabalho sou eu. Não me posso deixar a mim por outra pessoa.P. O príncipe nunca a vai desviar da sua carreira.R. Espero nunca ser colocada perante esse dilema. É engraçado falar nessa questão porque eu tenho pânico de isso um dia me acontecer.[- Então porque vai lá, ao Ângelo?- Ele nunca diz para não fazer. Diz sempre: 'Insista, mas olhe que isto aqui tem muitos obstáculos. Este programa não se vai fazer, a não ser que a Teresa queira muito. Se insistir muito...' E eu aí insisto muito mais.- Mas faz na mesma.- Até faço mais. Dá-me força. Por exemplo, num programa: ao princípio parece que está a correr tudo bem. Depois a dúvida instala-se. Depois parece que está a correr mal. É aí que entra o Ângelo. A dizer ao ouvido: 'Isto vai correr maravilhosamente'. Pronto. Passo à fase seguinte. E evito ter aqueles pânicos inúteis com que se perde imenso tempo no dia-a-dia.]P. Tem medo de vacilar?R. Não é vacilar. Tenho é medo de tomar a decisão de largar o trabalho e depois arrepender-me.P. Isso nunca esteve perto de acontecer?R. Se calhar sim, mas quando as pessoas me começaram a encostar à parede eu vim-me embora.P. Sim, o Raúl Durão proibiu-a de fazer a sociedade...R. Pois, mas ele tinha 40 anos e eu 20. Se calhar foi por isso que nunca mais tive ninguém da minha idade.P. E chegou o momento da pergunta inevitável: é verdade que só gosta de rapazinhos?R. Que mania! As pessoas mais novas têm de ser rapazinhos? As pessoas com graça são todas mais novas do que eu.P. Muito mais novas?R. Isso é o voyeurismo das pessoas, que adoram imaginar-me com uma criança debaixo do braço... Mas não imaginam o dia-a-dia. Não. As pessoas imaginam o sexo com uma criança.P. Então como é a sua vida amorosa?R. A minha perspectiva do amor é dizer piadas, mandar cartinhas - agora são mensagens telefónicas. É flores, é viajar, é brincar, é dançar. É isso para sempre. É o baile do príncipe para sempre. É o príncipe encantado e a princesa encantada, naquele minuto em que são felizes para sempre. P. É possível prolongar isso?R. Não. Mas há muitas pessoas. [risos]P. Tem um namorado?R. Neste momento, não. Ando sempre com pessoas mais novas do que eu.P. É verdade, portanto.R. Sim, mas não são rapazinhos. Ter 35 anos é ser mais novo do que eu, que tenho 45.P. O último namorado tinha 35 anos?R. Não. Era um bocadinho mais novo. Mas também não tinha 20. A partir dos 25 já me parece uma coisa normal.P. Mantém secretos os seus namorados?R. Sempre.P. É engraçado que a apresentadora do Big Brother e do Confissões esconda a sua vida privada.R. Já me viu nalguma festa? Como não saio nunca, acabo por também namorar em casa.P. Mas a sua vida é muito pública. Onde é que conhece essas pessoas?R. No trabalho, invariavelmente. Mas não obrigatoriamente na televisão, ou pessoas que estejam sob as minhas ordens. Pode ser um colaborador, um cliente... é o mundo. Assim houvesse tempo!P. Estamos a falar de flirts?R. Não. São coisas sérias. E sou muito directa. Ou acho piada às pessoas ou não.P. É como no trabalho. Tudo muito organizado, tudo muito rápido.R. Mm mm. Pensando bem... sim. Ou bate ou não bate.P. E quando bate, é logo, mal vê a pessoa.R. Sim. E apaixono-me, quero estar com a pessoa, divertir-me.P. E o que faz, telefona, toma a iniciativa?R. Completamente.P. Saem, vão ao cinema?R. Não. Sou mais de dar jantares em casa. As minhas casas são agradáveis.P. Só avança para um caso se pensa que pode ser o amor da sua vida?R. É mais fácil avançar para um caso com uma pessoa que tenho a certeza de que não vai ser o amor da minha vida.[- A entrevista deveria ter começado ao meio-dia, mas a Teresa só apareceu às duas da tarde. Está com muito trabalho, não é, disse o jornalista da "imprensa séria", que esperou duas horas sem almoçar pela rainha do telelixo (nada é por acaso).- Sim, e você, coitado, esteve depois aqui estas horas todas cheio de fome, e eu a comer o meu almoço à sua frente. Foi cruel. Não lhe ofereci nada, porque era um teste. Era a ver se você pedia. Mas não pediu. Está a ver? É a ética. Quem tem ética passa fome.]