Dentada do "Allosaurus fragilis" revela truques de caça
Da fama o "Allosaurus fragilis" não se livra. Diz-se que este dinossauro dos tempos jurássicos era um dos maiores carnívoros, e costuma ser representado com um ar feroz e dentes serrilhados. Mas a fama até parece coincidir com o proveito que teve, pois o "Allosaurus fragilis" era de facto um grande apreciador de carne, perseguindo agilmente presas que devorava ou fazendo emboscadas a grandes dinossauros herbívoros. Era um caçador exímio, que tinha como principal arma o seu crânio forte, diz na revista "Nature" uma equipa de investigadores que estudou a sua dentada. Os cientistas não sabiam era como é que este animal, que viveu há uns 150 milhões de anos, mordia as presas. Partia-lhes os ossos e desmembrava-as ou preferia rasgar-lhes os tecidos moles? Será que as suas dentadas eram como as do primo "Tyrannosaurus rex", que viveu depois dele, há 65 milhões de anos? Para responder a estas questões, a equipa de Emily Rayfield, da Universidade de Cambridge, nos Estados Unidos, produziu imagens tridimensionais do crânio de um fóssil guardado no Museu das Montanhas Rochosas.Para reconstruir o crânio do "Allosaurus fragilis", os cientistas serviram-se de uma técnica vulgarmente usada em medicina: a tomografia axial computorizada (TAC), que permitiu a obtenção de imagens sobre a geometria interna e externa dos ossos sem que fosse necessário destrui-los. A TAC envolveu tirar uma série de radiografias para medir as diferentes densidades dos ossos. A partir das informações sobre os ossos e as forças teoricamente exercidas pelos músculos das mandíbulas, os cientistas tentaram perceber quais as forças e pressões exercidas pelo "Allosaurus fragilis" durante a alimentação. O resultado foi um modelo "impressionante" da forma do crânio e do funcionamento da mandíbula, diz o comentador deste trabalho, Gregory Erickson, da Universidade Estadual da Florida, EUA. Antes de mais, na boca deste dinossauro havia mais de 80 dentes, mas a força exercida durante a dentada concentrava-se sobretudo em seis deles, três de cada lado do maxilar superior. E, surpreendentemente, essa força exercida sobre as vítimas era muito pequena em comparação com a que é característica de mamíferos e crocodilos actuais. Em relação ao "Tyrannosaurus rex", o dinossauro mais famoso e munido de dentes não menos assustadores, a dentada era seis vezes mais fraca. Mas lá por a dentada do "Allosaurus fragilis", que media 12 metros de comprimento, ser menos poderosa, isso não quer dizer que não fosse mortífera. Era apenas diferente da do tiranossauro. Na verdade, o "Allosaurus fragilis" era um dos maiores devoradores de carne do Jurássico superior. Marcas dos seus dentes têm sido encontradas nos ossos de grandes dinossauros herbívoros, embora também não lhe escapassem os pequenos e velozes.Mas o "Allosaurus fragilis" era mais esquisito que o tiranossauro, pois seleccionava melhor o sítio onde cravava os dentes. Preferia os tecidos moles, em vez de também levar à frente os ossos. Rasgava a carne aos bocados, que engolia de seguida. Esta estratégia é, aliás, bastante semelhante à do dragão de Komodo, sublinha a equipa, que começa por infligir dentadas muito rápidas e acutilantes nos tecidos moles. Isto para que as presas sangrem até à morte. O tiranossauro era mais indiscriminado na parte do corpo que atacava. Exercendo mais força nos dentes, a dentada penetrava na carne, quebrava os ossos e arrancava bocados dos membros - algo de que o "Allosaurus fragilis" não seria capaz. A dentada do tiranossauro era, assim, mais profunda e talvez até matasse mais depressa. Pode ser entendida como uma especialização deste dinossauro do Cretácico superior no desmembramento de carcaças e na procura de presas maiores.Quanto à adaptação do "Allosaurus fragilis", os cientistas propõem que a sua dentada mais fraca poderá ter sido compensada por um aumento da velocidade e uma maior mobilidade das mandíbulas durante o impacto com a presa. Assim conseguia capturar dinossauros pequenos e ágeis.Ainda que o "Allosaurus fragilis" fosse um carnívoro que ocasionalmente se afoitava perante dinossauros gigantes, como o "Apatosarus", os cientistas costumam considerar-se que o seu esqueleto é delicado. Não é o que afirmam agora os autores deste estudo, considerando que pelo menos o crânio era extraordinariamente forte para a força que exercia durante a dentada. Propõem que esse crânio possante demais resultou de uma adaptação do "Allosaurus" para resistir melhor aos embates violentos quando investia contra as presas. Desta forma, ficaria emboscado à espera de dinossauros grandes e, repentinamente, sem que estes tivessem tempo de retaliar, caia sobre eles como um raio.