A conquista do espaço
Os Daft Punk fizeram o T.P.C. e uma aliança estratégica. Nos últimos três anos conquistaram a Terra, agora ao leme de "Discovery" avançam sobre um admirável mundo novo, a Net. Sucesso garantido, "One More Time".
Quando em 1997 estrearam "Homework", Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo pensaram apenas em fazer música para as pessoas ouvirem no quarto, talvez como banda sonora para os "trabalhos de casa". O primeiro single "Around the World", uma canção simples e açucarada de house pop electrónica, acompanhada de um vídeo a condizer, entrou no ouvido de toda a gente e foi um anzol para o sucesso. Curiosamente, o resto do disco nem sequer era fácil. Um composto electrónico de tecno, house, disco, rock, funk, de arestas mais ou menos abrasivas, aparentemente pouco comercial. Mas a aclamação da crítica e a exposição nas rádios, televisões e pistas de dança, transformaram os Daft Punk num fenómeno popular à escala global. No ano seguinte, o single "Music Sounds Better With You" dos Stardust, projecto paralelo de Bangalter, reconfirmou as expectativas em relação à banda. A dupla parisiense, com a colaboração de alguns compatriotas, com os Air em plano de destaque, abriram as portas do Mundo à invasão musical gaulesa. O desenrolar dos acontecimentos concedeu-lhes o estatuto de embaixadores e pioneiros da nova música de dança francesa, actualmente conhecida como "French Touch", e colocou os Daft Punk no lugar que ocupa hoje. Provavelmente, outro ciclo se iniciará dia 12 de Março, com o lançamento do novo álbum. Vai chamar-se "Discovery", e tudo se conjuga para vir a ser um dos acontecimentos do ano. A expectativa natural está a ser alimentada desde Novembro do ano passado com o single "One More Time" - número um em várias tabelas de vendas em França, Canadá, Japão, Estados Unidos e Europa, número dois no top britânico de singles -, e reforçada pelas novidades, rumores e especulações que a conta-gotas são veiculadas na imprensa mundial. Aí, os franceses lideram os níveis de agitação e ansiedade. A revista "Les Inrockuptibles" teve acesso a uma cópia promocional e classifica o disco como fantástico e grandioso, ou perto disso, e talhado para o sucesso. Para começar, encontraram um indício importante no título, "Discovery", e uma imagem épica para o single de apresentação - "um hino XL" da "house de estádio". Inventada, claro, pelos Daft Punk. Aos 13 temas restantes não faltam elogios e suculentas descrições de orgulhoso enlevo, condimentadas com outras tantas imagens cintilantes e observações, estas certamente mais credíveis, respeitantes às influências que atravessam o novo trabalho do duo. Há quatro canções. "One More Time" e "Too Long" têm a voz de Romanthony; Bangalter canta em "Digital Love" sobre palavras de DJ Sneak; e Todd Edwards protagoniza "Face To Face". Segundo os jornalistas "inrockuptíveis", o disco evolui pelo funk, disco, house, entre mudanças de ritmo e pormenores inesperados. Tem influências dos Supertramp e AC/DC, a George Clinton, Cameo, Chic e "Rock It" de Herbie Hancock, um "slow" e uma homenagem a "Video Killed The Radio Star" dos Buggles, a canção favorita de sempre do "garçon" Thomas; e o digno sucessor de "Around The World" poderá bem ser "Harder, Better, Faster, Stronger". As novas músicas do grupo são como "rolos compressores capazes de transformar qualquer plateia morna em pista de dança frenética", em ambiente de festa e euforia. Para confirmar, a seu tempo.No fervilhante contexto emergente (ou imergente) da Web toda a gente procura o seu lugar ou, se preferirem, o seu "sítio". E os Daft Punk preparam uma pequena "revolução", o Daft Club. Juntaram-se os esforços do grupo, editora, distribuidora e uma empresa especializada, entre outras coisas, em tecnologia de "management" de direitos de autor digitais. Capitalizaram-se meios, conhecimento, posição no mercado e o produto, a música. O objectivo é "recompensar os fãs que compram o suporte discográfico físico" com a entrada para um clube restrito.Primeiro instala-se o software do "pacote Discovery". Depois utiliza-se o cartão de sócio, também incluído, para activar o Daft Player que permitirá aceder a uma data de material, desde música e imagens, a outras surpresas. Tudo digital e gratuito. Claro que estas operações são feitas com a maior segurança, não há cá vírus nem hackers a atacar (por enquanto); fundem-se a arte e a tecnologia com o envolvimento dos artistas; e a criatividade; protegem-se os direitos de autor; estimulam-se o negócio tradicional e o electrónico. Também é necessário estar ligado à Net, possivelmente ter uma ligação no nome do utilizador (o folheto promocional não é cristalino), e possuir um computador capaz de atingir uma determinada performance porque a instalação do software ocupa 50 MB de memória. Por sorte, o mesmo software poderá servir para outro tipo de aplicações da Meta Trust Utility, a empresa mãe da InterTrust, a participante nesta aliança estratégica. Todos ficam a ganhar, uns mais do que outros. Apesar do tão propagado carácter inovador da iniciativa, a verdade é que, com menos pompa, já o recente DVD de "Everything, Everything" dos Underworld permite aceder a conteúdos exclusivos online. Mas, cada vez mais, não se trata do ovo e da galinha, mas da arte de saber vendê-los. E nisso, os Daft Punk são especialistas.