Primavera russa no Centro Cultural de Belém
<EM><FONT FACE="Times New Roman" SIZE="4">ANTEVISÃO DA FESTA DA MÚSICA</FONT></EM><STRONG><EM>Depois do sucesso na "Folle Journée" de Nantes, a música russa invade o CCB no próximo mês de Abril</EM></STRONG>Entre 27 e 29 de Abril será a vez do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, seguir o exemplo de Nantes, e acolher a música russa na segunda Festa da Música. À semelhança do que aconteceu em 2000, na edição dedicada Bach, vários dos intérpretes presentes na "Folle Journée" do passado fim-de-semana irão actuar em Lisboa. Miguel Lobo Antunes, administrador do CCB, levantou um bocadinho da ponta do véu, no último dia da festa de Nantes, e revelou alguns nomes. Os russos terão um lugar especial e o número de portugueses vai crescer. Além dos que estiveram em Nantes - Miguel Borges Coelho, António Rosado, Paulo Gaio Lima e o duo de piano a quatro mãos formado por Pedro Burmester e pelo russo residente em Portugal Alexei Eremine -, está prevista a participação dos pianistas Miguel Henriques e Filipe Pinto Ribeiro, do duo de violoncelo e piano formado por Irene Lima e João Paulo Santos, dos cantores Ana Ester Neves e Carlos Guilherme, dos quartetos Lacerda e Olissipo e da Orquestra e Coro Gulbenkian.Com a ausência da Orquestra Sinfónica Portuguesa (ver caixa), a Gulbenkian e a Sinfónica de São Petersburgo serão as únicas orquestras em programa, o que leva a supor que a coberura do imenso repertório sinfónico russo, incluindo as grandes obras concertantes, não poderá ser muito abrangente. Em contrapartida, haverá uma presença forte da música coral com os três grupos que causaram maior sensação em Nantes. A Capela de São Petersburgo, o Coro do Patriarcado Russo e o Estonian Philharmonic Chamber Choir oferecem-nos cantos da litúrgia ortodoxa da autoria de compositores desconhecidos no Ocidente como Guéorgui Sviridov (1915-1998), as esplendorosas Vésperas de Rachmaninov ou as composições de Arvo Pärt, mas também outro repertório coral-sinfónico como a música que Prokofiev compôs para o célebre filme de Eisenstein "Alexander Nevski", em conjunto com a excelente Orquestra Sinfónica de São Petersburgo. Em Nantes, no sábado, ao fim da tarde, o amplo "stock" de discos destes agrupamentos tinha desaparecido quase por artes mágicas do escaparate da FNAC, na Citè des Congrès!No domínio da música de câmara há a destacar a presença do Ensemble Música Viva e de alguns intrumentistas do Ensemble Intercontemporain, com obras dos compositores mais recentes, além dos quartetos Ysa?e, Danel e Castagnieri e do Trio Wanderer. Mas será no campo dos solistas, que ocasionalmente se combinam em duos, trios e outras formações, que surgem algumas das propostas mais apetecíveis, incluindo algumas das grandes revelações dos últimos tempos, que fizeram vibrar o público da "Folle Journée" no passado fim de semana. Entre elas encontram-se o jovem pianista russo Nikolaï Luganski, vencedor do prémio "Diapason d'Or" 2000, com a sua gravação dos Estudos de Chopin (Erato), o violinista Kirril Troussov, que levou a plateia do Auditório Pouschkine ao rubro com o Concerto de Tchaikovski, ou a jovem violoncelista francesa Anne Gastinel. Outros nomes obrigatórios são os dos pianistas Nicholas Angelich e Brigitte Engerer - esta última uniu-se a Burmester e Eremine num recital extra-programa no domingo - além dos consagrados Nelson Freire, Natalia Gutman, Alexei Lubimov ou Michel Béroff. Regressam ainda, entre muitos outros, os violoncelistas Pieter Wispelwey e Henri Demarquette, os violinistas Régis Pasquier, Gérard Poulett e Renaud Capuçon, o violetista Gérard Caussé e o pianista Frank Braley. A sétima edição de "La Folle Journée", em Nantes, foi mais uma vez um sucesso retumbante. O sonho de René Martin, o autor deste projecto inovador que pretende cativar novos públicos para a música erudita, é uma realidade que cresce de ano para ano. Foi um fim de semana em cheio, onde se cruzaram as múltiplas tendências da música russa, desde Glinka aos nossos dias e um vasto leque de intérpretes de várias gerações. Figuras lendárias como a da violoncelista russa Natalia Gutman, brilhantes talentos da nova geração, como o violinista Kirril Troussov ou os pianistas Nicholas Anguelich e Nikolaï Luganski, formações sinfónicas como a Orquestra de São Petersburgo ou a Orquestra Nacional da França e alguns magníficos coros levaram o intenso e exuberante canto da alma russa a um público heterogéneo, que vibrava de entusiasmo.