Apesar do genérico à la Saul Bass e das piscadelas de olho a Hitchcock e a "Vertigo", o início de "Entre as Pernas" - a primeira meia hora, o melhor período do filme - tem mais a ver com a memória do filme negro e do "melodrama sombrio" dos "forties", com os seus ambientes nocturnos, "flash backs" e uma entrada sem rodeios no tema do filme: obsessões e traumas de foro psicanalítico. O filme nunca perde essas características, mas dá a impressão que a certa altura se impõe um desejo de virtuosismo que ultrapassa tudo o resto e deixa pensar que Gomez Pereira está mais interessado na contemplação do brilhante mecanismo que criou do que no destino das suas personagens. Esse lado "perfeito", que não deixa nenhuma ponta solta, acaba por retirar ao filme a perturbação que nasce da incerteza. Dá vontade de ver outros filmes do realizador, para perceber se o equívoco está na meia hora inicial ou na final.
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