Custa que seja um filme como "A Paixão de Shakespeare" a passar por apogeu contemporâneo da vertente espectacular do cinema. A euforia permanente do filme de John Madden é, do primeiro ao último plano, absolutamente artificial, ditada por uma aversão ao plano fixo por curto que seja (é impressionante a quantidade de vezes que a câmara se mexe só para não estar parada) e por um ritmo de montagem cuja principal preocupação está na camuflagem das insuficiências da "mise-en-scène". Ah, mas e os actores e o argumento? Admita-se que o mal não está nos actores (nem podia estar, são quase todos ingleses...), mas já o argumento de Tom Stoppard, supostamente genial, é acima de tudo "clever", uma espécie de ovo de Colombo que, uma vez apercebida a sua lógica, pouco espaço deixa para surpresas. Contudo, nada disto seria muito grave se "A Paixão de Shakespeare" não fosse, na sua vacuidade, pieguice e auto-complacência, um filme tão clamorosamente "anti-shakespeareano".
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