Chabrol trabalha quase sempre no domínio do reconhecível, algures entre a crónica de costumes da França profunda e a memória do cinema clássico, com Lang, Hitchcock e Preminger como referentes mais ou menos evidentes. "No Coração da Mentira" repete porém os limites de algumas das suas obras recentes: o mecanismo está demasiado oleado e a ficção desenvolve-se quase em piloto automático, Chabrol a fazer Chabrol sem emoção nem nervo, como que para cumprir presença na produção francesa. Dito isto, estão no filme todas as obsessões do seu mundo conceptual, há uma impecável definição de personagens com enorme economia de meios, o "thriller" oculta sempre um profundo mal estar vivencial, os actores estão dirigidos ao milímetro. Só falta o arrojo, talvez mais imperfeito de "Le Boucher" ou de "O Inferno".
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