Círculo Fechado
"Os Amantes do Círculo Polar" é a quarta longa-metragem do basco Julio Medem e o primeiro filme do realizador a aceder ao restrito círculo da exibição comercial em Portugal.
Apresentado na secção competitiva do Festival de Veneza em 1998 e recebido com aparente satisfação crítica no ainda mais viciado circuito americano (o "New York Times" chegou mesmo a abrir a sua secção cultural com uma entrevista a Medem) como uma prometedora alternativa à exuberância de Almodóvar (entretanto rendido aos encantos de Hollywood), "Os Amantes do Círculo Polar" é um filme romântico de contornos trágicos sobre as vicissitudes de uma relação amorosa iniciada na infância.
Otto e Ana, os protagonistas, conhecem-se por acaso quando crianças, na sequência de uma invasão de aviões de papel que se abate sobre a escola - portadores de uma mensagem de irrefutável intensidade poética que, embora não desvendada, faz supor a revelação de um sucessor de Rimbaud. O pai de um e a mãe da outra casam-se e os dois enamorados vêem-se obrigados a viver uma história de amor secreta, mas repleta de casualidades, a começar no facto de ambos terem nomes capicuas.
Até ao reencontro final, nas paisagens frias da Lapónia, no limite do Círculo Polar Ártico, o par debater-se-á com inúmeros desencontros e caprichos do destino, devidamente narrados do ponto de vista dos dois protagonistas, um mecanismo eternamente repetido mas que tem fundamentado teorias em defesa da complexidade do filme.
Se, à partida, Medem tinha matéria para maiores arroubos estéticos - a circularidade referida no título como sustento para uma estrutura audaciosa, a transposição para um cenário glaciar, plasticamente fértil e atípico para uma relação passional -, fica-se, porém, pelo recurso fácil e exagerado à "música do acaso", isto é, uma catadupa de coincidências destinadas ao cálculo do azar, mais adequadas ao vácuo da circunferência do que à densidade do círculo.