Swissair repensa TAP
A Swissair pode estar à beira de romper um longo noivado de três anos com a TAP, negócio que vai agora analisar "a fundo". O Governo português diz-se apanhado de surpresa pela reanálise de toda a estratégia e promete responsabilizar o grupo suíço pela sua decisão final.
O SAirGroup, dono da Swissair, vai reequacionar todos os negócios que tem pendentes no transporte aéreo, incluindo o acordo de aquisição de 34 por cento do capital da TAP. A reanálise da actual estratégia de expansão dos suíços, através da participação no capital de outras companhias aéreas, foi ontem anunciada numa conferência de imprensa em Zurique pelo administrador-delegado interino do grupo, Eric Honegger."No caso da TAP, agora é preciso considerar a situação a fundo. Isso não foi feito até agora", referiu aos jornalistas Eric Honegger, que assume desde ontem a condução das políticas do grupo. Em causa está a demissão de Philippe Bruggisser, principal impulsionador do negócio entre os suíços e a TAP, e que deixou o seu lugar na sequência de uma reunião do conselho que dirige as decisões estratégicas do grupo Swissair."A decisão final sobre os acordos negociados não é para já", disse Reiner Meier, do gabinete de imprensa do SAirGroup, contactado pelo PÚBLICO. Em questão estão participações ou acordos de negócio com 13 ou 14 companhias - além da TAP, transportadoras como a polaca LOT, as francesas AOM e Air Litoral ou a belga Sabena - e que vão ser todos reanalisados, explicou. Segundo aquele responsável, o mais tardar a 12 de Março deverá conhecer-se a decisão final, quando o grupo Swissair divulgar os resultados do ano passado. Certo é que, afirmava ontem o grupo em comunicado, a estratégia de aquisição de capitais noutras companhias não é para continuar.Os suíços confrontam-se com a difícil situação financeira de várias participadas, como é o caso da Sabena, que registou no ano passado prejuízos estimados em 40 milhões de contos. Os dirigentes do grupo Swissair, detentor de 49 por cento do capital da transportadora aérea, comprometeram-se esta semana a injectar cerca de 30 milhões de contos na companhia belga, o que poderá ter sido a "gota de água" para os opositores à política seguida por Philippe Bruggisser. Perante este cenário, tudo indica que os péssimos resultados da TAP no ano passado - mais de 20 milhões de contos negativos - não auguram um desfecho positivo para o acordo com o Governo português.Honegger afirmou também aos jornalistas que "já tem uma colaboração estreita com a TAP no âmbito do Qualiflyer Group", aliança de companhias aéreas liderada pela Swissair e um dos veículos da sua estratégia de expansão. No entanto, acrescentou que ainda não examinou todo o "dossier", pelo que não pode dizer o que sucederá à gestão do sistema de reservas do grupo, utilizado pela TAP e apontado como uma das causas do retorno da companhia portuguesa aos prejuízos em 1999 e 2000. "O sistema de reservas vai ser também reequacionado", disse.A própria aliança Qualiflyer pode estar em causa: o administrador-delegado confirmou que a entrada da Swissair na aliança OneWorld - liderada pela American Airlines e pela British Airways - é uma das opções em estudo.Confrontado com a decisão anunciada pelo novo responsável máximo do SAirGroup, o ministro do Equipamento respondeu que "o Estado português tem compromissos assinados com a Swissair, que são válidos independentemente dos responsáveis que representem a companhia". "Estamos preparados para qualquer situação nova que ocorra, porque há alternativas", acrescentou em declarações à Lusa Jorge Coelho, que até ao momento nunca tinha admitido a necessidade de se estudarem outras alternativas, garantindo sempre a firmeza do acordo com os suíços.O secretário de Estado dos Transportes reafirmou, numa conferência de imprensa já ao início da noite, a posição ontem assumida pelo ministro. Além disso, Guilhermino Rodrigues disse que "o Estado português reafirma o seu interesse no cumprimento do contrato", pelo que uma eventual ruptura por parte da Swissair "implicaria uma responsabilização pela ruptura e pelos danos causados à outra parte". Segundo o secretário de Estado, Jorge Coelho contactou ontem o novo conselho de administração do SAirGroup na tentativa de marcar uma reunião, "com carácter de urgência, para clarificar a situação".Da parte da TAP, o administrador-delegado Fernando Pinto - colocado à frente da companhia aérea por acordo entre o Governo português e os suíços - afirmou ao PÚBLICO que "é importante que exista um parceiro estratégico" para a companhia aérea portuguesa, mesmo que a Swissair venha a optar pelo abandono do negócio. Acrescentou que o actual plano de recuperação irá de qualquer forma avançar, uma vez que não contava com os 31 milhões de contos em dinheiro "fresco" que os suíços fariam entrar no capital da empresa. Mas quanto à divisão efectiva da TAP em três empresas autónomas encimadas por uma "holding", admitiu, terá de esperar pela privatização. "Fui convidado pelo Governo para recuperar a TAP e prepará-la para a privatização e é o que tenciono fazer", concluiu. Face aos atrasos na concretização do negócio com a Swissair, que há meses está para ser oficialmente notificado junto das autoridades europeias de concorrência, o ex-presidente da brasileira Varig foi convidado a assumir os comandos da transportadora aérea no final do ano passado, antes da entrada dos suíços, como estava previsto. Desde o final de 1997 - altura em que a TAP era tutelada por João Cravinho e presidida por Ferreira Lima - os suíços andam em negociações com o Governo português para entrarem no capital da empresa. O processo aprofundou-se com a entrada da companhia portuguesa na aliança Qualiflyer logo no seu início, em Março de 1998, mas desde então tem conhecido vários avanços e recuos. Perante a indefinição do futuro estratégico da TAP, a administração chegou a ter breves contactos com a Air France no final de 1999, que nunca tiveram o apoio de Jorge Coelho.O PCP solicitou ontem a ida do ministro à Comissão Parlamentar de Equipamento Social. "Tendo em conta que o Governo tem assentado toda a sua estratégia em relação à TAP na venda de parte do seu capital à Swissair", os deputados comunistas querem que o ministro da tutela preste os "esclarecimentos pertinentes quanto à situação actual e à urgente reponderação das hipóteses de contratualização de parcerias estratégicas".