Prédio da Caixa a caminho da implosão
As opiniões dos viseenses sobre o futuro do prédio onde está instalada a Segurança Social e os serviços distritais do Ministério da Saúde são convergentes: deve ser demolido ou reduzidos alguns dos seus 16 andares. O prédio é considerado "aviltante" e até "poluente".
Quando se sobe ao 16.º e último andar do edifício da Segurança Social de Viseu, que alberga a Administração Regional de Saúde no distrito e cuja demolição total ou parcial está em debate, tem-se uma visão imensa sobre uma das mais bem desenhadas cidades do país. Viseu espraia-se a norte e toda a sua pujança é notória do topo do arranha-céus. A sul observa-se a cidade velha e a colina da Sé. Em todo o conjunto habitacional se nota a harmonia discreta do centro histórico, entrecortada por árvores, sobretudo tílias, a marca da cidade de Viriato.Está-se no topo de um edifício de que ninguém gosta, mas que todos se habituaram a ver. Nem o notam. Os seus mais de 20 anos de existência e o facto de ali se localizarem os serviços da Segurança Social e Saúde do distrito transformaram-no num companheiro diário e inevitável. Só que o novo planeamento, desejado pela cidade e apoiado pelo Estado e pela União Europeia, levou o projecto Polis para Viseu, uma intervenção que pretende renovar o centro histórico e devolver o rio Pavia aos viseenses. No Polis, o "prédio da Caixa", o arranha-céus ou o "mamarracho", como é conhecido o edifício projectado em inícios da década de 70 por Valgode Lopes, tem uma alínea a si dedicada, prevendo-se o "rebaixamento" da sua cércea, ou seja, a redução de andares para que não choque com a harmonia do centro histórico da cidade. Na opinião do vereador do pelouro do Ambiente da autarquia viseense, Américo Nunes, o prédio "é poluente" para o centro histórico e para a silhueta da cidade. "Hoje já não se constrói assim", diz o vereador, que defende a destruição gradual de alguns andares até ao desaparecimento completo do edifício". Pouco depois de ter sido edificado, a meio da década de 70, o geógrafo Orlando Ribeiro dedicava-lhe algumas palavras na 5.ª edição de "Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico": "Em torno do Rossio [a actual Praça da República, em frente à câmara], só urbanizado na segunda metade do século XIX, formaram-se os bairros modernos, que atraíram não só serviços públicos (quartéis, liceu), mas muito comércio, além da função residencial. Um edifício de 15 andares, outro projectado no centro, aviltam a silhueta da cidade e sobrepassam as elegantes torres da Sé e da Igreja da Misericórdia".O líder político local do PCP, José Teles, esteve sempre contra a construção do "mamarracho". A sede dos comunistas de Viseu é em frente ao edifício. "Achamos que a Segurança Social e a Saúde deviam sair daqui do prédio para outras instalações na periferia da cidade. E devia-se apostar em mais um centro de saúde para a cidade", nota Teles, que defende a demolição do prédio, mas aponta para que o local venha a ser "equilibrado, entre serviços e zona residencial, para que a zona não venha a morrer".do quarteirãoO arqueólogo Pedro Sobral também é adepto da implosão do "mamarracho". "Devia cortar-se o mal pela raiz e planear para ali qualquer coisa que incluísse espaços verdes". Há anos, alguns viseenses ficaram escandalizados quando o arquitecto José Perdigão chamou "mamarracho" ao edifício, quando se falou em candidatar Viseu a património mundial. Hoje, continua a defender "pelo menos que lhe sejam retirados andares e que o remanescente seja integrado no projecto que para todo o quarteirão venha a ser construído".O PÚBLICO falou com dezenas de pessoas, desde o cidadão anónimo até aos que ocupam os mais variados cargos públicos. Ninguém gosta do prédio no local em que está construído, defendendo a sua demolição parcial ou total. Jorge Carolino, representante da Ordem dos Arquitectos, não foge à regra, mas é um dos que alertam para um pormenor que acha "de grande importância": "Como é que a autarquia está actualmente a lançar um concurso de concepção/construção de um conjunto de edifícios nas traseiras do prédio da Caixa, no mesmo quarteirão, sem que ainda não tenha sido encontrada uma solução para a grande edificação que se contesta?"O presidente da câmara, Fernando Ruas, também defende a demolição. E nota outro pormenor, ou seja, a "falta de segurança". "Em Viseu não existe nenhuma escada que permita aos bombeiros subir a mais de cinco andares para apagar um incêndio", alerta o autarca.Enquanto a implosão do edifício vai sendo a solução mais apontada, e cada vez mais se fala nela em Viseu, os serviços da Segurança Social e técnicos da câmara estão a ultimar um relatório que será decisivo para que o Governo, através do Ministério da Segurança Social, o dono do edifício, decida a solução a adoptar em breve. Implosão ou redução de andares?