O regresso de Radu Lupu
O pianista Radu Lupu volta para interpretar Beethoven, Enesco, Janacék e Mozart na Gulbenkian, em Lisboa, e no Europarque, em Santa Maria da Feira.
O grande pianista romeno Radu Lupu tem sido uma visita assídua nas temporadas musicais lisboetas. Esta semana está de regresso à Gulbenkian para um recital a solo e dois concertos com orquestra, que incluem alguns monumentos da literatura pianística de Beethoven. Na próxima terça-feira, às 19 h, interpreta as Sonatas Op.26 ("Marcha Fúnebre") e Op.53 ("Waldstein"), em conjunto com a Sonata op.24, nº1, do seu compatriota Georges Enesco, e seis peças do ciclo "Sobre uma vereda verdejante", do checo Leos Janacék. Dias 7 e 8, será a vez do Concerto nº5 (Imperador), de Beethoven, com a Orquestra Gulbenkian, sob a direcção de Gunther Herbig. O programa é completado pela Abertura de "As Bodas de Fígaro" e a Sinfonia nº36, "Linz", de Mozart, e terá uma terceira apresentação no dia 9, em Santa Maria da Feira, no Grande Auditório do Europarque.Radu Lupu é justamente reconhecido como um dos pianistas mais importantes da sua geração. Para além do seu virtuosismo, as suas actuações prendem-nos sobretudo pela sua refinada sensibilidade e profundo envolvimento emocional, especialmente no repertório do romantismo germânico. Nascido em 1945, começou a estudar piano aos seis anos de idade e aos doze estreou-se em público, com um programa inteiramente preenchido com obras da sua autoria. Mas esta juvenil veia criativa rapidamente foi abandonada em favor de uma carreira mais convencional. Após estudos na Roménia, prosseguiu a sua formação no Conservatório de Moscovo a partir de 1961, onde trabalhou com Galina Eghiazarova e com o lendário Heinrich Neuhaus. A sua prodigiosa musicalidade e exímio domínio técnico rapidamente o fizeram vencedor dos mais prestigiados concursos - Van Cliburn (1966), Enescu (1967) e Leeds (1969) -, que serviriam de motor para uma brilhante carreira internacional. Convidado regular das maiores salas de concertos e dos principais festivais da Europa e dos Estados Unidos, Radu Lupu tem actuado com as mais destacadas orquestras e foi dirigido por maestros da craveira de Herbert von Karajan, Carlo Maria Giulini, Daniel Barenboim, Ricardo Muti e Zubin Metha. Entre a sua preciosa discografia, quase toda registada na Decca, encontra-se a integral dos Concertos para Piano e Orquestra de Beethoven, vários concertos de Mozart, o Concerto nº1 de Brahms, os concertos de Grieg e Schumann e a integral das Sonatas para Violino e Piano de Mozart com Szymon Goldberg. Dos seus registos a solo fazem parte obras de Beethoven, Brahms, Schumann e Schubert. Considerado como um dos "grandes schubertianos" do nosso tempo, as suas gravações das Sonatas D. 664 e D. 960 foram distinguidas como as "Melhores Gravações Instrumentais do Ano" em 1995, juntamente com as "Cenas Infantis", a "Kreisleriana" e a "Humoresque" de Schumann. Gravou ainda dois discos com Murray Perahia (CBS), "lieder" de Schubert com Barbara Hendricks (EMI) e, mais recentemente, obras de Schubert para piano a quatro mãos, em conjunto com Daniel Barenboim (Teldec).Para o seu recital na Gulbenkian, Radu Lupu escolheu duas célebres páginas beethovenianas, ilustrativas de duas fases distintas do percurso criativo do compositor. Enquanto as Sonatas nº 12, Op.26 - que contém no terceiro andamento a "Marcia Funebre sulla morte d'un Eroe", precursora da Marcha Fúnebre da Sinfonia Heróica - utiliza processos de escrita ainda relativamente convencionais, a Sonata nº 21, Op.53 ("Waldstein"), com a sua pulsante energia rítmica e exigente virtuosismo marca uma ruptura em direcção a uma linguagem mais complexa e inovadora.Estas obras serão permeadas pela Sonata em Fá sustenido menor, op.24, nº1, de Enesco, obra hoje pouco conhecida, mas detentora de uma grande beleza harmónica, e por seis das 15 peças do ciclo "Por um Caminho Verdejante", de Janacék. Escrito entre 1901 e 1911, trata-se de uma obra com fortes influências do romantismo alemão, inspirada em melodias populares, com momentos introspectivos de uma etérea beleza. Quanto às apresentações com a Orquestra Gulbenkian, o mais monumental dos concertos de Beethoven ("Imperador") promete encerrar com chave de ouro, mais uma passagem de Lupu por Portugal.