National Gallery devolve quadro a família de judeus franceses

Pela primeira vez uma instituição pública federal nos EUA concordou em separar-se de uma obra de arte pilhada pelos nazis. A National Gallery de Washington decidiu devolver uma natureza-morta do século XVII a uma família judia francesa. Hoje, estima-se que continuem desaparecidas cerca de 40 mil obras de arte pilhados pelos nazis em França durante a II Guerra Mundial.

A National Gallery, em Washington, anunciou na segunda-feira que irá devolver uma valiosa natureza-morta do século XVII da autoria do pintor flamengo Frans Snyders, após ter chegado à conclusão de que o quadro fora quase certamente pilhado pelos nazis a uma família judaica francesa durante a Segunda Guerra Mundial.O anúncio vem na sequência de dezoito meses de investigação por entre a enredada história do quadro, cujos anteriores proprietários incluíam o comandante da Luftwaffe, Hermann Goering, o número dois do regime nazi, e Karl Haberstock, o negociante de arte favorito de Adolf Hitler. O quadro, «Natureza morta com fruta e caça», foi doado à National Gallery em 1990 por um abastado negociante de arte nova-iorquino, ele próprio um refugiado judeu da Alemanha nazi.«É um quadro maravilhoso» afirmou Arthur Wheelock, comissário da pintura barroca nórdica na National Gallery. «Pendurámo-lo com grande orgulho». O óleo estava em exposição junto de obras de outros artistas flamengos tais como Peter Paul Rubens e David Teniers II, mas foi retirado há algumas semanas atrás após a galeria ter concluído que ele fora objecto de saque. A difícil decisão tomada pela National Gallery de se separar do seu único quadro de Snyders é uma ilustração dramática da forma como a questão das obras de arte confiscadas pelos nazis tem ensombrado os museus americanos nos últimos anos, parte de uma controvérsia mundial sobre os bens da época do Holocausto. Peritos de arte crêem que centenas, ou mesmo milhares, de obras de arte pilhadas pelos nazis foram parar a colecções norte-americanas após a Segunda Guerra Mundial.Três outras instituições norte-americanas - o Museum of Art da Carolina do Norte, o Art Institute de Chicago e o Art Museum de Seattle - foram forçados a devolver quadros que haviam sido roubados pelos nazis a judeus europeus ao longo da guerra e que nunca chegaram a ser devolvidos aos seus proprietários anteriores. Mas esta foi a primeira vez que uma instituição federal financiada com dinheiros públicos concordou em separar-se de uma obra de arte pilhada pelos nazis. Responsáveis da National Gallery afirmaram ter sido contactados no início deste ano pelos herdeiros de um proeminente coleccionar de arte judeu francês, Edgar Stern, que haviam identificado o quadro de Snyders no website da National Gallery (www.nga.gov). Os herdeiros conseguiram fornecer à galeria provas adicionais importantes relacionando este quadro com um outro que fora roubado à colecção da família Stern em Paris no início de 1941, pouco após a ocupação nazi.«Ambas as partes estão de acordo em que esta obra de arte foi roubada e agora os Sterns estão a fornecer à National Gallery uma lista de herdeiros, incluindo uma árvore genealógica», afirmou Hector Feliciano, um detective de arte internacional que trabalha com a família Stern e é autor de «The Lost Museum: The Nazi Conspiracy to Steal the World's Great Works of Art» («O Museu perdido: a conspiração nazi para roubar as grandes obras de arte mundiais»).Responsáveis da National Gallery afirmaram que queriam ter a certeza de que o quadro seria devolvido aos verdadeiros herdeiros. Segundo Feliciano, o quadro foi reivindicado por um grupo de quatro herdeiros liderado por Gerard, o neto de Edgar, que divide o seu tempo entre a França e a Suíça. A família Stern recusou ser entrevistada mas autorizou Feliciano a ser o seu porta-voz. A história da posse, ou da proveniência, do quadro de Snyders proporciona um vislumbre do negócio extremamente complexo da pesquisa de obras de arte pilhadas e da sua devolução aos legítimos proprietários. Ela foi meticulosamente conseguida durante os últimos dois anos como parte de um enorme esforço da National Gallery para verificar os 3175 quadros da sua colecção, incluindo 1600 que se encontravam na Europa entre 1933 e 1945 e poderiam ter passado pelas mãos dos nazis.Uma comissão do governo francês estimou recentemente que um total de 40.000 quadros e outros objectos de arte pilhados pelos nazis em França durante a Segunda Guerra Mundial continuam desaparecidos.Responsáveis da National Gallery afirmaram não fazer a mínima ideia da verdadeira história do quadro de Snyder quando, em 1990, aceitaram de Herman Shickman, um proeminente negociante de arte nova-iorquino, que fugira da Alemanha nazi para os Estados Unidos em 1938, o óleo como prenda de quinquagésimo aniversário.Exclusivo PÚBLICO/"Washigton Post"

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