Um "matador" chamado Pauleta
Não foi um jogo de sonho, mas o resultado sim: Portugal venceu por 2-0 na Holanda, numa partida em que Pauleta ganhou a sua carta de alforria, marcando um golo e dando outro a Sérgio Conceição.
A "Banheira" de Roterdão encheu-se num gesto quase ritual para ver a "laranja mecânica". Mas o jogo e a vitória foram de Portugal (0-2), que nem contou com as suas primeiras figuras em grande estilo (Figo e Rui Costa estiveram discretos). Mas Pauleta, Bino - que se estreou, como Meira, mas este nos últimos minutos - Sérgio Conceição e todos os defesas seguraram aquilo tudo. Portugal não atacou muito, limitou-se a aproveitar o que lhe foi dando a Holanda e conquistou três pontos que, se tivesse ganho à República da Irlanda no sábado, lhe garantiriam praticamente o primeiro lugar no grupo, nesta qualificação para o Mundial 2002. Dois "onzes" bem diferentes do que se esperava, sobretudo o holandês, que tinha apenas seis jogadores no banco, dadas as lesões de Van Bronckhorst e de Ronald de Boer. E esta Holanda era, assim, uma equipa muito remendada, com muitos nomes pouco conhecidos: Melchiot a lateral-direito, Frank de Boer e Cocu a centrais, Reiziger do lado esquerdo, Van Bommel e Davids no meio-campo, com Seedorf pela frente e Overmars à direita, Bouma à esquerda e Kluivert como ponta-de-lança.António Oliveira tinha menos por onde mexer, mas Secretário foi naturalmente defesa-direito, Bino foi segundo "trinco", marcando Seedorf, mas também com um olho em Kluivert, que era vigiado por Fernando Couto, enquanto Vidigal se ocupava de Davids. Pauleta acabou por jogar de início e foi fundamental, com três homens por perto - Figo na direita, Rui Costa no meio e Sérgio Conceição na esquerda. Mas Figo, Pauleta e Sérgio Conceição rodavam muito.O jogo começou cheio de respeito mútuo, com muitos atrasos ao guarda-redes. Os holandeses apareciam mais, sobretudo pela acção de Kluivert e Seedorf, mas rapidamente se viu que Melchiot, Van Bommel, Reiziger e Bouma tinham muita dificuldade para entender o futebol dos outros. E Cocu na defesa era um homem a menos, enquanto Overmars está longe da sua melhor forma. O melhor que a Holanda conseguia era uns cantos - 6-0 na primeira parte - mas Portugal teve sorte e na sua primeira jogada fez golo: Figo veio ao meio, deu a Pauleta na esquerda (Sérgio Conceição foi para a meia-direita) e um apito da bancada fez os holandeses parar. Pauleta ficou com a bola, virou-se e correspondeu à desmarcação em diagonal de Sérgio Conceição, que entrou no meio dos centrais, dominou a bola e chutou de pé esquerdo e Van der Sar ainda tocou na bola, mas não conseguiu evitar o trajecto para a baliza (9').A Holanda não reagiu ao golo, continuou no seu jogo de pouca profundidade e de esquemas simples. E só depois de Portugal ter construído outra oportunidade (na direita, Bino trocou a bola com Figo e cruzou, Pauleta estava na cara do guarda-redes, mas um pequeno toque de De Boer desviou a bola - era canto que o árbitro não viu) é que a Holanda teve a sua primeira jogada de golo: Reiziger rápido a descer pela esquerda e a cruzar para Kluivert cabecear para fora (36'). Portugal iria aproveitar a frouxidão e os erros holandeses ainda antes do intervalo: Reiziger a passar mal a bola e a atirar contra Pauleta, este depois ganhou o ressalto a Frank de Boer, Figo desmarcou-se na esquerda e De Boer acompanhou-o; Pauleta aguentou a bola e foi entrando na área, deixou Cocu cair e chutou colocado e sem hipóteses (44').Portugal tinha aproveitado os erros holandeses, mais até do que forçá-los. E o programa para a segunda parte foi, compreensivelmente, o mesmo. Overmars saiu para entrar Talan e nada mudou na Holanda, a não ser que a equipa tinha que correr mais riscos. E assim, aos 58', Portugal não fez o terceiro por pouco e Figo aos 66', num livre, obrigou Van Der Sar a grande defesa. Pelo meio, apenas um canto que deu uma grande confusão e Cocu atirou para fora em frente da baliza. E, como nada corria bem à Holanda, ainda se lesionou Kluivert, substituído por Hesselink (64').Portugal tinha o jogo controlado e a Holanda não tinha soluções - a última foi Bosvelt no lugar de Van Bommel. Portugal acabava com uma tranquilidade tal que parecia estar a jogar com a Estónia...