O exemplo de Moussambani
Agora que a poeira assentou e já é possível conversar sobre as Olimpíadas sem despertar paixões excessivas - e perigosas -, devo confessar que, para mim, o momento mais emocionante foi quando Eric Moussambani, da Guiné Equatorial, se lançou corajosamente à água numa piscina vazia e num estilo muito próprio (realmente livre) conseguiu percorrer cem metros em quase dois minutos. O primeiro classificado, um holandês cujo nome não merece ser citado nesta crónica, fez 48 segundos e 64 centésimos. A grandeza de Moussambani revela-se precisamente neste desprezo aos centésimos de segundo. Um segundo, sim senhor, ainda é uma medida humana. Mas só as máquinas, e máquinas muito sofisticadas, muito desumanizadas, conseguem medir centésimos de segundo. O atleta africano, naquele histórico mergulho para a derrota, propunha-se o impossível: devolver às Olimpíadas o seu rosto humano. Pouca gente reparou nisso.