Pentatlo moderno: uma modalidade em risco
O pentatlo continua nos Jogos Olímpicos, mas Portugal deixou de ter Manuel Barroso a representar a modalidade das cinco disciplinas. Com o veterano de fora, resta agora ao pentatlo nacional esperar por Atenas.
A contrariar aqueles que anunciavam a última participação do pentatlo moderno para Atlanta, a modalidade bateu o pé e mantém-se firme nos Jogos Olímpicos de Sydney. Ou talvez não. A verdade é que a ameaça de sair da competição olímpica continua a rondar a modalidade das cinco disciplinas, mesmo depois das alterações que tentaram tornar o espectáculo mais emocionante. Reduziu-se o tempo das provas de três para um dia, alterou-se o sistema de pontuação, mas, mesmo assim, há quem diga que o pentatlo moderno tem os dias contados como modalidade olímpica. Sendo os Jogos reconhecidos como o balão de oxigénio do pentatlo, muitos adivinham uma morte próxima para a modalidade. Vistas as coisas desta forma, Portugal pode muito bem ter perdido em Sydney a oportunidade de gastar os últimos cartuchos do pentatlo moderno nos Jogos Olímpicos. Depois de quatro anos consecutivos a representar o país no maior evento desportivo do mundo, Manuel Barroso fica este ano de fora. E se Barroso não vai a Sydney, o pentatlo nacional também não vai."Os atletas não são eternos. Mas não é drama nenhum não termos qualificado ninguém para Sydney, porque nós temos mantido um bom nível nas provas internacionais", garante José Paula Santos, o presidente da Federação Portuguesa de Pentatlo Moderno.Este ano, o contingente dos qualificados diminuiu de 32 para 24 atletas, mas nasceram novas esperanças para Portugal. Com o Comité Olímpico a aprovar a estreia feminina no pentatlo olímpico, Teresa Albuquerque, que conseguiu um surpreendente 25º lugar no Taça do Mundo, ainda esteve na corrida para os Jogos, mas deixou escapar, por pouco, a hipótese de representar o país em Sydney.Desgostos à parte, José Paula Santos garante que o pentatlo "soma e segue" em Portugal. Dizem os números da federação que os praticantes de pentatlo quadriplicaram nos últimos quatro anos - em 1996 eram 12O, hoje são 450 - e que já vai em meia dúzia o lote de pentatletas a conseguir os mínimos para irem às competições internacionais."Nestes últimos quatro anos, temos feito um grande esforço para diversificar os distritos em que se pratica o pentatlo moderno. Há um tempo atrás, só se praticava a modalidade em Lisboa, mas nós temos apoiado a abertura de vários novos núcleos", explica o presidente da federação.José Paula Santos quer encontrar novos valores para a modalidade e diz que já há quem siga as pisadas de Manuel Barroso. André Pereira, de 18 anos, e Carlos Campos, de 20, têm feito uma boa carreira lá fora e o presidente da federação está confiante no futuro. Mas nem tudo são rosas na modalidade das cinco disciplinas. Quem ouve falar atletas e treinadores depressa conclui que o problema do pentatlo continua o mesmo desde os últimos Jogos Olímpicos, há quatro anos. Falta o dinheiro para os apoios e para as infra-estruturas. As competições internas não chegam para preparar os atletas, as instalações são insuficientes e o pentatlo continua a não cativar as pessoas, principalmente por ser um desporto muito exigente. As queixas ouvem-se com frequência e a figura mais inconformada da modalidade em Portugal não poupa críticas à situação. "O cenário actual não é o mesmo de 1984, quando fui pela primeira vez aos Olímpicos, mas as coisas realmente não melhoraram muito", queixa-se Manuel Barroso, que está agora à frente da selecção nacional. "O pentatlo é um desporto com pouca expressão e vive numa extrema dependência de terceiros, como os apoios estatais, e esse facto limita o processo competitivo", explica a figura maior da modalidade em Portugal.Do outro lado, José Paula Santos reconhece as dificuldades, mas garante que a aposta da federação nos jovens vai dar frutos. Mas é preciso esperar mais algum tempo. "Os resultados só vão aparecer daqui a alguns anos, porque estamos a trabalhar sobretudo com os mais novos."