Portugueses esperam por Atenas
A luta portuguesa falhou a qualificação para Sydney. Entre lesões e algum azar, os atletas nacionais ficam à porta dos últimos Jogos Olímpicos do milénio, mas a federação garante que a modalidade nunca esteve tão bem.
Quando David Maia perdeu os dois primeiros encontros em Atlanta e foi eliminado, estava longe de imaginar que a luta nacional teria pela frente pelo menos oito anos fora do tapete olímpico. Na altura, o desaire foi contrariado pelo novo fôlego que movia a selecção nacional. O treinador cubano Raul Diaz, um nome sonante da luta que contava com 22 campeões do mundo no currículo, estava há quatro meses em Portugal e queria fazer uma revolução na modalidade.Sob o comando de Raul Diaz, poucos acreditavam que Portugal deixasse escapar a qualificação para os últimos Jogos Olímpicos do milénio, mas as lesões intrometeram-se e atrapalharam as pretensões nacionais. David Maia, o atleta que os mais optimistas viam como um possível candidato ao pódio em Sydney, desistiu do desafio em Janeiro à custa de uma lesão. A baixa fez mossa na comitiva portuguesa, mas Luís Fontes, Paulo Gonçalves e Hugo Paços também estavam na corrida e, assim, as esperanças nacionais resistiram por mais algum tempo.O sonho da luta portuguesa demorou pouco a cair por terra. A três pontos da qualificação, Luís Fontes foi o atleta que esteve mais próximo de Sydney, mas o domínio dos atletas do Leste na competição mundial repetiu-se, deixando pouco lugar para os países com menos tradições na modalidade. Resultado: a Rússia garantiu oito atletas em cada estilo (greco-romana e livre), Portugal não conseguiu apurar nenhum lutador. "Eu estou muito triste porque se trabalhou muito. Os atletas e os treinadores deram o seu melhor, mas sinto-me muito triste", confessa o presidente da Federação Portuguesa de Lutas Amadoras, Norberto Rodrigues. O caso não é para menos. Os resultados da luta portuguesa nos Jogos Olímpicos têm sido modestos, mas Portugal não falhava uma qualificação desde 1988.Apesar de Portugal ter deixado escapar o apuramento para Sydney, o presidente da FPAL garante que a luta portuguesa nunca esteve tão bem. Os números estão aí para o provar. José Marques, o lutador português que foi aos Olímpicos de 1988 e por lá deixou uma marca difícil de esquecer ao recusar-se a sair do tapete, levou a Seul uma modalidade ainda muito atrasada, com cerca de 1300 praticantes federados. Os últimos dados disponíveis, referentes a 1998, contam 2391 atletas inscritos. Nestes últimos anos, a única coisa que não mudou foi o nome dos problemas que mais afectam a modalidade. Sem dinheiro para manter a luta greco-romana e a luta livre, a federação teve de optar, há já algum tempo, por um dos estilos. Mas, escolhida a primeira, as dificuldades continuam a rondar a luta portuguesa."Os patrocinadores concentram-se em duas ou três modalidades mais populares. O associativismo está 'apertado' e, como as modalidades de combate não têm grande expressão, nós não temos patrocínios", queixa-se o presidente da FPAL, Norberto Rodrigues.Ainda assim, atletas, treinadores e federação concordam numa coisa: a luta portuguesa evoluiu muito desde 1988, data que iniciou a consecutiva presença portuguesa nos Olímpicos. Norberto Rodrigues chega a dividir a história da modalidade em Portugal em dois períodos - antes e depois de Raul Diaz - e garante que existem muitas diferenças entre elas. "Antes íamos com espírito de turista: participar já era bom. Quando o Raul chegou, tudo mudou", diz.Agora o lema da selecção é trabalhar, trabalhar e trabalhar. Apesar de os lutadores portugueses terem falhado a presença em Sydney, a preparação continua e os atletas treinam-se três vezes por dia para que a ausência deste ano não se repita."Temos uma nova fornada de atletas jovens que estão a trabalhar para serem candidatos a Atenas", garante o presidente da FPLA. Agora só em 2004 é que os atletas nacionais podem provar que estão aptos para os Jogos e a federação já só pensa nisso. Se as promessas portuguesas não se concretizarem, então serão mais quatro anos à espera.