Um fantasma "gay" em Itália

Já começa a gerar a aura de "filme acontecimento", também pelo conteúdo "sexualmente explícito". "O Fantasma", primeira longa-metragem de João Pedro Rodrigues, é exibido em competição em Veneza no dia em que se estreia em 10 salas italianas. Em Portugal, é lançado a 20 de Outubro.

Não é muito habitual, mesmo não pensando apenas nos filmes portugueses, uma primeira longa-metragem chegar a um festival internacional onde vai entrar em competição e ter já contrato de distribuição internacional assegurado para esse território. Mas é o que vai acontecer com "O Fantasma", de João Pedro Rodrigues, que no mesmo dia em que é apresentado em competição no Festival de Veneza, a 8 de Setembro, se estreia em 10 salas das principais cidades italianas.A estreia no formato longo do cineasta (que, recorde-se, em 1997 recebeu uma menção honrosa em Veneza com a curta-metragem "Parabéns") vai ser feita pela distribuidora Lucky Red, que viu o filme através de uma "cassete" e encontrou nele aquilo que a tem levado a distribuir, em Itália, filmes de Wong Kar-wai, Tsai Ming Liang, Atom Egoyan, Lars von Trier ou Thomas Vinterberg."Somos conhecidos por distribuir filmes interessantes de pequenas cinematografias ou de cineastas pouco conhecidos, mas distribuímos também filmes de cineastas americanos conhecidos", como é o caso de Robert Altman, explicou ao PÚBLICO Andrea Occhipinti, um dos responsáveis pela Lucky Red, que há 13 anos está em actividade. "O que interessa é considerarmos que é um filme forte. E que há uma maneira de ele comunicar com o público. O facto de 'O Fantasma' estar em competição em Veneza, onde há alguns anos fomos buscar um filme que entretanto se transformou em obra de culto, 'Vive L'Amour', de Tsai Ming-liang, e de ser um filme muito poderoso - sabemos que vai criar polémica, e já está a dar origem a uma série de rumores - vai dar-nos a possibilidade de promover o filme. Não estamos interessados no escândalo, mas no facto de a polémica poder criar um acontecimento."A que é que Occhipinti se refere? Basta ler na revista norte-americana "Variety", por exemplo, a peça sobre a programação de Veneza: a propósito de "O Fantasma" o carimbo "sexualmente explícito". "Como os críticos italianos vão receber o filme, não sei, alguns vão apreciá-lo pela sua dureza, outros vão rejeitá-lo, mas estou optimista", diz o distribuidor italiano. "Este é um país católico, e é um país fora de vulgar. Há muita hipocrisia. O cinema porno não causa problemas, mas um filme que não é porno mas tenha cenas de sexo explícitas pode ter problemas com a censura."O "fantasma" do porno, concretamente do porno "gay", paira, de facto, sobre "O Fantasma", que começa a exalar o perfume de "filme acontecimento". Ao seguir o percurso de um jovem "operário do lixo" em Lisboa, filma a "brutalidade do desejo", como diz o realizador, João Pedro Rodrigues, 33 anos. O desejo é também uma questão de figuração e "todo o filme se joga sobre as coisas que se vêem" - é o voyeurismo e os seus trabalhos sobre a avalanche das pulsões, sendo por aí que irrompe em "O Fantasma", e não sem alguma ironia, o dispositivo pornográfico. "Por isso", conclui o cineasta, "era preciso mostrar os actos, na sua crueza. Porquê não os mostrar?".Depois da exibição em Veneza, onde está em competição com outro filme português, "Palavra e Utopia", de Manoel de Oliveira, "O Fantasma", produção da Rosa Filmes, vai encerrar o Festival Gay e Lésbico de Lisboa, a 30 de Setembro, e a sua estreia nacional, a 20 de Outubro, vai ser o baptismo de "uma nova experiência de distribuição", segundo Amândio Coroado, o produtor. A partir de segunda-feira o site da produtora - rosafilmes.pt - vai lançar um concurso em que, mediante a revelação da sinopse do filme, escolherá as 10 melhores frases que poderiam servir de "teaser" de lançamento do filme.

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