Assaltantes detidos na quarta-feira
Os suspeitos dos assaltos a bombas de gasolina na CREL, na zona de Lisboa, foram anteontem detidos pela Polícia Judiciária em Loures. Depois de terem sido presentes a tribunal, apenas um dos elementos daquele "gang" vai aguardar julgamento em prisão preventiva, porque todos os outros são menores de 16 anos. Este é o segundo grupo a ser acusado dos assaltos na CREL, uma vez que a PSP detivera seis suspeitos na semana passada. Ontem, o Governo aprovou medidas contra a delinquência juvenil e a PSP montou uma vasta operação de caça a indivíduos de cor negra.
Os autores de quatro assaltos a bombas de gasolina nas imediações de Lisboa, de uma tentativa de violação e de um homicídio frustrado, actos praticados na madrugada do dia 20, foram anteontem detidos pela Polícia Judiciária em Loures. Dos sete suspeitos presentes ao tribunal, apenas um, com 16 anos, viu a prisão confirmada. Nenhum dos restantes tem idade para procedimento criminal. No entanto, o PÚBLICO sabe que a Judiciária desconfia da participação de um segundo elemento do grupo preso, que ainda não foi detido por ausência de provas cabais, e que os restante implicados já estão identificados, embora não tenham sido ainda detidos.Confirma-se assim, de acordo com fonte da Judiciária, que os jovens recentemente detidos pela PSP em Setúbal, sob a acusação de terem praticado esses delitos, não são os que efectivamente semearam o pânico na região de Lisboa. Isto, apesar de alguns deles terem mantido contactos com os que agora foram detidos em Loures. Esta mesma versão é agora defendida por Francisco Santos, comandante distrital da PSP de Setúbal, que garantiu ontem que, "pelo menos quatro elementos" do grupo de jovens detidos pelos seus agentes, estiveram de facto envolvidos naquelas ocorrências. Aquele responsável da PSP comentava assim a notícia da edição de ontem do PÚBLICO segundo a qual alguns dos jovens que foram detidos em Setúbal poderiam estar inocentes. Francisco Santos negou também que tivesse fornecido ao tribunal informações adicionais relativamente aos seis suspeitos dos assaltos a bombas de gasolina na zona de Lisboa e da tentativa de violação da actriz Lídia Franco, que terão sido fornecidas pela PJ. Em declarações à Lusa, o superintendente Francisco Santos reafirmou que "os seis elementos detidos são os principais suspeitos de vários tipos de crimes - assaltos a uma espingardaria de Aveiro e assaltos a bombas de gasolina". Refira-se que a actriz Lídia Franco, na identificação dos eventuais autores do assalto e tentativa de violação de que foi vítima, através de fotografias, não reconheceu nenhum dos jovens detidos. O que é certo é que uma directiva de Março da Procuradoria-Geral da República, após o assalto a uma bomba de gasolina na Arrifana, Feira, que culminou na morte do funcionário, determinava que "a PJ é a única entidade competente para a investigação a assaltos de bombas de gasolina". Fonte da PGR afirma, por estas razões, que a PSP de Setúbal deveria ter comunicado à PJ a detençaõ do grupo ainda antes de ser presente a um juiz. A descoordenação entre as forças policiais merece comentários críticos por parte de António Pires de Lima, bastonário da Ordem dos Advogados. Pires de Lima acha lamentável o equívoco em que os portugueses foram lançados a propósito da prisão dos primeiros suspeitos. "Já se passou o mesmo no caso da discoteca Luanda: quando as pessoas estão em desespero e querem mostrar algo a todo o custo, caem em comportamentos destes". Destes incidentes, continua o bastonário, "a imagem com que sai o comando da PSP também é terrível. Alguém tem de ter a culpa dos enganos e dos equívocos que levaram à insegurança sentida nos últimos tempos - e não podem ser os de baixo". Em relação às detenções de Setúbal, Pires de Lima considera que a PSP viu o seu trabalho coroado de êxito, uma vez que os detidos tinham praticado outros crimes graves. "O problema é que a PSP e a GNR não deviam actuar de forma isolada, mas sim sob a coordenação da Polícia Judiciária".António Costa, ministro da Justiça, tem uma opinião diferente: "Não há descoordenação, cada um tem o seu papel, que deve desempenhar" (ver noticário na página 4). Também o primeiro-ministro, António Guterres, desmentiu ontem que tenha havido descoordenação, corroborando o que sobre o assunto tinham afirmado pouco antes os ministros da Justiça e da Administração Interna, António Costa e Fernando Gomes. Guterres, que respondia a perguntas da imprensa no final da inauguração do serviço NetPost na estação dos correios do Estoril, disse que os dois referidos ministros já tinham esclarecido o assunto. A Polícia Judiciária e a PSP cumpriram o seu dever, no quadro de uma situação em que, "naturalmente, as decisões dos tribunais têm de ser cumpridas", afirmou.Por outro lado, segundo o PÚBLICO apurou os seis jovens detidos na passada segunda-feira, em Setúbal, por ordem do juiz António Moreira, do Tribunal de Oeiras, ainda não foram libertados. Pedro Oliveira Gomes, advogado de defesa de um dos suspeitos, afirmou, ontem ao final da manhã à saída daquele palácio da justiça, que tinha visitado no dia anterior os detidos e que "eles se encontravam bem atendendo às circunstâncias em que tinha sido presos preventivamente". Neste momento, entre detidos e suspeitos, pela alegada prática dos assaltos à mão armada a gasolineiras e tentativa de violação, há mais gente implicada do que o número de pessoas identificadas pelas vitima dos crimes cometidos na madrugada de 19 para 20 de Julho.