Torne-se perito

TV violenta afecta crianças

Pela primeira vez desde que existe televisão, um grupo de organizações de saúde estabeleceu uma relação inequívoca entre a violência das mensagens transmitidas pelos media e o aumento da agressividade entre os menores. É uma certeza que surge após 30 anos de pesquisa e que acaba com as dúvidas sobre o impacte dos efeitos da televisão nos mais pequenos.

Um senador norte-americano, Sam Brownback, disse ontem que a importância de estabelecer uma relação peremptória entre a televisão e a violência só é comparável ao momento em que se provou um paralelo entre o tabaco e o cancro. "Estamos perante um ponto de viragem. Já não há na comunidade profissional dúvidas nenhumas sobre isto. Pela primeira vez, quatro das mais prestigiadas associações médicas e psiquiátricas juntaram-se para afirmar categoricamente que a violência veiculada pela indústria do entretenimento tem um efeito directo nos nossos filhos". A emotividade do político norte-americano tem razão de ser. Até hoje, as certezas sobre o grau de influência da televisão, dos vídeos, da música e dos filmes nos telespectadores não eram muitas e, sobretudo, não eram consistentes. Desta vez, a Associação Americana dos Médicos, dos Pediatras e dos Psicólogos, para além da Academia de Psiquiatria Infantil e Adolescente juntaram-se para afirmar a uma só voz as suas certezas quanto à existência de uma relação directa entre o aumento da violência entre os menores de idade e os conteúdos transmitidos pelo audiovisual, designadamente a televisão, o vídeo e a música. E fizeram-no de forma taxativa.A declaração conjunta das quatro associações, ontem divulgada no âmbito de um debate sobre a violência na indústria do entretenimento, dizia que "a conclusão da comunidade de saúde pública, baseadas em mais de 30 anos de pesquisa, é de que consumir conteúdos violentos aumenta a agressividade nas atitudes, valores e comportamentos, particularmente nas crianças". Segundo o depoimento, os "efeitos são mensuráveis e duradouros" e têm ainda uma consequência suplementar: "o consumo prolongado de imagens violentas pode gerar distanciamento emocional em relação à violência no mundo real". "As crianças que estão expostas a muita violência nos media têm tendência a ver a violência como um meio efectivo de resolver conflitos e a achar que gestos violentos configuram um comportamento aceitável", continuam as associações na sua declaração conjunta. Para além do "alheamento emocional em relação à violência real", as crianças que consomem muita violência na televisão, por exemplo, "têm menos probabilidade de agir a favor da vítima de um acto violento", defende o comunicado. Finalmente, as associações norte-americanas concluem que "o visionamento da violência pode induzir em comportamentos violentos na vida real". Crianças precocemente expostas a programação violenta têm uma "tendência maior a assumir comportamentos agressivos mais tarde, do que crianças que não sofreram essa exposição", especificam.A forma definitiva como as associações traduziram as suas constatações levou os organismos representativos da indústria do entretenimento a reagir com cautela. "Não nos podemos pronunciar sobre algo que ainda não vimos", disse o porta-voz da Associação Nacional de Operadores de televisão. Menos hesitante, o senador Brownback espera que "os pais olhem para estas conclusões e percebam que têm que vigiar melhor os conteúdos que os filhos visionam, da mesma forma que vigiam a sua alimentação ou outros aspectos da sua saúde". O director de um organismo de monitorização da violência nos media, o "The Lion and Lamb Project", saudou a declaração conjunta das associações médicas dizendo: "Neste preciso momento a mensagem que se está a enviar para as crianças é de que a violência não tem problema, que faz parte da vida e que até pode ser divertida", disse. E frisou: "Estamos mesmo a usar a violência para fazer humor". Quanto ao envolvimento dos pais, não tem dúvidas: "Nós pensamos que os pais têm de controlar melhor o uso do controlo remoto".

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