Vida nova para a Fábrica das Massas

A Câmara de Sever do Vouga adquiriu em hasta pública a velha Fábrica de Massas do Vouga e agora quer devolver-lhe o brilho antigo. Uma Pousada da Juventude e um ninho de empresas são algumas das valências que a autarquia pretende instalar no edifício principal da fábrica, cuja traça vai ser respeitada. Enquanto espera pelo estudo que encomendou a um gabinete de técnicos, a câmara liderada por Manuel Soares já encetou diligências no sentido de conseguir financiamento para construção, a custos controlados, de habitações para jovens nas imediações da fábrica.

É impossível não dar por ela: em Paradela do Vouga, numa curva da estrada que conduz à sede do concelho de Sever do Vouga, ergue-se a imponente Fábrica das Massas. Já foi a principal fonte de emprego na região, mas hoje não passa de uma gigantesca ruína que resiste com dificuldade à passagem do tempo. Contrariando os que defendem a sua demolição e a construção no local de blocos de apartamentos, a Câmara de Sever do Vouga está apostada em devolver-lhe o brilho antigo. A autarquia já encomendou um estudo para a recuperação do edifício e tenciona instalar ali, entre outras coisas, uma Pousada da Juventude e um ninho de empresas. E, como espaço é coisa que não falta (só a fachada do imóvel de cinco pisos tem cerca de 200 metros de comprimento), vai ainda construir nas imediações habitações a custos controlados, destinadas a casais jovens. "Vamos requalificar aquele património e colocá-lo ao serviço dos interesses do concelho", promete Manuel Soares, presidente da edilidade.Criada na década de 30 pelo industrial Joaquim Martins, a Fábrica de Massas Vouga foi, durante muitos anos, um caso de sucesso. Começou como uma empresa quase artesanal, mas foi crescendo em tamanho e importância à medida que foi ganhando reputação nacional e internacional. Na altura em que ganhava prémios de qualidade internacionais e rivalizava com as massas italianas, a Massas Vouga chegou a empregar centenas de pessoas, recrutadas em concelhos dos distritos de Aveiro e Viseu. Porém, com o afastamento do seu fundador, a unidade entrou em declínio e acabou por encerrar de vez no início da década de 80. Aos poucos, a fábrica - situada a escassas centenas de metros do rio Vouga - foi-se transformando numa ruína, acabando por ser colocada em hasta pública há dois anos. O principal licitador foi um empresário que tinha planos para arrasar o edifício e construir depois blocos de apartamentos, mas a autarquia fez valer os seus interesses. Acabou por arrematar a estrutura e terrenos circundantes por 125 mil contos, uma verba à primeira vista irrisória, tendo em conta a área que foi à praça, mas um esforço financeiro significativo para uma autarquia com um orçamento anual de um milhão e duzentos mil contos. Segundo conta Manuel Soares, a câmara sempre teve a intenção de recuperar o edifício principal da fábrica, respeitando a traça original e mantendo de pé os enormes silos de betão que serviam para armazenar cereais. Neste contexto, encomendou um plano de recuperação da unidade a um gabinete de técnicos liderados pelo arquitecto Ventura da Cruz. Embora esteja aberta a sugestões para a ocupação daquele espaço, a autarquia pretende instalar no edifício principal uma Pousada da Juventude, sobrando ainda espaço para um eventual ninho de empresas ou uma área de exposições permanentes. Para a área circundante, já existem planos mais firmes: a autarquia vai avançar com a construção de habitações a custos controlados, destinadas à camada jovem da população, tendo já iniciado contactos no sentido de obter financiamento por parte do Instituto Nacional de Habitação.Manuel Soares acredita que a desejada pousada é um investimento vital para o desenvolvimento do turismo em Sever do Vouga e concelhos vizinhos. Aproveitando as condições naturais do concelho, atravessado por um dos trechos mais luxuriantes do Vouga, a edilidade tem apoiado activamente os desportos de aventura, como canoagem, rafting, rappel, BTT, escaladas ou orientação. Hoje é um dos locais do Norte do país mais procurados pelos amantes das actividades desportivas mais radicais e pelos pescadores de rio, como pode ser comprovado pela actividade de um punhado de "empresas de aventura". E embora tenham dado recentemente entrada na câmara três pedidos de licenciamento de residenciais, a oferta de alojamento continua a ser muito escassa. "A Pousada de Juventude seria a estrutura ideal para atrair cada vez mais turistas ao concelho", garante Soares.Os esforços nesse sentido desenvolvidos junto da Secretaria de Estado da Juventude não têm tido, no entanto, grande sucesso. Na versão do autarca, o secretário de Estado Miguel Fontes (e o seu antecessor, António José Seguro) teme que uma eventual pousada em Sever possa revelar-se um insucesso semelhante ao da vizinha Pousada de São Pedro do Sul, cuja taxa de ocupação é habitualmente muito baixa. "Isso não vai suceder aqui. As pessoas que procuram o sossego das termas de São Pedro não são as mesmas que vêm até Sever apreciar as belezas naturais, os vestígios arqueológicos ou participar em actividades desportivas", garante o edil. Manuel Soares avisa até que a autarquia está disposta a suportar sozinha os custos da pousada nos três primeiros anos de actividade. "A bola está do lado do Estado", remata.

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