Disposto a tudo
"Rapper", modelo de Calvin Klein e adolescente com problemas, Mark Wahlberg revelou-se um actor extraordinário em "Boogie Nights". Desde aí tem sido a subir: "The Perfect Storm" estreou-se nos EUA e vêm aí "Metal Gopd" e "O Planeta dos Macacos", de Tim Burton. Está disposto a tudo. Até a constituir família.
O que nos surpreende na estrela em ascensão Mark Wahlberg, é ele ser tão cordial. Pessoalmente, o actor, cara de bebé, 29 anos, é dono de uma voz suave - e com a mesma humildade e vulnerabilidade que transpôs para a personagem Dirk Diggler, estrela porno, em "Boogie Nights". Fica-se com a impressão de que, desde o seu aparecimento nesse filme, ele está a exorcizar demónios, aceitando papéis de personagens retorcidas em "The Yards", "Três Reis" e agora "The Perfect Storm", de Wolfgang Petersen. "As condições eram duras", diz, referindo-se aos papéis de um soldado no deserto ("Três Reis") e de um pescador cercado por uma tempestade ("The Perfect Storm"). "Mas depois de usar uma pila de borracha em 'Boogie Nights', tudo o resto é fácil."Tem um sentido de humor trocista e admite que isso só piorou com o convívio com George Clooney. Trabalharam juntos pela primeira vez em "Três Reis", após o qual a estrela de "Serviço de Urgência" teve uma palavra a dizer na escolha de Wahlberg para o elenco de "The Perfect Storm". Hoje, usa cabelo comprido e ondulado por causa do seu trabalho como estrela de heavy metal num filme produzido por Clooney, "Metal God" - para o ano vão trabalhar juntos em "Oceans Eleven", ao lado de Julia Roberts, Brad Pitt e Bruce Willis (também com Clooney como produtor).Cantor "rapper" de pouco talento, conhecido como Marky Mark, e modelo de roupa interior de Calvin Klein cujo corpo embelezou a Times Square de Nova Iorque, o sempre confiante Wahlberg era ambicioso e estava disposto a aguentar tudo desde o início. Em 1992 até publicou um livro de fotografias autobiográfico, irreverentemente dedicado ao seu pénis. Por isso surpreendeu toda a gente, incluindo ele próprio, que tenha revelado um notável talento na arte de representar - embora o papel em "Boogie Nights" não tenha sido obra do acaso. Ele conhece bem o submundo. Delinquente juvenil que espancou homens, como parte do "contrato" para cobrar empréstimos, Wahlberg já experimentou muitas coisas na vida, e isso é uma das coisas que Clooney aprecia nele."Dou ao George um pouco de credibilidade de rua", observa Wahlberg, com um sorriso malicioso. "Damo-nos muito bem, mas nunca saímos juntos. Passamos tanto tempo juntos que é um alívio estarmos longe um do outro. Trabalharmos juntos é compensador porque nos conhecemos bem e podemos ajudar-nos e a toda a gente à nossa volta. George ensinou-me a fazer isso, é um tipo extraordinário, capaz de alterar os seus planos para ser atencioso com toda a gente."Em "The Yards", Mark desempenha o papel de um jovem que, tal como lhe aconteceu, passou algum tempo na cadeia. Em "The Perfect Storm" desempenha um pescador que vive não muito longe de onde Wahlberg cresceu, em Dorchester, nos arredores de Boston. Wahlberg admite que faz "o que for preciso" para mergulhar a fundo nos papéis. Por exemplo, ultimamente, para estar em sintonia com a sua personagem de "Metal God", só tem ouvido heavy metal - de que não gosta. Para "The Perfect Storm", baseado no livro de Sebastian Junger, que conta um caso real, o naufrágio de um barco de pescadores, passou várias semanas na verdadeira aldeia piscatória de Massachusetts onde o foi integrado pela população local e pela família do homem (já falecido) que interpreta. "'The Perfect Storm' é um dos meus filmes preferidos, mas é difícil para mim ver-me na tela. Acho que Wolfgang Petersen fez justiça ao livro e às famílias dos pescadores que morreram. É tão emotivo, fiquei cilindrado quando vi o filme. Tem todos os ingredientes para ser um estrondoso êxito [e está a sê-lo], mas tem algo mais que vai resistir à passagem do tempo, e que é genuína emoção das pessoas reais."Wahlberg apanhou o bichinho de representar depois do seu primeiro papel em "Renaissance Man". Em seguida, entrou no "The Basketball Diaries", juntamente com o então pouco conhecido Leonardo DiCaprio. Vários filmes mais tarde, chegou "Boogie Nights", no papel de estrela porno bem apetrechada - personagem vagamente baseada no falecido John Holmes - e foi tão convincente como soldado em "Três Reis" que a mãe achou que ele devia assentar e constituir família. Claro que isso não vai acontecer tão depressa, mas as notícias dos jornais sensacionalistas mantêm-nos informados - mesmo que estejam errados. Esses jornais acusaram-no também de roubar Winona Ryder a Matt Damon. "Essa aldrabice também me deu que fazer", admite. "Matt não quer ser de Hollywood e ser estrela de cinema. Ele queria ter estado na cadeia para poder dizer que é um duro. Eu conheço-o - é um tipo porreiro. Infelizmente, há uma série de tipos em Hollywood que querem lixar as suas carreiras porque fazem questão de acreditar nas personagens que desempenham."Actualmente Wahlberg está a ser muito requisitado. Vai entrar em "Planet of the Apes" de Tim Burton. Mas é o seu papel de músico de heavy metal dos anos 80 que o obceca neste momento. "É uma espécie de permissão para enlouquecer", diz. "Posso sair e agir de um modo um bocado louco." Ele esteve em filmagens durante cinco meses, e a última cena, de um concerto que envolveu 30 mil figurantes, demorou três semanas a filmar. Interpreta o vocalista de uma banda, Steel Dragon, e ficou rouco depois de ter de cantar uma canção 50 vezes. Não podia, de forma nenhuma, manter o seu hábito de fumar."Trabalhei muitíssimo durante as filmagens de 'The Perfect Storm' e tinha de estar magro, mas mesmo assim tinha cinco quilos a mais do que o realizador queria que eu tivesse para 'Metal God'. Tive de deixar de fumar para poder cantar e ao mesmo tempo tinha de terminar 'The Perfect Storm', onde havia imensa gritaria. Estou sempre a dizer aos realizadores, 'Faço tudo o que me pedirem', mas nunca pensei que me pedissem para deixar de fumar e perder peso. Estou doido para acabar 'Metal God'. Tenho passado fome. Disseram que não havia estrelas de heavy metal musculosas nos anos 80, e que não havia calças de ganga elástica que me servissem. Portanto, perdi peso.""Metal God" não o fez ansiar pela sua antiga vida. "Sinto falta da liberdade de ser um músico. A gente aparece quando quer, continua quando quer, pode mudar o espectáculo. Mas os filmes deram-me a disciplina de que precisava nessa fase da minha vida."Um outro desejo que os bem-parecidos Wahlberg e Clooney obviamente partilham é caçar raparigas, e Wahlberg reconhece que ter o que há de melhor a esse nível é uma das vantagens da fama. No entanto, era tudo mais fácil no negócio da música. "Quando estamos em digressão, as raparigas andam sempre atrás de nós, mas quando estamos a filmar ou estamos no México ou no Arizona ou andamos por aí com um cabelo destes. Isso pode ser uma vantagem, de qualquer forma. Quando era mais novo, tinha primeiro de embebedar uma rapariga para ter sorte. E normalmente era a rapariga em quem mais ninguém estava interessado. Agora, espero poder apaixonar-me por alguém que me ame por todas as razões válidas e ter uma família feliz." Wahlberg, que admite ser perseguido pelo trauma do seu passado e do tempo que passou na prisão, raramente tem relações duradouras. Mas fala a sério quando diz que quer assentar. "Venho de uma família numerosa e para mim a família é tudo. O mais difícil naquilo que faço é que não gosto de estar afastado da minha família", diz. "E não ter grandes oportunidades de encontrar alguém", respira fundo, "que me ame por mim próprio."